Contando história
Contando história (Diário da Manhã, 01/03/09)
Diz um velho cancioneiro, em um dos versos de sua bucólica cantiga: “Feliz é aquele que tem história pra contar”. Se é verdadeira a assertiva daquele sertanejo, eu devo ser uma pessoa feliz, porque tenho histórias para contar e gosto de contá-las.
Dizem que velho só conta o que foi. Em parte, é o que estou fazendo, muito embora não me considere velha e esteja em plena atividade, integrando o Conselho Estadual de Educação.
São 57 anos de dedicação, que muito me honraram, iniciados num longínquo 13 de agosto de 1951, quando o ilustre goiano Cônego José Trindade da Fonseca e Silva, então secretário de Estado da Educação, nomeava-me “professor substituto” do Grupo Escolar Modelo, em Goiânia. Tinha eu 17 anos de idade. Assim, cada homenagem que recebo, também, vale como um registro histórico daquilo que pude fazer em mais de meio século pela educação, seja no Estado de Goiás, na Universidade Católica ou na Federal, seja no Estado do Tocantins, com a criação e implantação da Unitins.
Os anos 1960 foram muito importantes para a educação no Brasil, em especial em Goiás: aprovou-se a primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e, em decorrência, criaram-se o primeiro Sistema Estadual de Ensino e o Conselho Estadual de Educação.
Muitas inovações foram introduzidas no ensino do Estado, como a criação de quadros de técnicos educacionais (orientadores pedagógicos e educacionais e supervisores educacionais), lamentavelmente extintos mais tarde, o que, muito provável, ocasionou o declínio da qualidade de ensino, posteriormente registrado. À época, o ensino público era de primeira, haja vista a boa fama então atribuída às nossas escolas públicas, como o Lyceu de Goiânia, o Instituto de Educação de Goiás e o Colégio Pedro Gomes – chamado Lyceu de Campinas.
Sem dúvidas, a década de 1960 foi pródiga em criação: as Delegacias Regionais de Ensino, posteriormente chamadas de Superintendências, e existentes ainda hoje com a denominação de subsecretarias; os Centros de Formação de Professores Primários em Catalão e Morrinhos e o Centro de Formação de Supervisores Educacionais na cidade de Inhumas, instituições essas que deram grande impulso à educação pública; a Assessoria Técnica de Planejamento Educacional na Secretaria de Educação, o segundo órgão no gênero criado no Brasil, tendo sido o primeiro no Estado de São Paulo. Os especialistas em Planejamento foram formados em São Paulo, no Centro Regional de Pesquisas Educacionais, por meio de um convênio com a Unesco e Nações Unidas, e em Santiago do Chile, no Instituto Latino Americano de Planificación Económica y Social. Tive o privilégio de me qualificar pela duas instituições, vindo a ocupar o cargo e exercer a função de assessora técnica de planejamento educacional por 10 anos. Desse grupo de assessoras técnicas de planejamento, éramos cinco, restam duas: a profª Mindé Badauy de Menezes e esta que lhes fala. A elaboração e a aplicação do primeiro Plano Estadual de Educação foram frutos do trabalho dessa pequena equipe.
Também naquele período foi criado pelo Centro de Orientação Pedagógica, então existente na Secretaria da Educação, um método para alfabetização de adultos – que atingia um percentual significativo da população goiana – denominado “Goiás Quer Saber Mais”, método que chegou a ser considerado o melhor do Brasil pelo MEC e, por isso, estendeu-se por todo o País sob o título de “Saber Mais”. De tudo isso participei ativamente.
Em minha trajetória de trabalho, posso enumerar, ainda, minha passagem pelo Senac, pela Esefego, pela UCG, pela UFG, onde fiz carreira, pela Cepes/MEC, da qual fui conselheira, e pela Unitins, que fundei e onde atuei como primeira reitora.
Não dou por encerrada minha saga de batalhadora. Prosseguirei com minha missão. Portanto, não posso, ainda, repetir as santas palavras do apóstolo Paulo, pois se é verdade que conservo a fé, não é verdade que tenha terminado a tarefa.
Por tudo, dou graças; a tudo bendigo; por tudo louvo a Deus.
Maria do Rosário
é educadora e escritora. Ex-reitora da Universidade Federal de Goiás e da Unitins (TO) e ex-presidente da Academia Goiana de Letras e do Conselho Estadual de Educação