Romance com mix de linguagens

Romance com mix de linguagens (Diário da Manhã, 11/12/2008)

Fred Leão
Da editoria do DMrevista

“Nesse romance o leitor vai encontrar três coisas básicas: trabalho de duas linguagens, inovação e personagens ricos.” Dessa forma, o escritor goiano Miguel Jorge resume seu novo livro O deus da hora e da noite. Para lancá-lo é realizado hoje, a partir das 19 horas, evento no Café Mundo, no Shopping Bougainville. Além dos tradicionais autógrafos, haverá leitura dramática de poemas com Renata Marra, André Pimenta, além do escritor anfitrião. Para dar ares multiculturais, os artistas plásticos Dek e Alfredo Faria expõem telas e o som fica por conta do violonista Arnaldo Freire. Parte da renda arrecadada com as vendas será revertida para a ONG Terra Livre, que cuida de crianças carentes.

Com a nova obra, Miguel comemora 40 anos de vida literária. Para marcar a data, a escolha foi um romance, com a inovação de juntar duas linguagens diferentes em um só texto. A fala da personagem central se entrelaça com a do escritor, promovendo mescla de linguagens. A da personagem, que é coloquial, e a do escritor, mais poética. Na trama, a protagonista, Agma, conta a própria história de vida para um escritor, sem saber que este iria escrever sobre ela. A necessidade de contar sobre sua vida para alguém a faz se abrir para ele. Enquanto a ouve, ele passa a arquitetar o romance, que planeja escrever. “Procurei fazer uma história dentro de outra”, conclui.

A personagem se abre com detalhes da vida amorosa, já que ela é casada com um coronel de uma cidade do interior e sobre os amantes que possuiu. A história sobre a vida de Agma não vem a público na trama, pois lá estão os segredos, pecados, momentos de felicidade e emaranhados de vida, como uma confissão. O aspecto além da vida, presente na temática de Miguel Jorge e inspirado pelo escritor tcheco Franz Kafka, aparece por trechos em que o escritor que participa do romance tem dificuldades para escrever e recorre a um autor argentino já falecido, que aparece para ele.
Outro aspecto que caracteriza O deus da hora e da noite é a inserção de elementos de teoria literária, de como resolver alguns contratempos que o romance impõe para quem o escreve. Isso surge com a finalidade de clarear o horizonte para novos escritores.

escrever é
um desafio
O autor, mesmo diante da experiência de quatro décadas, afirma que escrever sempre é um desafio, seja em qual for o estilo e destaca que o romance é mais trabalhoso, por que o livro não aparece completamente acabado durante a concepção, pois durante a escrita surgem personagens e novos elementos. Para a finalização, foi preciso dois anos.
Para descrever a nova cria de Miguel Jorge, o professor da UFG Luiz Alberto de Miranda afirma que o livro propõe uma viagem ininterrupta pelos labirintos do verbo, seja pelos mistérios das noites ou pelos calores das horas, a experiência e a reinvenção são as pedras de toque de seu trabalho e deste romance em especial.

Nascido em Campo Grande (MS), se mudou ainda criança para Goiânia; formou-se em Farmácia e Bioquímica pela Universidade Federal de Minas Gerais, Direito e Letras Vernáculas pela Universidade Federal de Goiás e Literatura Brasileira e Goiana pela Universidade Católica de Goiás. O primeiro livro foi de contos, Antes do túnel. Participou, aos 18 anos, do GEN – Grupo de Escritores Novos –, um coletivo de estudantes de Direito. Possui obra numerosa e eclética, que vai do romance à dramaturgia, da poesia ao roteiro de cinema. Seu romance Veias e Vinhas (1981) foi adaptado para o cinema, em 2006. Seus títulos mais conhecidos são Avarmas (1978), Asas de moleque (1989), Profugus (1990) e Pão cozido debaixo de brasa (1997), que lhe rendeu o Prêmio Machado de Assis.