Estado amplia pesquisas e atrai novos doutores

 

Estado amplia pesquisas e atrai novos doutores (Diário da MAnhã, 10/11/2008)

Welliton Carlos
Da Editoria de Cidades

Após o susto de que a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg) seria extinta, o Estado parece ter despertado para a produção científica. Enfim, depois da burrice, a eureca. Nunca Goiás produziu tanto, mesmo tendo uma série de restrições – a começar pela falta de divulgação nacional dos trabalhos científicos locais e de recursos. Hoje, empresas internacionais querem investir aqui. Procuram a biodiversidade do Cerrado e talentos formados nos nossos centros de ensino.

Cada dia, um novo doutor desembarca no Estado. Isso significa mais reprodutores de conhecimento. Segundo Leonardo Guedes, presidente da Fapeg, Goiás tem 1.500 deles. Os doutores chegam para lapidar pesquisas e produzir inovação. Nesta fase, a fronteira agrícola abre espaço para a fronteira do conhecimento, que tem longo caminho pela frente – a começar pelos desafios provocados pelo agronegócio e meio ambiente. Goiás precisa também dar sua contribuição para a pesquisa sobre dengue – tema que afeta particularmente o Estado. Tem, ainda, a urgência de estudar impactos ambientais da indústria da cana-de-açúcar. E está passando da hora para liderar descobertas em Medicina, biodiesel e Telecomunicações. Na área da mineração, multinacionais investem milhões de dólares para encontrar ouro e minerais como o nióbio – que segue direto para foguetes da Nasa.

O anúncio de um Reuni (Reestruturação e Expansão das Universidades) para a pós-graduação é esperado com satisfação. De repente, todos começaram a falar a mesma língua. E a Ciência deixou de ser algo exótico em terra de cantores sertanejos. Ao contrário: fazer Ciência demonstra índice de civilidade e modernização. “Existe uma expectativa de que Goiás ofereça mais do que incentivos fiscais. Encontramos, no Estado, diversidade e espaço que não existem em outro lugar. A indústria farmacêutica, por exemplo, tem tudo para assumir a produção de ponta no setor”, diz André Ribeiro Justo, consultor em investimentos e pesquisas. Ele aconselha empresários nacionais e internacionais a procurar Goiás. E um de seus argumentos: muita coisa pode ser descoberta na região.

Os goianos, pelo menos, têm descoberto poucas, mas louváveis inovações. A maioria não se populariza entre o grande público. Falta comunicação e, em muitos casos, interesse das mídias. Cria-se, com isso, a idéia de que não se produz Ciência. O cientista também tem culpa nesta falta de publicidade. Reginaldo Nassar Ferreira, doutor da Universidade Federal de Goiás (UFG) e representante regional da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), afirma que aumentou a exigência para que o pesquisador publique seus conhecimentos em revistas ranqueadas. Com isso, a produção goiana adquire maior visibilidade e deixa de ser apenas exercício acadêmico.

O governo também ajuda neste descompasso. A falta de investimento prejudica a solidificação da nova mentalidade. Nos grandes centros, Ciência é prioridade. O orçamento não vira motivo de discussão.

Na semana passada, o Tribunal de Contas do Estado de Goiás (TCE) respondeu a seguinte pergunta formulada pelo DM: quanto o governo de Goiás investiu em Ciência e pesquisa nos últimos dois anos? A resposta é um pouco desanimadora: em 2006, foram aplicados R$ 84.328.963 (1,95% do orçamento). No ano passado, Goiás destinou R$ 113.306,131 (2,32%). Em nenhum momento, portanto, o governo cumpriu com o que está definido na principal norma legislativa do Estado, que manda aplicar 3,25% em Ciência. Existem, porém, perspectivas de que o atual governo avance. “Infelizmente, não investimos o que manda a Constituição. O TCE sempre faz esta ressalva, mas o atual secretário da Fazenda é uma pessoa sensata e garantiu que vai passar a respeitar o limite”, diz o deputado estadual Luis César Bueno (PT).

Se a Fapeg tivesse mais dinheiro, com certeza, o goiano Benedito Dias de Oliveira, pesquisador e doutor da Universidade Federal de Goiás (UFG), teria sido contemplado com recursos para desenvolver sua mais recente pesquisa. Ao lado do aluno Bruno Sanches, ele é um dos semifinalistas da quarta edição do Prêmio Nacional Santander de Ciência e Inovação. Cerca de 400 projetos foram inscritos e os goianos estão selecionados entre os primeiros, mesmo após a rejeição da Fapeg. “O que não interessa para Goiás, pode interessar para o Brasil”, diz Benedito.

O trabalho da dupla de pesquisadores é o exemplo de que a dedicação pode fazer de Goiás uma terra inovadora. Bruno e Benedito produzem Ciência de qualidade internacional. Eles querem simplificar a técnica de congelamento de embriões zebuínos e já cantaram as pedras de que isso é possível.

O estudo do professor e aluno é uma parceria público-privada com a empresa In Vitro Brasil que visa facilitar o acesso de criadores a um novo patamar tecnológico. Resultado prático: a pesquisa pode expandir o comércio nacional e internacional dos embriões.

Isso afetaria mercados e implementaria a balança comercial de Goiás. “É um projeto que pode diminuir custos e ajudar no melhoramento genético, ampliando o comércio de embriões”, afirma Benedito. Ele explica que os recursos para realizar o projeto foram conseguidos a duras penas, mas jamais pensa em desistir da pesquisa.

Segundo o deputado federal Luiz Bittencourt (PMDB), ex-secretário da pasta Ciência e Tecnologia, a pesquisa traz significativa melhora de qualidade de vida. “Os governantes precisam enxergar isso.”