Saudosismo

Saudosismo (Diário da Manhã, 20/02/09)

Iniciei a contar histórias passadas no ambiente de Campinas, porque reviver antigas experiências, vividas ou ouvidas, é parte dos movimentos da vida. Campinas é o bairro onde cresci, e também representativo para diversas famílias goianas. Saudosismo é viver no passado. Vivo no presente sem deixar lembranças ausentes. O futuro é uma consequência de fatos acontecidos e acumulados no dia-a-dia, até mesmo a evolução tecnológica não acontece do dia para a noite, e sim, na maioria das vezes, de anos de experimentos. Uma revolução social só acontece da análise das condições de sociedades anteriores, seu passado, conhecendo as deficiências no presente para construir o futuro.

De Campinas, a formação do curso primário do Grupo Escolar Nhanhá do Couto, com seus uniformes de gola de marinheiro, e também o Grupo Escolar Henrique Silva e o Colégio São Francisco na Vila Coimbra foram as fontes de início do estudo de goianos, que prestaram e ainda prestam serviços relevantes ao Estado. A Escola Paroquial São Judas Tadeu, junto à Igreja São Judas Tadeu, foi onde terminei o curso primário, e ainda hoje convivo com alguns colegas. Nesta escola, tivemos a satisfação de ter convivido com Frei Nazareno Confaloni, artista e filósofo grande incentivador da cultura goiana, era uma época de idealismo. Nesta lembrança homenageando todos os mestres do curso primário, cito a professora Ilda Naves, pessoa de grande importância na minha formação intelectual. No curso ginasial, o ingresso era similar ao atual vestibular, para ingressar no Colégio Pedro Gomes ou na Escola Técnica de Comércio de Campinas para onde fui. Da minha turma saíram vários médicos, políticos, advogados e outros profissionais, na escola dirigida pelo casal de professores Rubens Carneiro e Dona Vandy. O Colégio Pedro Gomes era pleno de movimentação política, com ensino de alto nível, com a direção da prof. Lygia Rabelo, com dona Zizi e Paulo Marcelino. Quem queria enfrentar o vestibular de Medicina ou Engenharia, o caminho fora dos cursinhos era o Colégio Universitário, da Universidade Federal de Goiás, dirigido pela professora Iracema Caiado, onde se fazia o terceiro ano colegial ou o chamado científico, em tempo integral, refazendo as matérias do primeiro e segundo ano, no período da tarde.

Rememorar não é saudosismo, é homenagear um tempo vivido e útil para a formação pessoal.

Campinas antiga, com as ruas após a Praça Joaquim Lúcio, tinha o Cine Tocantins na esquina, que depois o Tonim transformou em cinema de arte, teve o Festival de Charles Chaplin. Havia as casas com esteio de aroeira, muitas já foram derrubadas, mas o que resta deveria ser restaurado e preservado. Havia o cemitério, que foi transformado em praça.

Tudo podia ser percorrido de bicicleta, de repente a cidade foi crescendo, o número de carros aumentando nas ruas, que continuavam estreitas, próprias para bicicletas e carroças, não sofreram adaptações para o progresso que acontecia rápido. Os novos bairros não aproveitaram os erros antigos, as ruas e avenidas foram asfaltadas estreitas. Veja o exemplo do Setor Bueno, uma verticalização intensa, com calçadas largas e ruas estreitas. O trânsito em caos nos horários de pico. Acredito que a Prefeitura de Goiânia tem pessoas capazes de avaliar o estado atual da cidade e planejar modificações para o bem-estar das gerações futuras. O centro da cidade, em degradação, nem parece que houve o esplendor da Rua 8 com o Cine Casablanca e o Lanche Americano, a Avenida Tocantins, o Cine Goiânia e o Cine Ouro, que eram pontos de referência nos programas de domingo. A Pizzaria Cento e Dez é uma peça de resistência, sobrevivendo no lugar de origem.

Saudosismo também pode ser uma crítica, não como motivo de reflexão de volta ao passado, mas uma crítica de avaliar a situação atual da cidade, lembrando que em épocas de maior simplicidade e menor quantidade de recursos de toda a natureza, a atividade social era mais intensa. Hoje os valores são outros, temos uma população maior, mas se não são vistos os erros e acertos do passado, fica difícil planejar ações de longo prazo, beneficiando as gerações futuras.

Planejar e fazer ações de bem-estar social para longo prazo não trazem ganhos políticos imediatos, mas o realizador demonstra que o seu lugar na história está pronto.

Lindomar Guimarães
é médico-ortopedista