Música em construção

Música em construção (Tribuna do Planalto, 31/10/2008)

Wideglan dos Santos Silva, 12 anos, era um adolescente calado, que não conseguia se comunicar com os outros alunos da Escola Municipal Renascer. Atualmente, ele ri com freqüência e vive rodeado de amigos, conforme destaca a professora de música Helen Cláudia Dias. Helen afirma que ele não conseguia interagir com ninguém, mas a música transformou sua vida e suas relações dentro da instituição, assim como melhorou sua auto-estima. Wideglan comenta que a música ajudou a modificar sua visão de mundo. "Eu não gostava de estudar, mas agora penso no futuro e acho que sou importante para muitas pessoas", explica.

Na Escola Municipal Renascer, que abriga crianças oriundas da periferia de Goiânia, é possível aplaudir vários talentos-mirins. As crianças descobriram a música como uma porta aberta para o prazer e novos aprendizados. São 70 alunos que participam de oficinas, em que aprendem violão, flauta e canto. Em breve, os educandos terão também a oportunidade de conhecer o violino.

Inclusão
Jonas Mendes de Souza e Anderson de Melo Silva eram parceiros de indisciplina na escola, hoje formam uma dupla de cantores que almeja um futuro de sucesso na música popular brasileira. Anderson relata que desde os 2 anos já gostava de música. O professor de violão, Paulo César de Sousa, destaca o desempenho desses alunos em outras áreas a partir da iniciação musical. "Houve incentivo à criatividade e o despertar da sensibilidade quando entraram em contato com a educação musical. Para ler partitura ou letras de música, tiveram maior interesse pelas aulas de português". Segundo o professor, os alunos-cantores melhoraram também em relação ao desempenho na expressão escrita e oral, bem como no raciocínio lógico-matemático. "Inclusive a auto-estima deles foi reforçada", conta Paulo César. O diretor da escola, Cairo Ronaldo de Sousa, afirma que vários alunos têm procurado as aulas de música, motivados a tocar um instrumento ao  verem os colegas tocando. O diretor acrescenta que já é possível avaliar um refinamento no gosto musical dos alunos.

Formação Musical
Uma platéia atenta, disciplinada, silenciosa e contemplativa. É assim que o maestro Júlio Melo avalia os ouvintes do coral que ele comanda na Rede Municipal de Educação, conhecido como Coral Vozes em Canto. "Os alunos que vêem as apresentações do coral nas escolas em que vamos mostrar nosso trabalho despertam para a boa música". Ele ressalta que a música proporciona, tanto para aqueles que a executam como aos ouvintes, um aflorar da sensibilidade.

A professora de Artes da Universidade Católica de Goiás (UCG), Maria Aparecida Guimarães reforça a opinião do maestro e define a importância da música na formação global infantil. Segundo ela, o papel da música é fundamental no processo de aprendizagem da criança, contribuindo para o desenvolvimento dos laços afetivos, da acuidade sonora, do ritmo, da atenção e da criatividade, enfim é significativa para as potencialidades física, mental, social e emocional.

De acordo com a lei 11.769, aprovada em agosto pelo Congresso Nacional e pelo presidente da República, todas as escolas deverão oferecer obrigatoriamente o ensino de música para os alunos da educação básica. As instituições têm três anos a partir da publicação da lei para se adaptarem. Em muitas escolas da Rede Municipal de Educação de Goiânia isso já acontece. Coordenadora do curso de Educação Musical da Universidade Federal de Goiás (UFG), a professora Flávia Maria Cruvinel explica que há uma carga-horária de 400 horas que capacitam os futuros professores de música a ministrarem a disciplina na escola. Flávia assegura que todos podem aprender música ou um instrumento musical e que os profissionais dessa área devem atuar na escola para desenvolver o potencial musical dos alunos. "A música é revolucionária", enfatiza.