Meteorito desperta cobiça em Goiás

 

Meteorito desperta cobiça em Goiás (Diário da Manhã, 15/11/2008)

Diogo Luz
Da Editoria de Política & Justiça

O segundo maior meteorito brasileiro está escondido em Goiás, mais precisamente no município de Campinorte, a 300 km de Goiânia. A pedra pesa cerca de duas toneladas e vale uma fortuna – a grama do material proveniente do espaço está cotada entre R$ 20 e R$ 20 mil, de acordo com a qualidade da composição. Há quem diga que o valor total pode chegar a R$ 20 milhões. O alto valor iniciou uma disputa pela autoria da descoberta do material. O empresário mineiro Rogério Vieira Dias afirma que foi ele quem encontrou o objeto e o enviou para análise. O proprietário da fazenda onde foi localizado o meteorito, e que não quis se identificar, afirma que teme pela vida.

O dono das terras diz que não se sente seguro no pequeno município do Norte Goiano. Segundo ele, a notícia sobre a localização do meteorito se espalhou com velocidade. A especulação sobre o preço do objeto colocou em risco não só a própria vida, mas de toda a família. “Não me sinto seguro; tenho medo. Alguém pode vir atrás da pedra e acabar fazendo alguma coisa.”

Os rumores sobre o nome de quem é o sortudo fizeram com que a pedra fosse retirada da fazenda. A ação foi realizada com o auxílio de uma retroescavadeira. A informação é de Joaquim Luís da Silveira, advogado do proprietário da fazenda. Segundo ele, a pedra não será vendida antes de análise completa do material. “Contratamos um laboratório especializado e estamos aguardando o laudo. Nenhum contato será feito até a confirmação de que realmente é um meteorito.”

A disputa pela autoria da descoberta do meteorito teve início após supostos fragmentos do material passarem por inspeção no Museu Nacional do Rio de Janeiro, principal campo de estudos da área no Brasil. A astrônoma Maria Elizabeth Zucolotto analisou os pedaços enviados pelo empresário Rogério e constatou a legitimidade do meteorito. “Devido a situação dos fragmentos, ele deve ter caído há mais de mil anos. Também é preciso levar em consideração a ausência de relatos sobre a queda.”
O aval de Zucolotto sobre a legitimidade do meteorito foi suficiente para que Rogério iniciasse a busca para compradores dentro e fora do País. O Brasil não possui legislação específica sobre a propriedade de meteoritos devido, em parte, à raridade do fenônemo. No entanto, não há lei proibindo a venda e até a exportação da pedra. Rogério afirma que um italiano já o procurou com interesse no negócio. O valor inicial seria de R$ 1 milhão. “O objeto não vale isso tudo. Poderíamos falar em R$ 600 mil.”
O proprietário da fazenda disse ao DM que desconhece como as lascas do meteorito foram parar nas mãos da especialista. Segundo ele, não conhece o empresário e nunca falou com ele por telefone. No entanto, não descarta possibilidade que um homem conhecido como Gercy, em Uruaçu, tenha repassado o material para Rogério.

O advogado do dono da fazenda questiona por que o empresário venderia uma pedra de duas toneladas por R$ 600 mil, se o quilo dela pode chegar a valer R$ 20 milhões.


Especialista defende remoção


O professor do Planetário da Universidade Federal de Goiás (UFG) Paulo Henrique Azevedo Sobreira defende a transferência imediata do meteorito para o Museu Nacional do Rio de Janeiro. Afirma que o governo estadual em parceria com o governo federal devem bancar os custos: “Este meteorito é de grande valor na mão de especialistas. Só é possível utilizá-lo para estudos se estiver completo.”
A astrônoma Maria Elizabeth Zucolotto pediu para o proprietário da fazenda que doe o objeto para o museu. Segundo Paulo, no Rio os especialistas poderão desvendar a estrutura química do material e expô-lo ao lado do maior meteorito encontrado no Brasil, o Bendengó, que tem 5,3 toneladas. “Somente no Museu Nacional há equipamento e especialistas para analisar este achado.”
O professor também teme pela vida do fazendeiro. Segundo ele, o alto valor pode atrair criminosos. “Ele é um meteorito comum, feito basicamente de ferro. Ele é conhecido no meio científico como siderito. Ele só tem valor para pessoas excêntricas e para cientistas.” Segundo Paulo, a Federação e o Estado de Goiás devem bancar a transferência.
Zucolotto diz que o peso também é indício de alto valor. “Mesmo que ele fosse vendido como sucata, duas toneladas valem muito dinheiro”. Paulo afirma que o patrimônio nacional perderá caso a venda se concretize.