Maconha prejudica o cérebro

Maconha prejudica o cérebro (Diário da Manhã, 06/10/2008)

Alfredo Mergulhão
da editoria de Cidades

Júlio (nome fictício) tem problemas com esquecimento. Aos 16 anos, fumou o primeiro cigarro de maconha. Dois anos depois, usava droga diariamente. Hoje, não consegue lembrar do que estava falando. “Às vezes, durante uma conversa importante, paro e fico calado. Simplesmente não lembro o assunto”, disse.

O vendedor usava substância psicotrópica antes de ir trabalhar e chegou a ser demitido por não conseguir se relacionar com clientes. Aos 28 anos, o período máximo de abstinência foi de 1 mês. E ele não pensa em parar. “Pretendo fumar somente à noite, quando encontrar os amigos”, disse, motivado pelo novo emprego que conseguiu.

Júlio pode ser enquadrado no perfil pesquisado em trabalho do Departamento de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). O estudo apontou impacto acentuado da droga no cérebro de menores de 17 anos comparados aos usuários que começaram a fumar depois dessa idade.

Prejuízos
Pessoas que iniciam uso da maconha na adolescência apresentam mais prejuízos cognitivos. A tese foi comprovada nos testes realizados com 128 indivíduos dependentes ou que cometeram abuso da maconha e com outros 32 não usuários da substância.

Foram aplicados exercícios específicos para avaliação das funções executivas cerebrais e verificou-se que usuários da droga levaram maior tempo para execução. Adolescentes que iniciaram uso precocemente completaram menor número de categorias e erraram mais.

Entre os próprios usuários também foi observada diferença de desempenho. Os não-abstinentes tiveram resultados inferiores em comparação aos que estavam sem usar substância psicotrópica nos períodos de uma semana. Na comparação com não usuários, todos apresentaram resultados inferiores.

Consumo
Também foi analisada relação entre número de cigarros de maconha consumidos ao longo da vida e prejuízos neuropsicológicos. Pessoas que fumaram mais de 5 mil baseados, equivalente a pelo menos um episódio diário durante 13 anos, tiveram dificuldades para solucionar problemas e criar estratégias.

“Além do déficit cognitivo, está comprovado que a maconha causa alteração na coordenação motora, perda da percepção do tempo e espaço e de neurônios do hipocampo, região cerebral relacionada à memória”, afirmou Tânia Ferreira, professora aposentada de Farmacologia da Universidade Federal de Goiás (UFG).

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Barato que sai caro
Conclusões da pesquisa da Unifesp
Desde a primeira vez, quantos dias usou maconha?

  • Mais que 1 ano – 34,45%
  • De 3 meses a 1 ano – 6,86%
  • De 12 dias a 3 meses – 15,47%
  • De 3 a 11 dias – 12,85%
  • De 1 a 2 dias – 30,36%
  • Total geral – 100,00%

    Faz quanto tempo que usou maconha pela última vez?
  • Na última semana – 16,06%
  • No último mês – 6,28%
  • Entre 1 mês e 1 ano – 8,47%
  • De 1 a 3 anos – 12,26%
  • Mais que 3 anos – 56,93%
  • Total geral – 100,00%

    No último ano, qual a freqüência de uso da maconha?
  • Todos os dias – 13,53%
  • 5 a 6 dias/semana – 4,83%
  • 3 a 4 dias/semana – 13,53%
  • 1 a 2 dias/semana – 26,09%
  • 3 a 4 dias/mês – 7,25%
  • 1 a 2 dias/mês – 11,11%
  • Menos que 1 vez/mês – 23,67%
  • Total geral – 100,00%

    Fonte: Observatório Brasileiro de Informações Sobre Drogas (Obid) – Dados de 2005