Só Código Florestal não protege Cerrado, diz ONG
Só Código Florestal não protege Cerrado, diz ONG (Diário da Manhã, 16/10/2008)
Da Agência Estado, de São Paulo
Se a proteção do Cerrado ficar a cargo somente  do cumprimento do Código Florestal, cerca de 25% das espécies do bioma estarão  ameaçadas de extinção. A conclusão é de um estudo divulgado esta semana pela ONG  Conservação Internacional (CI).
O Código Florestal prevê que as  propriedades privadas existentes no bioma mantenham pelo menos 20% de sua área  com mata nativa – a chamada reserva legal. Mas, pelos cálculos da CI, mesmo que  todos os proprietários rurais cumpram a regra, preservar somente esses trechos  não será suficiente para proteger as espécies.
Segundo os autores do  trabalho, a área total protegida no Cerrado precisa aumentar, seja com reservas  públicas ou privadas, para que as espécies tenham espaço para se desenvolver.  “Faz dois anos que não é criada nenhuma unidade de conservação no Cerrado. Só  2,7% de seu território é protegido por áreas de proteção integral. Se isso não  aumentar, não dá para falar em conservação”, afirma Mario Barroso, gerente do  programa Cerrado Pantanal da ONG e um dos autores do estudo.
O  pesquisador alerta que, se sobrarem somente os 20% das reservas legais, pode  ocorrer um evento semelhante ao observado na Mata Atlântica, em que a  fragmentação da floresta dificulta, entre outras coisas, a ocorrência de animais  de grande porte e a polinização.
O Cerrado é uma das savanas mais ricas  do mundo – estima-se que a região compreenda cerca de 5% de toda a  biodiversidade do planeta. E boa parte dessas espécies desempenha um importante  papel na manutenção do clima, na proteção dos solos, dos rios e de suas  nascentes e na polinização.
Segundo Barroso, as espécies de distribuição  mais restrita ou endêmicas (exclusivas de um local) estão entre as mais  vulneráveis. Só entre os vertebrados, cerca de 340 animais estão nessas  condições.
Um exemplo dessa relação entre desmatamento e riscos à  biodiversidade pode ser observado na lista, recém-divulgada, de espécies  ameaçadas de extinção do Estado de São Paulo. Entre as mais comprometidas estão  aquelas que dependiam dos campos cerrados e perderam seu hábitat com a  devastação dessas áreas nos últimos anos.
AGRONEGÓCIO
De acordo com o  pesquisador, a maior ameaça ao bioma é hoje conseqüência da expansão da  cana-de-açúcar por áreas onde antes se plantava soja e milho. Essas culturas  agora estão subindo em direção ao Piauí, Maranhão, Tocantins e oeste da Bahia,  justamente onde estão os remanescentes do Cerrado. Segundo cálculos da CI com a  Universidade Federal de Goiás, desde a década de 1970, foram destruídos de 40% a  45% do bioma.
“A gente entende a vocação do Cerrado para o agronegócio.  Sabemos que é estratégico para o País, mas seu crescimento precisa garantir que  as fontes de água e que a biodiversidade e seus processos ecológicos sejam  mantidos”, diz Barroso. 
