Jornalismo perde Juvenal de Barros

Jornalismo perde Juvenal de Barros (Diário da Manhã, 13/10/2008)

“A voz e a alegria eram sua marca registrada.” A frase, dita pelo jornalista Jávier Godinho, é consenso entre amigos e familiares do radiojornalista Juvenal de Barros, que dedicou grande parte de seus 88 anos à comunicação. Juvenal faleceu sábado, vítima de falência múltipla dos órgãos, no Hospital Santa Genoveva, onde estava internado há mais de uma semana. O sepultamento será às 10 horas de hoje. Nome expressivo do jornalismo goiano, não se limitava ao microfone dos estúdios de rádio. Juvenal se aventurou como cantor, passou pela publicidade, foi relações públicas e encerrou sua carreira há 5 anos, como mestre-de-cerimônias da Assembléia Legislativa. Após sua aposentadoria, não admitia o ócio, e dava palestras sobre radiojornalismo na Universidade Federal de Goiás.

Ícone do rádio, Juvenal de Barros começou sua carreira em Bauru, interior de São Paulo, e na década de 40 mudou-se para Anápolis, onde fundou a Rádio Karajá. Na cidade, foi delegado de polícia e tentou a política, lançando-se candidato a vereador. Pioneiro na apresentação de programas de variedades, recebeu em seu estúdio cantores de expressão nacional, como Ângela Maria e o pernambucano Nelson Rodrigues.

Mudou-se para Goiânia, onde trabalhou na Rádio Clube, TV Anhanguera e TV Brasil Central. Dirigiu também a Agência Cannes Publicidade. Para os amigos, era um agregador. Quem o conheceu registra sua simpatia como marca principal. “Convivi com ele de 1972 até meados da década de 80. Mesmo sem sermos muito próximos, Juvenal manteve-se sempre afável”, relembra o economista Reinaldo Fonseca, que “esbarrava” com Juvenal em cerimoniais. “Era alegre, conversador e, acima de tudo, um homem muito espirituoso”, ressalta Jávier Godinho.

Juvenal deixa dois filhos: Wagner de Barros e Silvio César de Barros. Durante os anos devotados à comunicação, conquistou seu lugar lado a lado da história do jornalismo goiano. “Meu pai sabia tudo sobre o jornalismo goiano. Pena que não tenha escrito um livro”, lamenta Wagner.

No velório, várias coroas em sua homenagem. Uma delas dizia: “A imprensa goiana perdeu uma de suas melhores páginas.” Juvenal não escreveu um livro, mas foi personagem marcante de uma história maior.

testemunha
Personalidade da história de Goiás, Juvenal presenciou a Intervenção Federal de 1964 no Estado, quando a Praça Cívica foi palco de momentos de grande tensão, com a movimentação de tropas e tanques Sherman pela cidade. Na praça, o som da multidão misturava-se ao dos aviões da Força Aérea Brasileira. Naquele dia foi cumprido o Decreto de Intervenção em Goiás, assinado pelo presidente Castello Branco, nomeando interventor Meira Mattos no lugar de Mauro Borges – acusado de manter governo com tendência comunista.