O que é bom, triunfará
O que é bom, triunfará (Diário da Manhã, 17/11/2008)
Graça Fleury
Graça Fleury é professora
Leitora do DM, aprecio em especial algumas de suas colunas de opinião.
Cito, hoje, a do sábio José Luiz Bittencourt, que nos deixou uma lacuna enorme na nossa comunidade goiana. Avô e bisavô de alguns alunos meus da Escola Piaget. Quase por um acaso, há algum tempo, comecei a ler seus escritos publicados nesse jornal e neles sempre aprendia algo mais.
Além de possuir uma enorme cultura, era extremamente generoso, basta ver que em certa ocasião referiu-se a mim como uma das mulheres mais cultas do Estado. Estive ao seu lado – assim tête à tête – talvez duas ou três vezes no máximo e ainda, rapidamente em ambiente formal. Certamente tínhamos alguma identificação, mas não posso dizer que era meu amigo, nunca nos visitamos – o que lamento muito... Mas é certo que ele conhecia meu trabalho. Lastimo, extremamente, a falta que ele nos fará. Por não estar em Goiânia quando de seu falecimento, apresento a seus familiares meus sinceros sentimentos, estranhamente dizendo que sentirei muito a falta de alguém com quem nunca convivi.
Outra coluna que é muito instrutiva é a do Prof. Doutor José Fernandes.
Também estive, pessoalmente com ele, pouquíssimas vezes. Conheço alguns de seus trabalhos. Gostaria de conhecer muitos outros mais, mas como sou da área da Educação, infelizmente sobram-me poucos, trágicos minutos para ler tudo que preciso e outros mais que me dariam grande prazer. Preciso, porém, dizer que na última terça feira, dia 11 de novembro, fiquei muito, muito constrangida e perturbada ao ler sua coluna. Confesso e concordo que ele faz um comentário correto e pertinente sobre o nosso ensino, ou a educação bancária, não aquela de bancos tipo Itaú, Unibanco, Real, etc... – mas a de Paulo Freire. Concordo inteiramente quando diz que é inaceitável, em uma cidade de apenas 75 anos, haver pessoas que não sabem o nome do primeiro prefeito de Goiânia, ainda mais sendo um nome que é o gerúndio do verbo venerar, tão usado nas diversas seitas, religiões, que grassam por estas e outras plagas. Sei que a falta não é só minha, mas faço aqui a “mea culpa”. Sou professora, diretora de uma escola que idealizei, planejei, cuidei e procurei os melhores e mais amplos conhecimentos para lá implementá-los. Fui, por pouquíssimo tempo, superintendente do Ensino Fundamental da Secretaria de Educação do Estado de Goiás, recebi homenagens, dentre muitas, destaco a última e para mim, muito especial – a da Escola Municipal da Unidade Agroecológica Sta Branca, e exatamente, por tudo isso, sinto nos ombros, na pele, e principalmente no coração, as palavras verdadeiras deste douto professor da Universidade Federal de Goiás.
É doloroso ter que soletrar a palavra Venerando, para indicar a rua onde mora, principalmente porque Venerando não foi somente o primeiro prefeito, mas um Homem e cidadão com H maiúsculo. E não falo isto porque tive um aluno que era seu neto. Falo pelo pouco que sei sobre Goiânia, minha cidade natal, e pelo muito que gosto dela.
Outra grande observação que o Prof. Dr. José Fernandes faz, neste artigo, que toca uma chaga brasileira, é a questão de nosso tão maltratado idioma.
É doloroso. É com imenso pesar que assistimos aos mais diferentes ultrajes à nossa língua. Sem pregar lições, o Prof. Dr. José Fernandes mostra algo que muita gente não sabe.... a leve e sutil diferença entre “teria de” e “teria que”.... . Ainda mais trágico... é a questão que ele aborda – a dos bons modos, da educação, do respeito, da solidariedade.... . Posso dizer ao sr. Doutor José Fernandes, o senhor não está perdido no tempo, nem sua educação está ultrapassada. Ainda há ilhas, pessoas, lugares que preservam e que sempre continuarão a gostar, a entender e a ter prazer em algo que ultrapassa, transcende toda esta pequenez do consumismo exacerbado, essa selvageria do capitalismo, essa loucura do ter, do lucrar ou da lei do Gerson. Há ainda algumas ilhas poucas, Prof. José, onde temos crianças que estão aprendendo os bons, antigos e sempre respeitosos costumes, estão vivendo a plenitude de suas infâncias, aprendendo a brincar, a gostar, a lidar, a viver e a conviver com o outro.
Convido o senhor e a todos que quiserem conhecer algumas poucas ilhas que temos, aviso forte e conscientemente que não são ilhas de ilusão ou da maravilha (como Brasília é chamada), mas ilhas que superam ou mesmo resistem a toda essa loucura dos dias atuais. São poucas, mas são e estão aí.
Temos uma aqui em Goiânia, em Nerópolis, em Goiás, em Reggio Emilia - Itália, em Mututu-MG, em Alagoinhas-BA e em alguns outros lugares, que não citarei aqui pelo exíguo espaço. Faço a “mea culpa”. Com tristeza. Mas com profunda esperança que poderemos superar e melhorar tudo isto. Não posso deixar de dizer que por momentos fiquei muito, muito triste ao ler seu artigo, mas reconheço e sei que é importante cutucar a onça. E saiba Prof., o senhor não só cutucou a onça, mas principalmente, me chamou aos brios, brio que meu pai e minha mãe, além de minhas professoras Gabriela, Doralice, Ivete, Lacy – todas do Grupo Escolar Vasco dos Reis (me orgulho de ter estudado em uma ótima escola pública) – me deram. Sei que fiz alguma coisa, mas prometo que farei mais e melhor. E peço ajuda ao senhor e a todos que possam fazê-lo. Incomodada, mas certa que sua e muitas ajudas chegarão para nossos alunos, principalmente as crianças. Eu aposto e sei que os homens de boa vontade vencerão. Agora e sempre.
Graça Fleury é professora