Canteiros de obras invadem ruas da Capital

Canteiros de obras invadem ruas da Capital (Diário da Manhã, 29/01/09)

Prédios residenciais e comerciais em obras geram transtornos que infernizam moradores próximos às edificações. O calvário dos residentes vizinhos dessas grandes obras começa com poeira e lama e continua com queda de material, muito barulho, mais poeira e confusão no trânsito.

A comerciante Joimar Aparecida Aguiar teve o azar de viver em bairro tomado de assalto pela especulação imobiliária, o Negrão de Lima, sacudido, nos últimos cinco anos, por construção simultânea de prédios. Joimar mora ao lado de um terreno onde a Construtora Moreira Ortence levanta um prédio residencial. Ela reclama que o barulho intenso começa às cinco horas da manhã. “Eles começam cedo demais. Não vejo a hora desta construção terminar.”

A casa de Joimar fica no cruzamento das ruas Dona Stella – onde o prédio está em construção – com Dona Santinha. Além do barulho interminável, a obra provoca transtornos no trânsito. “Eles impedem o trânsito para descarregar material. Ninguém passa.” Outro efeito da obra é a queda de material. Um ferro já despencou do edifício e caiu na área de churrasco da casa. “Se tivesse alguém lá no momento, teria acontecido uma tragédia”, diz Tainã, filha adolescente de Joimar.

Vinicius Gomes, 24, professor de Geografia na Universidade Federal de Goiás, vê mais um problema na proliferação de prédios altos no Setor Negrão de Lima. “Os empreendedores só visam lucro. Ninguém é contra a construção de moradias, mas os espaços urbanos precisam ser ocupados de forma ordenada. Acho que o tamanho dos prédios e a área de construção nos lotes deveriam ser limitados”, opina.
No Jardim América, as obras de ampliação do Goiânia Shopping, tocadas pela Construtora Maia Borba, incomodam moradores e comerciantes. O barbeiro Antônio Gomes, 72, o “Toninho”, estabelecido na Rua C-235 há dez anos, diz que a poeira, a lama e o barulho fazem parte de sua rotina de trabalho há mais de um ano. “Está demorando muito. Estou esperando terminar para fazer uma reforma no salão. Quando faz sol, vem muita poeira.”
Segundo o profissional, a clientela diminuiu depois que as obras iniciaram. “Só tenho um movimento regular porque fiz clientes cativos em muitos anos de trabalho. Removeram muita terra aqui. O transtorno foi grande.”
Para Danila Sousa, 23, comerciante na Rua C-244, as obras do Goiânia Shopping significaram barulho e poeira por longo tempo. “O barulho já passou, mas a poeira ainda chega à loja. Não deixa de incomodar”, diz.
A construção de uma torre pela EBM Incorporações S/A, no cruzamento da Rua 52 com a Avenida Jamel Cecílio, no Jardim Goiás, criou um canteiro de problemas para pedestres e veículos no local. Na manhã do dia 22 (quinta-feira), três containers, montes de tijolos e pedras impediam a circulação de pedestres pela calçada da Rua 52 e os veículos parados dificultavam a passagem de outros carros pela rua.
No Alto da Glória, bairro que está se transformando rapidamente em “paliteiro”, tomado por edifícios altos, a construção de uma torre de 31 andares e complexo de lojas pela empresa TCI provoca incômodos.

A obra, na Rua Teresina, carrega o corolário de problemas comuns a todas as grandes construções em andamento em Goiânia. A cabeleireira Rosaltina Rodrigues de Sá, 35, trabalha há seis anos em um salão que fica a poucos metros da obra. Ela diz não ver a hora de se livrar dos transtornos. “Graças a Deus, está perto de terminar. Todos esses prédios jogaram água na rua, trouxeram lama e poeira, muito barulho e complicação no trânsito.”

Empresas respondem reclamações

A Maia Borba, responsável pela construção da obra do Goiânia Shopping, informou, por meio de seu representante, Marcos Mineo, que toma medidas para diminuir os transtornos. “Fazemos a limpeza após todas as saídas de caminhão. Realizamos lavagens três vezes por dia para evitar poeira”, afirmou.
A Moreira Ortence informou, por meio do coordenador de obras D’Ávila Batista Vieira de Souza, que, para amenizar o barulho, coloca a betoneira no subsolo e inicia o turno dos carpinteiros, responsáveis pelo som das marteladas, às 7 horas. “Proibimos os carpinteiros de chegarem às 5 horas.” Sobre a sujeira das ruas, diz que a limpeza é feita diariamente. Para evitar queda de material, são colocadas redes de proteção.

A EBM informou, por meio da supervisora de Meio Ambiente e Saúde da empresa, Carla Rodrigues, que as principais queixas dos moradores são contra o ruído e a poeira. “Orientamos e treinamos os funcionários para molhar os rejeitos a fim de diminuir a poeira. Nos horários em que as pessoas ficam mais concentradas em casa, não fazemos remoção de entulhos.” Alguns materiais não podem ser colocados diretamente dentro da obra. “Os tijolos são colocados na calçada. Nossa orientação é que sejam removidos imediatamente após a descarga e mandamos lavar a calçada.”

Diretora de Marketing da TCI, Cynthia Alexandra também responde. “Quando o prédio é levantado, cercamos tudo com tela. Isso reduz muito os transtornos. Quando há trabalhos que podem causar mais impacto, informamos à vizinhança. Temos oficina própria. Trabalhamos com o conceito de indústria. Quanto mais componentes prontos chegam à obra, o ruído, a poeira e os entulhos diminuem.”