A ciência moderna, os maias e eu

 

A ciência moderna, os maias e eu (09/11/2008)

Célia Maria Ribeiro
Célia Maria Ribeiro é socióloga, mestre em Ciências Sociais, especialista em Psicologia transpessoal e professora aposentada da Universidade Federal de Goiás cmribeiro@cultura.com.br

Não existe hoje um único adulto, ou pelo menos leitor de jornal, navegador da internet, que não saiba o que diz a ciência moderna acerca dos riscos para a sobrevivência de nosso planeta caso não assumamos imediatamente atitudes significativas para reverter o quadro de destruição da natureza, criado por nós. Segundo esta perspectiva se não houver uma reversão considerável deste quadro, nosso planeta não sobreviverá a este processo, esgotando seus recursos em aproximadamente cinqüenta anos. Isto significaria, é claro, o fim desta civilização.
Antes de comentar as previsões maias sobre o possível fim desta civilização, gostaria de esclarecer porque estou me referindo à ciência feita atualmente como ciência moderna se o mais adequado seria chamá-la de ciência contemporânea. A razão para tal designação deve-se ao fato de que a ciência dominante nos dias de hoje ainda é a ciência criada na modernidade, cartesiana, positivista. Ou melhor, com honrosas exceções, a ciência feita em nossos dias, e que traduz hegemonicamente o que é considerado a verdade, não transcendeu os pressupostos básicos da modernidade, não é ainda uma ciência contemporânea.
Agora sim, feito este esclarecimento, posso comentar as previsões maias para o fim desta nossa civilização. Segundo os povos maias, não só nosso planeta, mas todo o cosmos já passou por este tipo de mudança, que implica no fim desta ou daquela civilização, como teria acontecido, por exemplo, com Atlântida. Baseados em estudos feitos sobre o passado, os maias criaram um calendário mostrando uma mudança catastrófica para nossos dias. Segundo eles, este suas indicações este processo já está em andamento desde o início da década de noventa. A previsão de data a seguir refere-se só ao seu ponto crucial e espetacularmente potencializado.
Como o calendário dos maias era orgânico (baseado em ciclos de vinte e oito dias, ciclos como o da lua e da menstruação) e o calendário gregoriano - que é o nosso - é mecânico, foi necessário uma tradução para este último. A partir desta tradução afirma-se que esta mudança, ou o final da atual civilização, está prevista para acontecer em 21 ou 22 de dezembro de 2012. Não estariam dizendo com isto que seria o fim do mundo ou o fim da vida no planeta, mas o fim de uma civilização, com mudanças muito radicais na terra. Segundo estas previsões, viveremos descongelamentos, desertificações e catástrofes de toda ordem. Daí pode-se presumir, morte de milhões e milhões de pessoas, mudança do mapa planetário, de nossa organização social, de nossa forma de viver, de nossas ferramentas etc. Isto considerando que faremos parte da modestíssima estatística dos sobreviventes que, pelo jeito, como diz um amigo, terá que aprender a plantar abóbora em pedras, ou em desertos.
As previsões da ciência não nos assustam, porque somos muito egoístas para pensar em populações futuras e também porque mesmo os devotos da ciência não acreditam, de fato, neste tipo de informação. Não lhes interessa acreditar nisto. Não estou considerando, óbvio, a minoria que luta pela ecologia, que não só acreditam como anteviam este resultado.
Já as previsões dos maias não assustam a imensa maioria da população por simplesmente não acreditarem nelas. No entanto, existe uma minoria que considera lógica as previsões maias e desta minoria muitos estão em pânico, outros, mesmo sem pânico, pensam até em fazer abrigos antidestruição e/ou coisas do gênero. Muitos dizem que temos muito pouco tempo, que só temos pouco mais de quatro anos. Esta é uma discussão muito ampla e eu só queria lançar alguma coisa para que você pudesse, se desejar, pensar um pouco mais, buscar melhores respostas.
Mas você talvez esteja querendo saber o que eu realmente penso sobre isto. Eu te digo que, independente de quem está certo em suas previsões, se os que prevêem o fim possível para daqui a cinqüenta anos ou os que nos prevêem pouco mais de quatro anos, ou os que acham que a Terra ainda viverá por uns milhões de anos, eu tenho sentido mesmo é que só tenho um segundo. Só tenho um segundo para me desapegar das coisas materiais, das mágoas, do orgulho, do ressentimento, da necessidade de estar certa, do medo, da minha auto-imagem, das pessoas, do meu corpo enfim. Só tenho um segundo para amar, celebrar, compartilhar. E é isto que estou interessada em fazer agora, pois a eternidade é só um segundo, talvez menos.
Um segundo é exagero místico meu? Não para aqueles que estavam no vôo da TAM que explodiu há pouco tempo em Congonhas/SP. Aliás, quero comer pamonha, dançar, chorar, amar, como se só tivesse um segundo. E, de fato, é o que temos.
Ah!, mas tudo isto pode ser feito com calma, muita calma.


Célia Maria Ribeiro é
socióloga, mestre em Ciências Sociais, especialista em Psicologia Transpessoal, professora aposentada da Universidade Federal de Goiás. cmribeiro@cultura.com.br