Greve dos professores acaba depois de 58 dias
Greve dos professores acaba depois de 58 dias (Jornal Hoje, 27/09/2008)
Renato Rodrigues
Terminou ontem a greve da rede estadual de ensino após 58 dias de paralisação. A grande maioria dos trabalhadores da Educação que participaram da última assembléia geral realizada pelo Sindicato dos Trabalhadores da Educação de Goiás (Sintego) na manhã de ontem votou pelo fim do movimento. As aulas em todas as unidades de ensino de Goiânia e do interior do Estado recomeçam na próxima segunda-feira. A Secretaria de Estado da Educação (Seduc) prevê que os colégios que permaneceram sem aulas até o fim da greve só deverão concluir a reposição das aulas na primeira semana de março do ano que vem.
O presidente do Sintego, Domingos Pereira, informa que cerca de 90% dos trabalhadores votaram pelo término da greve. Ele diz que a categoria levou em consideração a condição dos alunos, que estavam sem aulas já há quase dois meses. “Vamos desenvolver um trabalho em conjunto com pais e alunos para que eles tenham a consciência das reivindicações da categoria”, diz. Outra medida que teve peso na decisão dos grevistas, segundo Domingos, foi o garantia dada pela Secretaria de Estado da Fazenda (Sefaz) de reajustar os salários já a partir de janeiro de 2009.
“O governo ainda não acenou de quanto será o percentual do reajuste, mas nós exigimos que seja cumprida a lei que estabelece o piso da categoria em 950 reais”, cobra o presidente do Sintego. Ele ressalta que o piso salarial definido pelo governo federal deverá ser cumprido a partir de janeiro para os professores com escolaridade de segundo grau incluindo o magistério. Domingos lembra que as demais reivindicações defendidas pelo sindicato durante a paralisação não foram acatadas pelo governo estadual.
Uma das reivindicações do Sintego após o anúncio do fim da greve é em relação ao corte de salário dos trabalhadores que não retomaram as atividades após o movimento ser considerado ilegal pela Justiça. “Se o governo não pagar os salários irá decretar a fome em milhares de lares goianos, tanto para os trabalhadores da educação quanto para suas famílias”, afirma. O presidente prevê que caso os professores não recebam seus vencimentos eles poderão não cumprir o calendário de reposição. Domingos avalia como positivo o resultado do movimento, que, para ele, serviu para divulgar para todos os goianos a “triste realidade da educação em Goiás”.
Entre as reivindicações pleiteadas pelo sindicado durante os quase dois meses de paralisação está a reposição salarial, que acumulou nos últimos três anos um percentual de 23,05%. Outra queixa do sindicato junto à Seduc é quanto à reforma das escolas que estão com problemas de infra-estrutura. Somente em Goiânia são 23 unidades de ensino sem condições de receber os estudantes, com instalações elétricas e hidráulicas expostas e infiltrações e rachaduras por toda parte. No ano passado várias inspeções foram realizadas por representantes do Ministério Público Estadual (MP), Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia do Estado de Goiás (Crea-GO), Vigilância Sanitária e Corpo de Bombeiros. O levantamento listou as unidades que necessitam de reparos emergenciais.
A secretária de Educação, Milca Severino, afirma que o retorno às aulas era necessário para que os alunos não fossem ainda mais prejudicados. Ela explica que as unidades que aderiram à paralisação até o final deixaram de oferecer 42 dias letivos. Para estas, a previsão da Seduc é que o calendário de reposição deste ano seja concluído na primeira semana de março de 2009. “Serão 20 dias letivos em janeiro, 17 em fevereiro e cinco em março”, acrescenta. A secretária ressalta que para as unidades de ensino que não aderiram ao movimento o calendário de 2008 será concluído ainda em dezembro e o começo do ano letivo de 2009 terá início no dia 26 de janeiro.
Milca Severino informa ainda que para as escolas que terão aulas até março será planejado um calendário escolar paralelo para o próximo ano e descartou a possibilidade de interferência da greve nas férias escolares de julho de 2009. Ela confirma que ficou acertado um reajuste salarial para a categoria já a partir de janeiro, mas diz que o percentual ainda não foi estipulado pela Secretaria de Estado da Fazenda (Sefaz). A secretária avalia como negativa a greve e considera que este tipo de movimento é “arcaico e ultrapassado”. “Se greve resolvesse os problemas da educação os professores seriam a categoria melhor remunerada do Brasil”, critica. Ela lembra que também é professora e defende que todos, inclusive ela, devem encontrar novas metodologias para garantir as reivindicações da categoria.
PARALISAÇÃO FAZ ALUNO DESISTIR DE VESTIBULAR
O estudante Adail Gomes de Lima Neto, 17 anos, cursa o 3° ano do ensino médio no Colégio Estadual Nova Cidade, no Setor Nova Cidade, em Aparecida de Goiânia. Desanimado com a falta de aulas desde o início do segundo semestre, o jovem desistiu de prestar o vestibular da Universidade Federal de Goiás (UFG), que já abriu as inscrições. Ele iria disputar uma vaga para o curso de Engenharia Elétrica. “Vestibular agora só no final de 2009”, prevê. Adail diz estar insatisfeito com os prejuízos causados pela greve, pois terá que espera um ano para tentar conquistar uma vaga em uma universidade pública.
O vestibulando pretende fazer um curso pré-vestibular após concluir o calendário de reposição. Adail afirma que é a segunda vez que é prejudicado por uma paralisação. “Da primeira eu fiquei sem férias e agora a greve me fez perder o vestibular”, reclama. O estudante considera justas as reivindicações dos professores e defende que eles tenham melhores salários e condições de trabalho. Ele também se queixa das condições físicas do Colégio Estadual Nova Cidade e avalia que a unidade precisa de reforma urgente na infra-estrutura. “Falta maior atenção do governo para a educação pública, a culpa não é dos professores”, diz.