São mais sujeitas a estigmas e violência

“São mais sujeitas a estigmas e violência” (Diário da Manhã, 20/10/2008)

Diogo Luz
Da Editoria de Política & Justiça

Cerca de 200 garotas de programa trabalham nos arredores do Terminal do Dergo, no Setor Rodoviário, nos turnos matutino, vespertino e noturno. São profissionais que fogem ao padrão difundido ultimamente da prostituta glamorizada, de fino trato, bem vestida, cuidada e que servem a executivos. “Elas pertencem a outra categoria, das que concebem o corpo de forma utilitarista. São literalmente profissionais do sexo e estão mais sujeitas a estigmas e violência”, afirma o sociólogo Rogério Araújo da Silva, que fez pesquisa de mestrado no local pelo Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de Goiás (UFG). Trabalho deu origem ao livro Prostituição: artes e manhas do ofício (Editoras Cânone e UFG, 148 páginas, R$ 25).

Metade delas tem acima de 31 anos, idade considerada avançada para atuar no ramo, sobretudo quando não tem recursos para manter o corpo com aparência jovem. Em 2003, mulher de 63 anos foi encontrada durante as pesquisas se prostituindo nas ruas do Rodoviário. Ela fazia programas há mais de 30 anos.

Segundo o estudo, o cotidiano dessas mulheres não difere em relação ao das demais. A maioria são mães, filhas, possuem companheiros e participam de atividades familiares. Desempenham papéis sociais comuns a qualquer pessoa. A única diferença é a modalidade de trabalho. Ofício com peso moral, que gera preconceito. Por isso, escondem a própria identidade social. Omitem quem são para família, amigos, vizinhos.

Acostumadas com a violência, criam mecanismos de defesa. Fazem leitura dos clientes e aprendem a lidar com todos tipos de situação adversa. Não ficam com homens embriagados e evitam sair dos arredores dos pontos de prostituição. Geralmente fazem programas nos dormitórios da região.

As que mantêm relacionamento estável também sofrem com práticas violentas dos companheiros. E da polícia, que muitas vezes é truculenta, de acordo com os relatos. “A prostituição diminuiu no local, principalmente por pressão do comércio que cresceu na região”, diz o pesquisador.