Entraves no ensino da história

Entraves no ensino da história (Jornal Hoje, 20/11/2008)

Liana Aguiar

A obrigatoriedade da lei sobre ensino da história afro-brasileira ainda não foi concretizada, mas o Ministério da Educação (MEC) anunciou que vai elaborar um Plano Nacional de Implantação da Lei 10.639/03. O tema já é abordado em sala de aula, mas ainda de forma tímida. Em Goiânia, alunos da rede municipal de ensino realizaram um espetáculo sobre as diferentes culturas, inclusive a africana, na formação da identidade brasileira. Hoje, Dia da Consciência Negra, representantes de movimentos negros realizam manifestações em toda a cidade.

Lorena de Souza, mestre em Geografia e professora da Universidade Federal de Goiás (UFG), explica que a história da cultura afro-brasileira fica a cargo somente de algumas disciplinas e apenas como tema transversal. Para ela, todas as áreas de conhecimento deveriam ter essa responsabilidade.

Lorena observa que um dos maiores desafios para implantação da lei é a falta de uma formação continuada dos professores para lidar com a temática. Segundo ela, a abordagem que se faz da história africana é estereotipada. Quando se fala de África, só é veiculada como um continente atrasado, de miséria, pobreza e escravidão. “Os livros didáticos se limitam à música, à culinária e à dança, mas não trata o negro como um sujeito que construiu a história deste País, e acabam reforçando o preconceito.”

Para Lorena, que pertence ao Núcleo de Estudos Africanos e Afrodescendentes da UFG, a sociedade mascara o preconceito. “É preciso reconhecer que o racismo existe no Brasil, que a população negra tem os piores índices educacionais e sociais”, enfatiza. “Zumbi vem resgatar outra perspectiva, de que o negro não era passivo.”


ESPETÁCULO MOSTRA CULTURA AFRICANA

Mais de 250 alunos de escolas municipais de Goiânia realizaram ontem o espetáculo Brasilidade, sobre a mistura de raças e etnias que formaram a cultura brasileira. O musical faz parte da III Mostra Artístico-Cultural da Rede Municipal de Educação.

Os alunos da Escola de Tempo Integral Professora Silene de Andrade, do Aruanã 2, fizeram um ato sobre dança africana. A professora de música Alessandra Castro explica que os alunos tiveram um preparo sobre a cultura africana antes de começar os ensaios. “Esse trabalho resgata nossa cultura e ensina sobre respeito entre as raças”, diz.

Pedro Henrique Lima, 14, e Kamila Fernandes Teixeira, 14, estavam no elenco e contam que aprenderam muito sobre a cultura africana. “O teatro nos envolve em um mundo novo”, diz Pedro. “É interessante ver como os negros influenciaram nossos hábitos de hoje, como o gosto pela feijoada”, comenta, sobre a origem africana de um prato bem brasileiro.

A secretária municipal de Educação, Márcia Carvalho, afirma que, por meio da arte, os alunos aprendem sobre a formação da identidade brasileira. Ela explica que a cultura africana não é ainda uma disciplina específica, mas que é um tema discutido de forma interdisciplinar, inclusive em ações como a da mostra artística.

Eventos
Representantes do movimento negro realizam uma série de eventos hoje. No Centro de Convivência, no Campus 2 da UFG, às 14 horas, haverá uma apresentação de teatro, dança e distribuição de folderes sobre ações afirmativas. A partir das 17 horas, o movimento negro realiza uma caminhada contra o racismo, a Chamada dos Tambores. A manifestação vai defender a História da África e dos Afrodescendentes nas escolas, entre outras causas. A concentração será no Ilê Axé de Ode Iba Ibomin, na Rua 1.059, no Setor Pedro Ludovico.

Ao contrário do que chegou a ser noticiado na imprensa nacional, a Prefeitura de Goiânia informou que hoje não é feriadona Capital. Em Goiás, apenas dois municípios decretaram feriado – Flores de Goiás e Santo Antônio do Descoberto.