101 anos de Niemeyer e 48 anos da UFG

101 anos de Niemeyer e 48 anos da UFG (Diário da Manhã, 18/12/2008)

Há homens que lutam um dia, e são bons;
Há outros que lutam um ano, e são melhores;
Há aqueles que lutam muitos anos,
e são muito bons;
Porém há os que lutam toda a vida
Estes são os imprescindíveis
Bertold Brecht

No dia em que comemoramos 101 anos de vida do mestre Oscar Niemeyer vivemos com orgulho os 48 anos da Universidade Federal de Goiás. Escola e mestre se confundem em nossas homenagens como um poema arquitetado pela pena e os traços do “poeta do concreto”, criador de Brasília, esta obra de rara beleza que encanta o Cerrado Goiano, motivo principal de nossa luta nesta Casa para que seja reconhecido como Patrimônio Nacional.
São na verdade três Patrimônios da Humanidade: o criador, a criação e a paisagem. Há 48 anos, Oscar Niemeyer entregava, no coração do Brasil, no centro do Cerrado Goiano, sua mais nobre obra de arte: Brasília. Mas, a vida é ainda maior para quem espalhou a vida por onde passou. Um revolucionário, que viveu intensamente o seu século, um tempo de grandes revoluções, de grandes personagens e ele próprio, uma das maiores personalidades deste século.

Ainda menino, viu as duas revoluções que abalaram a América e o mundo. Nascia o novo México de Zapata em 1910 e em 1917 os dez dias que abalaram o mundo, a Revolução Bolchevique. Nascia a União Soviética, enquanto Einstein descobria a Teoria da Relatividade. Muito jovem descobriu os sonhos do Cavaleiro da Esperança, Luís Carlos Prestes e sua Coluna, marchando sobre o Brasil. Na cultura, a Semana da Arte Moderna influenciava toda uma geração que vinha, entre eles, Oscar Niemeyer. Tudo isso levou à formação revolucionária e humanista do artista, o criador de obras como a Obra do Berço, no Rio, a Pampulha, em Belo Horizonte, é um irreverente e transgressor de seu próprio tempo.

Toda vez que vem a Brasília, considera uma obra inacabada e faz outros traços sobre a própria tela, como se o Plano Piloto ainda estivesse sobre sua mesa: foi assim com Memorial JK, em 1980. Em 2006, viu a inauguração do Complexo Cultural da República, ainda do projeto original. Mas, eterno insatisfeito, ainda promete para Brasília mais três obras suas: a Praça do Povo, a Torre da TV Digital e o Sambódromo.

Haja vitalidade para um homem que comemora o seu primeiro aniversário depois do centenário de sua vida que ele diz de uma maneira singela e poética: A vida é um sopro.

Mas é com muito prazer e orgulho que queremos saudar os 48 anos de fundação da Universidade Federal de Goiás, criada em 14 de dezembro de 1960. Estivemos na comemoração festiva de inauguração do Centro de Eventos Professor Ricardo Freua Bufáiçal, um amplo e moderno complexo que marca esses 48 anos com chave de ouro. Estiveram presentes diversas personalidades. Queremos parabenizar toda a comunidade acadêmica, o corpo docente e o reitor Edward Madureira e o vice-reitor Benedito Ferreira Marques. Homenageando meu eterno e dileto amigo Bufáiçal, o representante da família João Luiz Félix, e enfim, todos os deputados e deputadas que compareceram para aquela festa, da qual todos são merecedores.
Gostaríamos de registrar aqui também, nessa passagem dos 48 anos, um pouco da história da nossa querida Universidade Federal de Goiás. A Universidade Federal de Goiás foi criada no dia 14 de dezembro de 1960, com a reunião de cinco escolas superiores que existiam em Goiânia: a Faculdade de Direito, a Faculdade de Farmácia e Odontologia, a Escola de Engenharia, o Conservatório de Música e a Faculdade de Medicina. A partir desta data, Goiás passou a formar os seus próprios quadros profissionais e a não depender de mão-de-obra qualificada vinda de outras regiões do País. Para os jovens goianos isso significou oportunidade de formação profissional e intelectual em uma instituição pública, gratuita e de qualidade. Foi um marco na história do Estado.
No entanto, essa vitória da sociedade goiana foi antecedida por um processo que demandou grandes esforços por parte de professores e estudantes da época. Em 1959, os docentes das cinco escolas que constituíram a UFG na sua fundação, formaram a “Comissão Permanente para a Criação da Universidade do Brasil Central”, presidida pelo professor Colemar Natal e Silva, então diretor da Faculdade de Direito de Goiânia. O objetivo da comissão era formular um projeto de criação da universidade e entregá-lo ao Congresso Nacional.
Em paralelo à mobilização dos professores, os estudantes goianos promoveram um movimento vigoroso pela criação de uma universidade pública, a ser mantida pelo governo federal. Eles criaram, em abril de 1959, a Frente Universitária Pró-Ensino Federal, que promoveu reuniões, audiências, e debates com autoridades em assembléias ou Congresso de Estudantes e organizaram passeatas e comícios reivindicatórias.
O projeto dos professores foi elaborado e acrescido de colaborações dos parlamentares goianos, transformou-se em lei no Congresso Nacional. A assinatura do decreto foi feita pelo presidente Juscelino Kubitschek, no dia 18 de dezembro de 1961 em uma cerimônia realizada na Praça Cívica que reuniu milhares de pessoas demonstrando o anseio da população de Goiás pela criação da universidade. A aula inaugural ocorreu no ano seguinte, dia 7 de março em solenidade que lotou o Teatro Goiânia.
O passo seguinte foi estabelecer um projeto pedagógico para a instituição. Para isso, a UFG realizou a “Semana de Planejamento”, que reuniu expositores e personalidades importantes da área cultural e pedagógica do País, como os sociólogos Darcy Ribeiro e Ernesto de Oliveira Júnior. Após várias discussões, ficou decidido que a UFG deveria superar o modelo clássico de ensino que vigorava no Brasil para se aproximar mais da realidade contemporânea mundial.

Nesta visão, “a instituição deveria ser um centro de transformação pedagógica, cultural, social e política, inspirada na cultura e sem concepção ideológica pré-concebida”. Segundo palavras do então reitor Colemar Natal e Silva. A materialização dessa idéia foi a intensificação da vida cultural da universidade e uma maior integração entre estudantes, professores e a comunidade.

Gostaria de saudar todos os professores, estudantes, servidores e dirigentes da Universidade Federal de Goiás, nossa felicitação e reconhecimento pelos relevantes serviços prestados à comunidade goianiense/goiana/brasileira. Viva a UFG, de Colemar Natal e Silva a Edward Madureira. Viva nosso eterno amigo Ricardo Bufáiçal, ex-reitor para sempre.


Pedro Wilson Guimarães é deputado federal PT/GO, ex-prefeito de Goiânia e professor das Universidades Católica e Federal de Goiás