Pelo trote solidário

Pelo trote solidário (Diário da Manhã, 14/02/09)

Não há nada mais gratificante na vida de um estudante que passar no vestibular. Motivo de festa para o mesmo, bem como para toda a sua família, já que a conquista de uma vaga na universidade representa a vitória de um esforço pessoal somado à dedicação e ao incentivo de outros.
Entretanto, nos últimos anos, esta conquista tem sido manchada por notícias como as que nos informaram nesta semana. Só para citar um exemplo, em Santa Fé do Sul, no Estado de São Paulo, duas jovens sofreram um trote violento na porta da Fundação Municipal de Educação e Cultura, sua nova casa de estudo.
As moças, uma de 17 anos e outra de 18, grávida, sofreram queimaduras devido a um líquido jogado por uma “veterana” em suas costas, coxas e nádegas. A brincadeira tornou-se um crime violento.
Ainda na segunda-feira, em Leme, também interior de São Paulo, o calouro de Medicina Veterinária, Bruno César Ferreira, 21, sofreu trote violento e chegou a ficar em coma alcoólico. Os suspeitos são dois estudantes veteranos do mesmo curso universitário.
Na terça-feira (10), um calouro da UFG (Universidade Federal de Goiás) foi vítima de agressões da Polícia Militar durante um trote em Goiânia. Os policiais foram ao local da comemoração, porque um grupo consumia bebidas alcoólicas em um parque municipal, onde a prática é proibida. O exagero inconcebível por parte do policial será investigado, e as medidas serão tomadas pelo comando.
Tenho certeza de que o leitor já ouviu falar sobre tragédias, que envolveram até mortes nestes trotes violentos e covardes. É necessária, através de uma verdadeira “força-tarefa”, a união do poder público com as instituições de Ensino Superior, os centros acadêmicos das mesmas e os próprios familiares dos calouros para que o trote universitário volte a ser apenas uma brincadeira e não um atestado de criminalidade.
A primeira coisa a ser feita é banir a bebida alcoólica destas comemorações. Bebida alcoólica sempre está associada a desgraças. Deve ser proibida a venda de bebidas alcoólicas dentro e nas proximidades das instituições de Ensino Superior. Se quiserem beber para comemorar, que seja em casa.
Segundo, é necessário cobrar das instituições de ensino e dos centros acadêmicos posições mais firmes contra os “veteranos agressores”. Esta minoria de baderneiros irresponsáveis não pode representar a maioria de estudantes bem-intencionados que há nos centros de Ensino Superior. Aqueles, quando pegos em ato de violência contra novos alunos, deveriam ser sumariamente expulsos das faculdades e ainda entregues às autoridades competentes. Deve se cobrar destas instituições de ensino um sistema de segurança eficaz, com homens bem-treinados e ainda sistema de câmeras para flagrar estes e outros atos ilícitos.
Por fim, deve ser feita uma ampla e eficiente campanha na sociedade, pelo trote solidário. Já houve iniciativas bonitas que deveriam ser adotadas nas instituições de ensino, como doação de sangue por parte dos calouros ou mesmo a doação de um quilo de alimento não-perecível para que venha ser doado a famílias carentes ou mesmo a instituições sociais.
Escrevo em prol do trote solidário. Não sou contra as brincadeiras inofensivas. Quando passei no vestibular, minha mãe e minha avó fizeram questão de cortar meu cabelo e quebrar alguns ovos na minha cabeça. Este tipo de brincadeira, desde que consentida, é bem- vinda. Mas nada substitui o trote solidário em que outras pessoas marginalizadas poderão ser abençoadas pelos novos universitários.
Comemorar a vitória no vestibular é um direito de todos os estudantes que sacrificaram seu lazer em prol de obter sucesso profissional. Mas não podemos esquecer que a minha liberdade termina onde inicia a liberdade do meu próximo. Devemos comemorar sim, mas nunca perder a nossa civilidade.
Aos aprovados na UFG, UEG, Católica e outras instituições de ensino do Estado, meus sinceros votos de felicitações. Comemorem bastante, sem exagerar. E que os veteranos recebam seus calouros com solidariedade, que é típica de pessoas civilizadas.


Fábio Sousa é deputado estadual pelo PSDB, primeiro-secretário do PSDB goiano e presidente da Comissão de Constituição e Justiça da
Assembleia Legislativa. www.fabiosousa.com.br