Erosões colocam população em risco

Erosões colocam população em risco (Jornal Hoje, 21/01/09)

Mau cheiro, lixo, insetos, ratos, criminalidade acentuada, perigo para as crianças e riscos de desmoronamentos e deslizamentos fazem parte da realidade cotidiana dos moradores do Sollar Vile, onde existe uma das maiores erosões em Goiânia. Além da qualidade de vida dessas pessoas estar comprometida, o meio ambiente também é afetado, em razão de sua degradação. Pensando nisso, a Agência Municipal do Meio Ambiente (Amma) está realizando o Diagnóstico das Erosões de Goiânia. Os seis maiores processos erosivos possuem planos de contenção que já caminham para a recuperação das áreas atingidas, através da revegetação, de obras como muros de arrimo e da utilização de resíduos sólidos.

Andrelisa Santos de Jesus, mestre em Geografia pela Universidade Federal de Goiás (UFG), explica que as erosões fazem parte de um processo natural, porém suas causas e efeitos podem ser potencializados com a falta de planejamento urbano e com a ocupação humana desordenada. “O processo ocorre normalmente, mas pode ser acelerado com a ocupação humana”, reforça. De acordo com Andrelisa, os motivos que levam à erosão também estão relacionados ao desmatamento, à erosão hídrica pluvial, à falta do sistema de micro-drenagem, ao lançamento inadequado da água, à composição do solo.

A Amma tem em seu cadastro 63 processos erosivos na capital, 35 deles são voçorocas e 28 são ravinas, a maior parte fica localizada nas proximidades do Córrego Baliza e na Região Sudoeste, porém as regiões Sul, Central e Noroeste são as mais atingidas pelos processos erosivos. Segundo a Amma, as erosões que geram maior risco ao meio ambiente e à população são aquelas que já atingiram o lençol freático, chamadas de voçorocas. “As ravinas são erosões que ainda não atingiram o lençol freático”, explica a mestre em Geografia pela UFG.

Para combater os processos erosivos em Goiânia, a Amma vem utilizando não apenas o cadastramento das erosões, mas também o Diagnóstico Ambiental de 12 bacias hidrográficas que apresentam características físicas ambientais variadas, além de uso do solo diferenciado. A agência garante que os trabalhos de identificação e recuperação das erosões de Goiânia trazem benefícios tanto para o meio ambiente, quanto para os moradores, uma vez que será feito um trabalho de resgate da paisagem urbana, aproximando ao máximo do estágio natural e protegendo a população dos riscos que trazem essas áreas atingidas.

O trabalho que está sendo realizado pela agência é esperado há anos pelos moradores do Sollar Vile. Há quatro anos, Deginete da Silva Máximo, 51, mora no local convivendo com lixo, entulho e mau cheiro. A moradora ainda reclama da criminalidade, que segundo ela, é facilitada com a situação. “Eles usam esse buraco (erosão) como desmanche de carros e desova, mesmo”, denuncia. Deginete conta que o local representa grande perigo para as crianças, que brincam nas proximidades e correm risco de sofrer quedas. “Agora colocaram uma cerca, mas ainda deixa a desejar.”

Maria de Lourdes Neves, 53, convive com o problema há seis anos e afirma não suportar as moscas. “Não pode fritar nada com as janelas e portas abertas”, garante. Maria não sabia dos projetos da Amma, mas ficou feliz com a notícia. “Se isso acontecer o inferno vai virar paraíso, porque temos tudo para aproveitar a natureza ao lado e não podemos porque temos medo. Fico preocupada com as crianças que vão ao lago, lá já morreu gente”, lamenta.
As seis maiores erosões em Goiânia, que contam com planos de contenção e passarão por trabalhos de recuperação, são: Erosão Solar Ville (Córrego do Meio, afluente do Caveirinha), Erosão Negrão de Lima (Rio Meia Ponte), Erosão Carmo Bernardes (Córrego São José), Erosão Parque das Flores (Córrego Caveirinha), Erosão da Bezerra (Córrego Anil) e Erosão São José (Córrego São José). Os córregos Botafogo, Cavalo Morto, Taquaral, Palmito, Macambira, Cascavel, Baliza, Capim Puba e Barreiro também estão recebendo atenção da Amma.

Os resultados do Diagnóstico das Erosões de Goiânia serão repassados aos órgãos do poder público envolvidos no combate ao problema, instituições do Legislativo e Executivo, meio acadêmico e entidades do terceiro setor que lutam pela preservação ambiental.