Facetas de um encontro
Facetas de um encontro (Diário da Manhã, 20/10/2008)
Loisse Rodrigues
Da editoria de Cidades
Sete dias após o encerramento do IV encontro de Corais da Cidade de Goiás Darcília Amorim, divago sobre as faces vistas no meio de tanta música, poesia e teatro. Ouvir durante quatro dias cerca de 600 vozes, entoando sonoridade tão agradável, foi simplesmente indescritível para mim que acompanhei cada detalhe, cada engrenagem sendo montada para a realização do encontro.
Tão (apelido do amável regente do Coral Solo e organizador do evento), acolheu-nos em sua casa durante os quatro dias, fazendo-nos sentir como se fosse nossa. Mesmo sem que ele pronunciasse ‘’Mi casa es su casa’’, sentimo-nos donos do recinto, e ainda tivemos o privilégio de observar de perto os bastidores.
A abertura realizada pelos alunos da Universidade Federal de Goiás, ao som do mestre Bach, deu-nos singela amostra do que viria pela frente. Corais de todos os estilos, gostos e detalhe: nem todos eram profissionais, mostraram ao público o melhor da música a quatro vozes.
Passeamos de Thomas Morley, Bach, Vivaldi, Mozart, Saint-Säens a Vandré, Vinícius de Moraes, Jobim, Chico Buarque e muitos outros ilustres amantes da boa música, não apenas brasileiros.
Acompanhamos a mistura do teatro com o canto, vendo o desvelo de coristas ao interpretar e movimentar no palco, com tamanha fluidez, que se fossemos insensíveis e ignorantes, teríamos afirmado, de pés juntos, que não cantavam e sim usavam o playback. O que de fato não aconteceu, porque muitos corais cantaram ao ar livre.
A partir de projetos como esse, vemos o quanto a música é parte fundamental do ser humano. Dependendo da sensibilidade, o simples e às vezes incômodo ruído de um ar condicionado pode sugerir uma melodia (afirmo isso com veemência porque meu irmão é capaz de criar músicas partindo de sons mais improváveis, como ruídos de armários, carro com o motor defeituoso e outros mais surpreendentes).
Em diversos pontos da cidade de Goiás, os corais passaram. Teatro São Joaquim, Igreja do Rosário, Catedral, Museu das Bandeiras, Centro Espírita Chico Xavier, Coreto e Igreja São Francisco. Mesmo com o forte calor, e mesmo quando os espetáculos ultrapassaram duas horas e meia, o público marcou presença, lotando cada lugar por onde a música caminhava.
E falando em faceta, comento que um acontecimento marcou o encontro: no sábado, na apresentação na Catedral, o Coral Solo realizou uma surpresa: vestindo os membros do Coral Vida e Luz, de Goiânia, de farricocos, representaram a procissão do fogaréu, com direito a tochas e a interpretação (sem dúvida, magnífica) de Ana Rita Ludovico, com o papel de Verônica. Posso afirmar que no momento em que soou a matraca e os farricocos entraram na Catedral carregando a bandeira com a imagem do Cristo, cada um ali presente sentiu o peso do significativo silêncio que tomou conta do recinto, que só foi quebrado com as batidas do tambor.
Com todas as letras, o IV encontro foi um verdadeiro espetáculo de canto, poesia e teatro. Cada vez que os corais passam por Goiás, a cidade não fica mais a mesma. Em quatro dias, fica ainda mais encantadora. Se quiser conferir, ano que vem tem mais: de 9 a 12 de outubro, mais faces e sons iluminarão o patrimônio histórico da humanidade.
Loisse Rodrigues é aluna de Psicologia, repórter do Diário da Manhã e, juntamente com o fotógrafo do jornal Renato Conde, fez a cobertura do IV Encontro de Corais da Cidade de Goiás