Idec reprova 30 produtos destinados a crianças
Idec reprova 30 produtos destinados a crianças (Diário da Manhã, 14/02/09)
Pesquisa do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) analisou 30 alimentos industrializados destinados a crianças e detectou teores de açúcar, sal e gorduras acima do ideal. Além disso, alguns apresentaram teores nutricionais acima do descrito na embalagem, o que pode levar o consumidor a exceder sua cota diária de gordura ou sódio.
“Selecionamos os produtos por terem grande apelo entre o público infantil. Muitos deles têm brindes e bichinhos na embalagem ou usam a imagem de personagens famosos”, explica Carlos Thadeu de Oliveira, gerente de informação do Idec e responsável pela pesquisa. Segundo a análise, o bolinho de morango Nhamy, da Nutrella, foi o que apresentou maior variação em relação ao valor no rótulo: 237,5% mais gordura saturada. Em segundo lugar está o bolinho de baunilha e chocolate Gulosos, da Bauducco, com 114,3% mais gordura saturada que o registrado.
“A legislação brasileira tem uma tolerância de até 20% de variação nos valores expressos, mas nesses casos a discrepância está muito acima do permitido”, afirma o gerente do Idec. Ele destaca ainda que em alguns produtos que se apresentam como livre de gordura trans foi detectada a substância. “No rótulo do salgadinho de bacon da marca Magikitos consta 0%, mas foi encontrado 1,66 grama de gordura trans por porção.” Procurada, a empresa afirmou que "destaca na embalagem os valores nutricionais apurados em análises feitas por empresas qualificadas. Mas que vai analisar os laudos apresentados pelo Idec e, se realmente constar alguma desconformidade, corrigirá imediatamente”.
A Bauducco “reitera seu compromisso com a qualidade e correção das informações sobre seus produtos, porém por não ter acesso à avaliação realizada pela entidade, fica impossibilitada de prestar maiores esclarecimentos.” A Bimbo disse que a marca Nutrella foi adquirida recentemente e os produtos estão sendo reavaliados.
Sacarose
O excesso de sacarose, considerado o pior dos açúcares, foi outro problema apontado pela pesquisa. “A legislação brasileira não obriga os fabricantes a discriminar, entre os carboidratos, o que é amido, o que é açúcar, mas os nutricionistas recomendam que o açúcar não deve corresponder a mais de 25% do consumo de carboidratos”, explica.
O gerente do Idec destaca o caso dos muffins orgânicos SuaviPan . “O produto tem apelo saudável, por ser orgânico, mas quase metade de seu peso corresponde a açúcares. Foram 19,68 gramas em uma porção de 40 gramas.” O dono da Suavipan, Paulo Roberto Cristino, diz que apenas 20% dos açúcares correspondem à sacarose, o restante corresponde à farinha orgânica e à lactose do leite integral. Ele ressalta que 96% dos ingredientes usados são orgânicos e apropriados para o consumo das crianças.
No quesito sal, diversas marcas de salgadinhos ultrapassaram, na porção de 100 gramas, o recomendado para o consumo diário, que é 1 grama pelo padrão do Reino Unido (a Anvisa utiliza valores menores - mais informações nesta página). O campeão foi o Yokitos bacon, da Yoki, com 1,3 grama na porção. A empresa alegou que não teve tempo hábil para analisar os resultados da pesquisa, mas que fará análise detalhada e apresentará o resultado ao Idec.
Os piores resultados para gorduras saturadas ficaram com os salgadinhos Ruffles original e Pringles sabor bacon, respectivamente com 4,66g e 3,41g por porção de 25g. O limite máximo recomendado para crianças de 4 a 6 anos é 16g diários. “Se a criança comer 100g de Ruffles e um bolinho Ana Maria de 60g já terá ultrapassado o limite recomendado em uma única refeição”, alerta Oliveira.
Para a nutricionista Renata Maria Padovani, do núcleo de estudos e pesquisas com alimentos da Unicamp, não há um limite semanal seguro para consumo desses produtos industrializados. “Uma vez por semana já é considerado hábito. E o consumo desse tipo de alimento deve ser muito eventual”, diz. “O consumo excessivo de gordura saturada interfere na saúde cardiovascular, você já começa na infância o processo de arteriosclerose. Excesso de sódio pode elevar a pressão, fator de risco para problemas cardiovasculares e renais.”
A nutricionista Tânia Aparecida Pinto, professora da Faculdade de Nutrição da Universidade Federal de Goiás (UFG), explica que os cuidados com a alimentação infantil devem começar antes do parto. “A gestante tem que eliminar as gorduras trans que são antangonistas do ômega 3.”
Cardápio livre de aditivos químicos e industrializados
Alexandre Augusto Marçal, 6, come pratos de salada de verdura com evidente prazer. Nas festas, quando lhe oferecem refrigerantes, aceita todo educado, mas nem prova. Prefere água. Doces, Alexandre aceita muito raramente e em pequenas quantidades.
Para desenvolver esses hábitos alimentares, os pais de Alexandre Augusto, Ênio Alexandre Lima, e Dione Marçal, ambos farmacêuticos, cortaram radicalmente açúcares industrializados e aditivos químicos de seu cardápio. Acostumado às frutas e verduras e aos alimentos frescos, feitos em casa, o garoto não desenvolveu o gosto pelas chamadas guloseimas. “A partir dos seis meses, quando começou a ingerir sólidos, eliminei o açúcar industrializado. Ele não tem essa compulsão pelos doces.”, conta a mãe.
O treinamento do menino para desenvolver o paladar para as comidas naturais deu resultado. Alexandre sempre teve o peso compatível com a idade e não teve problemas intestinais comuns em crianças. “Até os dois anos, ele não comeu doces nem salgadinhos industrializados, e não bebeu refrigerantes. Agora, mesmo na escola, quando lhe oferecem, pode aceitar, mas muito pouco”, se orgulha a mãe.
Para a nutricionista Tânia Aparecida Pinto, da Faculdade de Nutrição da UFG, as únicas formas de evitar a ingestão em excesso de sal, gorduras trans e açúcares presentes nos produtos industrializados é selecionar fornecedores confiáveis e limitar a ingestão.