É tempo de audiovisual
É tempo de audiovisual (Diário da Manhã, 12/11/2008)
Raphael Silveira
Especial para o DMRevista
Em noite de gala, com o teatro do Centro Municipal de Cultura Goiânia Ouro lotado e com a presença de autoridades políticas e administrativas do Estado e de personalidades da sétima arte de Goiás e do Brasil, foi aberta a quarta edição do FestCine Goiânia. Durante a cerimônia de abertura, foi exibido o longa Orquestra dos Meninos, que contou com a presença do diretor Paulo Thiago e do protagonista Murilo Rosa.
Até dia 17, serão exibidos 193 filmes, na mostra competitiva de longas – na qual concorrem ficções e documentários – e curtas-metragens, nos gêneros ficção, documentário e animação, além da mostra de vídeos universitários, caseiros e escolares. Durante a semana, serão realizadas oficinas e palestras, além do lançamento de livros e DVDs. Toda a programação ocorre no Goiânia Ouro, e a entrada é franca.
Entre as personalidades do cinema nacional presentes no teatro do Ouro, estavam os cineastas, produtores e artistas convidados Ugo Giorgetti, Adilson Ruiz, Conceição Senna, Francisco de Paula, Pedro Lazzarinni, Marcelo Pestana e Ronaldo Duque, além de Ingra Liberatto. “Creio que são iniciativas como esta que alavancam ainda mais a produção audiovisual brasileira”, disse a atriz, que, juntamente ao ator João Miguel, foi homenageada pelo conjunto de obras no cinema brasileiro.
história de redenção
O diretor de Orquestra dos Meninos Paulo Thiago agradeceu a todos e convidou os presentes a conhecerem a história de um “típico brasileiro lutador”. Assim ele definiu o maestro Mozart Vieira que, em pleno agreste pernambucano, no município de São Caetano, tirou meninos do trabalho infantil e transformou suas vidas pela cultura. “O filme não se trata apenas de violência e conflitos políticos. Na trama, não há happy end, mas sobretudo uma história de redenção.”
Murilo Rosa – protagonista de Orquestra dos Meninos – e o ator João Miguel só falaram à platéia após a exibição do filme, em função do atraso no vôo dos dois. Murilo, cuja mãe é goiana, tinha muitos parentes na platéia, agradeceu a recepção calorosa e disse que se sentia praticamente em casa. João Miguel retribuiu os efusivos aplausos diante da leitura de seu vasto currículo no teatro e no cinema e agradeceu a todos pela premiação conquistada.
Após o filme, foi lançado o DVD Guia Locações Goiás, do GO Film Commission, com o objetivo de divulgar o Estado como opção atraente e inédita para locação de filmes para cinema e TV, além de peças publicitárias. A meta é atrair investimentos para difundir a produção audiovisual goiana e fomentar a comercialização de serviços e produtos locais.
Atrações
Nesta edição, será exibida a série de documentários sobre o acidente do Césio 137, promovida pela Associação Brasileira de Documentaristas de Goiás (ABD-GO). Duas outras atrações devem chamar a atenção da cadeia produtiva: a realização da Mostra Centro-Oeste – uma parceria para a divulgação das obras regionais, criada durante o Festival de Cinema de Cuiabá – e a realização da Assembléia do Sindicato de Cinema de São Paulo, visando à estruturação do Sindicato de Cinema de Goiás.
Tradição do FestCine Goiânia, o concurso de roteiros permanece como um dos destaques da edição deste ano. No início do ano, através de seleção em edital, foram escolhidos cinco roteiros inéditos para curta-metragem – nos gêneros ficção, documentário e animação, com duração mínima de dez minutos e máxima de 20 minutos – para serem executados com apoio financeiro da Secult.
Os curtas serão exibidos durante o festival, mas não na mostra competitiva. Os roteiros selecionados foram: Intolerância, de Osair de Sousa; Graffiti em Ruínas e Outros Muros, de João Novaes; Rosa, Uma História Brasileira, de Luiz Eduardo Jorge; Cattum, de Paulo Miranda, e Descrição da Ilha da Saudade (ou) Baudelaire e os Teus Cabelos, de Alyne Fratari. A verba, para cada um, foi de 30 mil reais, totalizando um incentivo de 150 mil reais.
Evolução
O IV FestCine Goiânia é, atualmente, o segundo maior festival de cinema do Brasil em termos de premiação, ficando atrás apenas do Festival de Cinema de Brasília. Ao todo, serão cerca de R$ 400 mil em prêmios, dos quais R$ 250 mil serão aplicados em forma de incentivo à produção audiovisual goiana. A idéia é dar continuidade à bem-sucedida iniciativa de investimento na qualidade e desenvolvimento do cinema local, que resultou na seleção do primeiro longa-metragem goiano para a mostra competitiva – Benzeduras, de Adriana Rodrigues.
Para Doracino Naves, secretário municipal de Cultura, o IV FestCine Goiânia enche a Capital de orgulho, pois já se tornou um marco no calendário do cinema nacional. Baseado no tripé intercâmbio entre realizadores e produtores de cinema, incentivo à produção local e formação de platéia, o IV FestCine Goiânia estima que cerca de 30 mil pessoas devam comparecer ao Centro Municipal de Cultura Goiânia Ouro durante esta semana de evento.
Acompanhado por Edward Madureira Brasil, reitor da Universidade Federal de Goiás (UFG), e por Linda Monteiro, presidenta da Agência Goiana de Cultura Pedro Ludovico Teixeira (Agepel), o prefeito Iris Rezende abriu o discurso homenageando o antigo proprietário do Cine Ouro, Ivan Roriz (que morreu na semana passada), e, nas palavras do prefeito “soube, como ninguém, promover a integração entre governo e sociedade, representada por intelectuais, artistas, universidades e amantes da cultura em geral”. O prefeito também lembrou Pedro Ludovico Teixeira, fundador de Goiânia, por ter erguido a Capital “sob a égide da cultura, com olhos para o futuro”. Iris referia-se ao batismo cultural de Goiânia, ocorrido em 5 de julho de 1942.