Cota abre porta em mais concorridos

 

Cota abre porta em mais concorridos (O Popular, 11/02/09)

Nas dez graduações com maior concorrência
na UFG, 84,5% das vagas para cotas foram preenchidas

Adriano Marquez Leite

O preenchimento de vagas nos cursos mais concorridos da Universidade Federal de Goiás (UFG) revelou que o sistema de cotas foi fundamental para a inclusão de negros e egressos de escolas públicas. Em uma média geral, somente 28,4% do total de vagas reservadas foram preenchidas no vestibular divulgado ontem pela UFG, contudo nas dez graduações com maior concorrência este número sobe para 84,5% das vagas reservadas.

Entre as 527 vagas oferecidas pelos 10 cursos mais concorridos, 110 (20,9%) foram reservadas para o sistema de cotas e preenchidas por 93 alunos. Enquanto entre as 55 vagas para alunos da escola pública 14 vagas não foram ocupadas, nas outras 55 reservas para alunos negros, somente 3 cadeiras no curso de medicina veterinária não foram ocupadas.

Os índices devem refletir em aumento na quantidade de alunos da rede pública que estudam na UFG. Historicamente, os alunos da escola pública são cerca de 50%, só que geralmente ocupam as graduações menos procuradas nos vestibulares da instituição - o que deve sofrer mudanças com a aprovação de alunos por meio de cotas para os cursos com maior demanda.

A relação entre a quantidade de alunos por vaga nos cursos e o ingresso na universidade por meio das cotas é direta: à medida em que demanda pelas graduações é reduzida, também diminui a necessidade pelas vagas reservadas para o sistema de cotas, criado pelo programa UFG Inclui. O resultado é que apenas 5,8% das 5.174 vagas oferecidas nesse vestibular da UFG foram preenchidas por alunos através do sistema de cotas.

Isso ocorreu porque das 525 vagas que a UFG ofereceu especificamente para os estudantes de escola pública, somente 75 foram necessárias para que o alunos ingressassem na universidade. A consequência dessa relação é que, dentre as 118 graduações oferecidas pela UFG, os alunos provenientes de escolas públicas não precisaram de nenhuma vaga das cotas reservadas para 93 graduações - a maioria cursos de licenciatura, que têm procura menor devido à baixa valorização de professores pelo mercado de trabalho.

No entanto, a situação dos alunos negros oriundos de escola pública é mais preocupante. Das 525 cotas reservadas para estes estudantes, 224 foram utilizadas, mostrando que a formação destes alunos ainda é mais precária que a dos estudantes do sistema público de uma maneira geral. Em 72 dos 118 cursos oferecidos pela UFG, negros egressos de escolas públicas só foram aprovados por causa do sistema de cotas.

Mas quando se trata do ponto de corte geral, os alunos que se inscreveram pelo sistema de cotas obtiveram médias superiores na maioria dos cursos, em relação aos estudantes que realizaram a prova pelo sistema universal, sem reserva de vagas. Exatamente o contrário do que ocorreu entre as 10 graduações mais concorridas.

Ponto de Corte
O resultado do vestibular deve ocasionar uma onda de recursos judiciais contra a UFG, por causa do sistema de cotas utilizado pela primeira vez no processo seletivo da universidade. São alunos que tentaram o ingresso por meio do sistema universal de vagas, tiraram notas maiores que dos alunos que ingressaram pelo sistema de cotas, mas não obtiveram sucesso, uma vez que não alcançaram o ponto de corte universal.

Por causa do sistema de cotas, a quantidade de pontos que um aluno precisou fazer nas duas fases do vestibular deste ano é superior aos mesmos pontos que foram necessários para que um aluno fosse aprovado no vestibular de 2007/8.

Contudo, pessoas ligadas à instituição acreditam que os recursos não têm procedência e, portanto, o resultado divulgado pelo Centro de Seleção não será alterado.

Em uma análise geral das pontuações da UFG, a nota de corte para aprovação dos alunos inscritos pelas cotas para negros foi inferior que a pontuação dos estudantes que são egressos de escolas públicas. A pontuação destes alunos só é menor do que a pontuação universal nos chamados cursos de elite, entre eles os dez mais concorridos.

Dentre os cursos com maior demanda no vestibular, a pontuação mínima para a graduação de farmácia é que apresenta maior variação nas notas de corte: 50%. Para quem prestou o exame universal, a nota mínima para aprovação foi de 146, enquanto a para o sistema de cotas foi de 76. Entre os 10 mais concorridos, outras grandes variações do ponto de corte ocorreram em arquitetura e urbanismo, veterinária e nutrição.