Eletrônicos substituem brincadeira ao ar livre

Eletrônicos substituem brincadeira ao ar livre (Jornal Hoje, 07/10/2008)

Ficou para trás o tempo em que os pequenos queriam ganhar brinquedo no Dia das Crianças. Hoje, o que eles querem mesmo é videogame, celular e MP3. É o que revela levantamento realizado pelo Centro de Estudos e Pesquisas de Relações Públicas (Cepe) da Universidade Federal de Goiás (UFG), que entrevistou 350 crianças de 9 a 12 anos. Os eletrônicos foram os mais citados na pesquisa divulgada ontem, com 75,2% da preferência, enquanto 63% preferem ganhar dinheiro. Somente 37,8% citaram brinquedo.

Perguntadas sobre o que mais gostam fora da escola, 62,3% afirmaram usar o computador, 54,6%, brincar com amigos e 51,3%, ver TV. Quando navegam na internet, 34,9% das crianças acessam o site de relacionamentos Orkut, 33,3% usam o MSN, programa de conversação online, e 31,9% gostam de jogos online.

João Marcos Cunha Carvalho, 11, já sabe o que quer ganhar no Dia das Crianças: um videogame Play Station 2. Quando chega da escola, o garoto também se diverte na internet, onde navega em páginas de jogos, Orkut e MSN. Mas diz que não abre mão de jogar futebol com os amigos. Mesmo assim, a mãe Sarah Alves Cunha, professora, 43, controla o horário que ele passa na internet e não permite jogos violentos.

As crianças também se mostraram vaidosas: 62,2% afirmam que gostam de se arrumar sempre antes de sair de casa. Sarah observa que a infância hoje é muito diferente da sua. É o filho que escolhe o que vestir. “Antigamente, meu pai mandava fazer roupas para mim e minhas irmãs com o mesmo tecido. Não tínhamos escolha”, lembra. Para Sarah, as crianças de antes tinham mais respeito com os adultos. “Eu nunca discuti com meu pai. O João Marcos tem sempre um argumento, questiona e justifica tudo.”

O professor Tiago Mainieri, doutor em Comunicação e coordenador da pesquisa, observa que, nessa faixa etária, as crianças estão muito precocemente conectadas no universo da tecnologia, como celular e computador.

Ele ressalta que os pequenos também já têm noção do dinheiro. A pesquisa mostra que, entre aqueles que recebem mesada, a maioria guarda o dinheiro. Para Tiago, esse dado reforça que elas querem que prevaleçam seus gostos e vontades, pois assim têm o poder de decidir o que comprar. Em comparação com outras gerações, nota-se que as crianças não tinham essa autonomia. O estudo conclui ainda que, apesar de usarem precocemente aparelhos eletrônicos e se preocupar com a aparência, os pequenos percebem que, de fato, são crianças.