Sem chuva de papel
Sem chuva de papel (O Popular, 14/01/09)
Apesar de divergências iniciais, formandos concordam com mudanças na colação de grau na UFG. Algumas comissões de formatura reduziram em até 90% o custo da solenidade
Rodrigo Alves
Nada de pirotecnia. Desde a semana passada, os formandos da Universidade Federal de Goiás (UFG) vivenciam uma novidade nas solenidades de colação de grau da instituição. A partir deste ano, a cerimônia será realizada obrigatoriamente no novo Centro de Cultura e Eventos da instituição, recém-inaugurado no Câmpus 2. Além disso, será conduzida somente pelo cerimonial da universidade, sem participação de empresas contratadas por alunos, e não poderá ter artifícios como cascata de fogos e chuva de papel.
A medida já mexeu com a vida dos formandos deste ano e mudou os planos de comissões de formatura. As opiniões são distintas entre os alunos. Há quem concorde e quem questione. Segundo a UFG, no entanto, a mudança faz parte da tentativa de democratizar a cerimônia e impedir que ela se torne um espetáculo caro, que não raro se torna empecilho financeiro à participação de muitos.
Conforme as novas determinações, o custo máximo da colação deverá ser de até R$ 100 por aluno. O valor já deve incluir aluguel de beca e despesas com decoração. “A intenção é chegar ao custo zero nos próximo anos”, explica o assessor de relações públicas da UFG, professor Venerando Ribeiro de Campos. Segundo ele, a universidade também pretende obter um estoque de becas para serem usadas sem custo algum. “Como ainda estamos em período de transição, algumas coisas estão sendo negociadas.”
A universidade decidiu ainda implementar outra mudança significativa: a partir deste ano, o formando recebe o diploma já no ato da colação. Até então, havia somente uma representação da entrega do documento, disponível de verdade semanas ou meses depois.
O sorriso do novo bacharel em engenharia civil André Fraga, 22 anos, na semana passada, momentos antes de sua colação, demonstrava um pouco de alívio. Integrante da primeira turma da UFG a realizar a solenidade no novo espaço e sob as novas condições na última quinta-feira, André disse que o clima era de receio entre os colegas antes da solenidade. “O medo era que fosse sem graça. Mas me surpreendi”, diz ele, que ainda elogiou o local pelo amplo espaço e a gratuidade, que fez a turma economizar com aluguel.
Manifestações
Aluno da mesma turma, Vítor Soares Zanini, 23, tem ressalvas. “Não gostei da proibição das manifestações dos amigos e família.” Ele se refere à restrição cuja cobrança vem sendo intensificada nos últimos. A determinação existe há algum tempo, mas agora a UFG tem mais facilidade para fiscalizar e coibir o uso de apitos, artefatos sonoros e faixas ostensivas, já que a segurança é feita por guardas.
O principal temor entre os alunos é que a cerimônia perca em animação. De acordo com Venerando, é uma preocupação desnecessária. “A proposta é oferecer um espaço grande, com equipamentos de som e vídeo, mas não tirar a comemoração de ninguém.”
Para a formanda Renata Fernandes, 23, que também colou grau semana passada, isso é positivo. “Foi legal para dar chance para todos pegarem o diploma juntos”, explica. Ela afirma, no entanto, que o cerimonial da universidade ainda terá de acertar pequenos detalhes como precisão de som e iluminação. “Mas são coisas que o tempo corrige.” Na sua visão, a cerimônia deve ser formal, sem agitação. “É para isso que temos o baile.”
Adaptações
De acordo com representantes de comissões de formatura, as mudanças inicialmente geraram controvérsias entre alguns alunos, mas depois houve consenso. “Estamos tranquilos em relação ao compromisso que a universidade fez conosco”, diz Irom Pires, presidente da comissão da turma de medicina. O grupo será o segundo a colar grau pelas novas regras no Centro de Eventos da instituição, amanhã – sexta-feira será a vez do curso de enfermagem.
O fato de terem sido os primeiros, segundo Mariana Queiroz, da comissão de engenharia, gerou insegurança entre formandos de sua turma. “Muitos acharam que a colação poderia perder em glamour. Mas, mesmo que não tenha ficado 100%, foi muito melhor do que esperava”, elogia. Como a nova determinação saiu no meio da organização da formatura, iniciada há quatro anos, ela conta que foram necessárias adaptações. “Acabamos aproveitando o dinheiro que sobrou para outras coisas.”
A turma de medicina que se forma amanhã conseguiu uma economia por aluno de 90% em relação ao valor planejado inicialmente. “Tínhamos separado R$ 1 mil para cada só na colação. Com a novidade, vamos gastar somente R$ 100”, compara Verena Nunes, uma das responsáveis pela parte de eventos da comissão do curso. Os 106 formandos que receberão o canudo amanhã juntaram cerca de R$ 5 mil, cada um. O dinheiro que sobrou foi destinado para incrementar baile, culto ecumênico e aula da saudade.
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ANÁLISE
Decisão ponderada
A discussão para diminuir custos e respeitar a solenidade da colação de grau não é nova. Em diversas ocasiões, O POPULAR mostrou a espetacularização que vinha tomando conta das formaturas, especialmente nesta cerimônia. A questão não é restrita só a alunos da UFG, já que outras instituições importantes, como a Universidade Católica (UCG) e a Universidade Estadual de Goiás (UEG), também discutem o tema. Elas também planejam tomar iniciativas semelhantes à da UFG.
A preocupação deve ser focada principalmente contra preços proibitivos e que também desvirtuam o aspecto acadêmico da colação. É uma atitude ponderada, já que, pelo menos quando se refere às instituições públicas, a prioridade deve ser sobre alunos carentes. Afinal, minimizar custos faz parte da busca por uma situação – ainda não alcançada – de que todos, sem exceção, possam ter acesso à universidade de qualidade e gratuita. (R.A.)