Duas novas frentes desmatam área mais preservada do bioma

Duas novas frentes desmatam área mais preservada do bioma (O Popular, 16/02/09)

Destruição do Cerrado está ligada à expansão das fronteiras agrícolas e das cidades, ao desflorestamento da Amazônia e ao avanço das atividades mineradoras

Vinicius Jorge Sassine

Duas novas frentes de devastação do Cerrado estão em curso. A primeira se concentra em áreas já consolidadas por atividades agrícolas, em especial no oeste da Bahia, no Piauí e no Maranhão, estes dois últimos entre os que mais preservam a vegetação. A outra frente de expansão se estende do sul do Tocantins ao norte do Mato Grosso, “espelhando o desflorestamento da Amazônia”, segundo a projeção de novos desmatamentos feita por pesquisadores da Universidade Federal de Goiás (UFG). “Entre estas duas frentes, observam-se desmatamentos pontuais no nordeste goiano, no norte de Minas Gerais e em algumas partes do Mato Grosso do Sul”, concluem no estudo.

Dos 160 mil quilômetros quadrados que podem ser desmatados até 2050, 60 mil devem ser convertidos em novos cultivos agrícolas. “Para o Cerrado, não houve até o momento controle de desmatamentos em áreas de vegetação nativa”, diz o estudo. A pecuária, a agricultura – em especial a monocultura da cana –, a expansão urbana e atividades mineradoras são os principais motivos para o desmatamento do Cerrado.

Áreas com maior declividade e com baixa fertilidade também passaram a atrair a atenção de empreendimentos agropecuários. “Nas últimas décadas, a fertilidade vem deixando de ser um fator limitante à ocupação do Cerrado, devido à incorporação de novas técnicas de plantio e adubação.” O estudo constatou ainda que a maioria dos desmatamentos ocorre a menos de dois quilômetros das rodovias, o que facilita o escoamento da madeira destinada à fabricação de carvão. A devastação também está concentrada – num raio de cinco quilômetros – em áreas já convertidas pela agropecuária, uma forma de encurtar distâncias para a produção agrícola.

A estimativa de um desmatamento no Cerrado equivalente a dez áreas do Distrito Federal (DF) é considerada, ainda assim, conservadora. Os 160 mil quilômetros quadrados de Cerrado que devem ser desmatados até 2050 não devem corresponder à realidade de devastação do bioma nos próximos 40 anos, segundo a Conservação Internacional. A organização não-governamental (ONG) chegou a estimar, numa projeção anterior, que todas as áreas nativas de Cerrado podem ser desmatadas até 2030, se ações de preservação forem ignoradas.

A Conservação Internacional e o Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento (Lapig), da UFG, preparam uma estimativa de desmatamento no Cerrado mais detalhada do que o estudo prestes a ser publicado numa revista científica, que apontou a possibilidade de desmatamento de 160 mil quilômetros quadrados até 2050. “A devastação do Cerrado é da ordem de 1% a 1,5% ao ano, e por isso o primeiro levantamento está subestimado”, afirma o gerente do Programa Cerrado da Conservação Internacional, Mário Barroso. “O agronegócio é a força de devastação do bioma. Soja, cana, milho e algodão fazem parte de uma dinâmica, avançando um sobre o outro conforme as determinações do mercado”, afirma.

Uma saída sugerida é apoiar financeiramente a recuperação de áreas degradadas e pagar a proprietários rurais por serviços ambientais de preservação do Cerrado.