Desafio é abrir espaço a 7 mil carros por mês

Desafio é abrir espaço a 7 mil carros por mês (Jornal Hoje, 16/12/2008)

Renato Rodrigues

A liberação do conjunto formado pelo elevado da Avenida T-63 e da trincheira da Avenida 85 melhorou a fluidez do tráfego na região. No entanto, o trânsito da cidade desafia as autoridades da área, com o aumento da frota veículos – uma das principais causas dos constantes congestionamentos em Goiânia. Até 30 de novembro, o Detran registrava 842.592 veículos licenciados na Capital. Embora o número de licenciamentos mensais tenha caído em média 40% nos últimos cinco meses, a quantidade de veículos que entrou em circulação somente no mês passado ficou próximo dos 7 mil.

Dessa forma, acreditam especialistas, as grandes intervenções no trânsito podem não representar solução satisfatória em longo prazo. Os estudiosos defendem que viadutos podem ser benéficas tecnicamente, mas deixam a desejar sob o aspecto do planejamento. A construção de viadutos e vias de rápido escoamento responde às necessidades dos que dependem dos carros, mas deixa de lado pedestres, ciclistas e passageiros do transporte coletivo, avaliam.

A professora da Escola de Engenharia Civil da Universidade Federal de Goiás (UFG) e doutora em transporte Márcia Helena Macedo avalia que do ponto de vista da Engenharia de Tráfego, a instalação de viadutos parece ser a medida mais apropriada. Mesmo assim, do ponto de vista do planejamento, defende que mesmo sendo uma ação de médio prazo, a medida se constitui em uma intervenção local, de caráter reativo.

Márcia Helena acredita que o viaduto, assim como as intervenções realizadas nos demais estágios, não resolverá o problema do congestionamento de forma definitiva. A professora afirma que Goiânia é muito diferente de outras cidades do Brasil ou do mundo. “A motorização privada continua a aumentar”, ressalta. Para a especialista, o espraiamento urbano é descontrolado, assim como a pressão imobiliária pela expansão constante da cidade, o que cria dependência cada vez maior do carro.

Para ela, inexistem políticas de disciplinamento do uso do carro, e por isso, a construção dos viadutos ou trincheiras, como o da Avenida 85, se justifica dentro de um quadro em que se privilegia a visão de curto prazo, objetivando exclusivamente dar respostas aos usuários de automóveis. “O tratamento privilegiado aos carros estimula a continuidade do seu uso e induz usuários a desrespeitar pedestres, ciclistas e passageiros do transporte coletivo.”

Apesar de o trânsito nas Avenidas T-63 e 85 ter sido aberto ontem aos motoristas, mais uma intervenção ainda estava prevista para ser realizada ontem, após as 21 horas. O superintendente municipal de Trânsito, coronel Paulo Sanches, explica que o trânsito no local não foi prejudicado porque as vias laterais continuaram liberadas. Sanches diz que os funcionários da empresa que concluiu a obra fixaram os tachões refletivos, que são pequenos blocos utilizados para sinalizar o limite entre os dois lados da via. Também foram instalados segregadores, dispositivos que impedirão a transposição de veículos para o sentido oposto ao tráfego, colaborando para a segurança dos condutores.


TRÁFEGO FLUI NO 1º DIA DE ABERTURA

O tráfego foi liberado na manhã de ontem no elevado da Avenida T-63, na trincheira da 85 e no cruzamento das duas ruas, embora tenha sido inaugurado na sexta-feira. Depois de ficar interditado por sete meses, o fluxo de carros, ônibus e motos foi tranqüilo no primeiro dia depois da liberação.

Agentes da Superintendência Municipal de Trânsito (SMT) orientaram condutores, especialmente na T-64, que, depois da construção do viaduto, não atravessa mais a Avenida 85. Todos os ônibus do transporte coletivo que haviam desviado sua rota para a Avenida T-4 voltaram a circular na 85. Os pontos de embarque e desembarque permaneceram os mesmos. Trabalhadores da prefeitura de Goiânia ainda fazem acabamentos nas calçadas e em outros pontos da obra. Segundo o diretor de Engenharia da SMT, Frederico Quintanilha, nos próximos 15 dias ainda serão ajustados os tempos dos semáforos. A onda verde, expressão usada para quando os semáforos são ajustados para abrir ao mesmo tempo ao longo de uma avenida, deve começar a ser implantada em janeiro, conforme Quintanilha.

A dona de casa Maria das Graças Pereira, 50, que mora no Setor Bueno e fazia compras a pé em um verdurão na esquina da T-63 com a 85, aprovou a obra. “Ficou mais fácil atravessar, porque existe sinaleiro em todas as faixas de pedestre, a gente não tem que se arriscar”, elogiou. O estudante Marcos Gomes da Silva, 20, passava de bicicleta pelo lugar e também estava satisfeito: “Com o sinal, a confusão de carros é menor”, afirmou.

O corretor Joel Santos, 47, que dirigia um Uno na manhã de ontem, passou pela trincheira da 85. “Por enquanto está bom, mas para analisar de verdade é preciso ver como ficar nos próximos meses”, disse. Entre os comerciantes, o clima de otimismo era geral: “Agora, vamos recuperar o prejuízo”, disse Graça Faria, 28, vendedora de uma papelaria, animada com o fim das obras. As fachadas e calçadas do comércio estavam limpas e algumas foram reformadas. No entanto, mais de oito lojas, fechadas no período da construção do viaduto, ainda permanecem fechadas. (Taís Lacerda)