Cerrado perderá área igual à metade de Goiás
Cerrado perderá área igual à metade de Goiás (Jornal Hoje, 03/03/09)
Pablo Santos
O Cerrado, segundo mais importante bioma do País, terá seu desmatamento ampliado 14% até 2050 caso mantenha os atuais níveis de destruição. Com isso, uma área equivalente à metade do Estado de Goiás deverá perder sua vegetação nativa. A informação é de um estudo realizado pelo professor da Universidade Federal de Goiás (UFG) Manuel Eduardo Ferreira, intitulado “Modelagem da Dinâmica de Paisagem do Cerrado” e utilizado como tese de mestrado.
A pesquisa aponta que nas próximas quatro décadas o bioma deverá ter 960 mil km² de áreas devastadas, contra 800 mil km² registradas em 2002, uma média de 40 mil km² por década. Caso as expectativas se confirmem, a área preservada com mata nativa deverá ser em torno de um milhão de km². Outro ponto levantado é que até 2020, 60 mil km² do bioma deverão ser utilizados pela atividade agrícola da região, que engloba dez Estados, incluindo Goiás, e o Distrito Federal.
Para o professor de sociologia Fausto Miziara, orientador acadêmico de Manuel no trabalho, mais importante do que mostrar os índices de devastação do Cerrado, a pesquisa pode ser utilizada como ferramenta pelo Estado para tentar evitar que tais índices se concretizem. “A grande vantagem do modelo é apontar tendências, que podem ser utilizadas pela gestão pública para identificar áreas sensíveis e promover ações para evitar o desmatamento”. Tal modelo teria similaridade apenas com um outro estudo realizado na Amazônia.
“É um estudo pioneiro. O objetivo é criar um modelo de prevê o desmatamento, com pressuposto de continuidade do período e os fatores analisados nesse período”. Fausto diz que seu aluno se baseou em índices de desmatamento registrados entre 2002 e 2007, o que possibilitou fazer uma projeção para os próximos 40 anos. Para se chegar a este resultado foram utilizadas ferramentas como imagens de satélite, mapas e um software criado para avaliar o desmatamento na Amazônia.
O estudo apontou ainda que a fronteira agrícola no cerrado já tenha uma direção certa: as regiões Norte e Nordeste do País. “O trabalho mostra que as maiores devastações estão ocorrendo no norte do Mato Grosso e no Oeste da Bahia”, diz o professor. O motivo seria a ocupação dessas áreas por culturas como a soja. Além dos dois Estados, os índices de devastação no Piauí e no Maranhão também preocupam. Em relação a Goiás, o maior índice de devastação se encontra na Região Nordeste. Diferente dos demais Estados, o grande vilão goiano não é a soja e sim a produção de carvão.
Os índices apontados pelo estudo de Manuel são considerados bastante realistas pela ONG Oréades, sediada em Mineiros e que conta com projetos em todo o bioma do cerrado. O maior problema, diz o coordenador de projetos da ONG, Renato Alves Moreira, é a dificuldade de implementar ações resultantes desse estudo. “É válido, fundamental, mas desde que sejam implantados. O problema é a aplicabilidade mesmo”, disse o coordenador, que é agrônomo. Um dos motivos para a dificuldade de se implementar as ações seria a falta de preparo dos órgãos públicos para a isso. “Os gestores públicos não têm capacidade técnica para trabalhar com isso.” O objetivo do estudo realizado pelo professor da UFG vem de encontro com as ações da ONG, que visam o uso racional dos recursos do cerrado, sem sua depredação.
A reportagem procurou o secretário do Meio Ambiente do Estado, Roberto Gonçalves Freire, para analisar o estudo, mas não respondeu às ligações. Já o autor da pesquisa se encontra nos Estados Unidos, onde realiza um estudo de pós-doutorado.