Cerrado perderá 10 DFs até 2050
Cerrado perderá 10 DFs até 2050 (O Popular, 16/02/09)
Desmatamento avança em áreas consideradas prioritárias para conservação
Vinicius Jorge Sassine
O Cerrado vai encolher mais 8%, com perdas de 160 mil quilômetros quadrados até 2050. O tamanho da devastação equivale a 10 áreas do Distrito Federal (DF), a quase metade do Estado de Goiás ou a 1 milhão de estádios do tamanho do Serra Dourada.
É este o mais recente prognóstico para o bioma devastado com maior rapidez no País, traçado por pesquisadores do Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento (Lapig) da Universidade Federal de Goiás (UFG). O estudo, recém-concluído, está prestes a ser publicado em uma revista científica internacional. Se o desmatamento do Cerrado continuar no atual ritmo, 40 mil quilômetros quadrados de vegetação serão perdidos a cada década.
As estimativas apontam que de 40% a 55% do Cerrado já foram desmatados. Em Goiás, a situação é ainda pior: já foram devastados 65% da vegetação. Do que restou no Estado, somente 12% estão protegidos em parques, reservas e áreas de preservação permanente (APPs).
O prognóstico para 2050 encontra ressonância no desprezo à preservação do Cerrado e numa triste ironia. Mais de dois terços da extensão das áreas do bioma consideradas prioritárias em Goiás já foram devastados. O Ministério do Meio Ambiente (MMA) definiu que 400 áreas no Cerrado – 66 em Goiás – têm prioridade para conservação, em razão da riqueza da biodiversidade. Mas, enquanto estudos são feitos e informações sobre essas áreas ainda são levantadas, o desmatamento já consumiu 67,5% da vegetação típica das áreas consideradas prioritárias em Goiás.
A destruição do Cerrado exatamente nos pontos que deveriam estar conservados aparece de forma precisa em um levantamento de imagens de satélite feito pelo Lapig. A pedido do POPULAR, técnicos do laboratório analisaram por uma semana o mapa de áreas prioritárias em Goiás produzido pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA). A constatação é desoladora: dos 132,1 mil quilômetros quadrados de áreas consideradas ricas em biodiversidade, 89,1 mil já não existem mais. A informação é desconhecida pelo MMA e pela Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Semarh), órgãos oficiais responsáveis por políticas públicas de preservação do Cerrado.
Uma área prioritária, definida diante da riqueza da fauna e da flora encontradas na região, não é protegida por lei, mas pode ser transformada em um parque administrado pelo Estado ou pela União. As imagens de satélite mostram que resta muito pouco para preservar nessas áreas. Das 66 áreas definidas pelo MMA como prioritárias, 12 estão em uma situação mais crítica. Elas já perderam de 60% a 100% da vegetação, e estão em sua maioria no sul e no sudoeste, as regiões mais desenvolvidas do Estado. Em Goiás, o Cerrado está mais preservado na região nordeste.