Indústria da beca fatura R$ 5 mil por aluno

Indústria da beca fatura R$ 5 mil por aluno (Diário da Manhã, 06/03/09)

Mesmo em tempos de crise econômica mundial, formaturas são bons negócios não só para quem recebe o diploma. Becas, canudos, fotografias, convites, banda e buffet são alguns dos itens que, juntos, geram custo de R$ 2 mil por aluno, na melhor das hipóteses. A turma que optar pelos quatro eventos – aula da saudade, culto ecumênico, colação e baile – chega a pagar mais de R$ 5 mil por formando. Somente o mercado de fotos para o evento movimenta US$ 1 bi no País. Para o especialista, segredo para garantir prestações suaves é começar a arrecadar o dinheiro desde o primeiro semestre do curso.

Amanhã termina a jornada de cinco dias de festividades da formatura de Gracie Caroline Mortoza Faria de Oliveira, 28. Da turma de 59 alunos de Odontologia da Universidade Federal de Goiás (UFG), 55 estão participando dos eventos. Aula da saudade, culto ecumênico, colação de grau, jantar para os pais e baile chegaram a custar R$ 4.611 para cada formando.

Mesmo pagando montante que daria para comprar uma Honda Biz, Gracie diz que valeu a pena, já que a escolha da turma foi por requinte e luxo. Mas o diferencial é que o dinheiro para a formatura começou a ser arrecadado desde o primeiro mês do curso. “Até as pessoas de menor poder aquisitivo conseguiram pagar sem dificuldades”, ressalta.

Na hora da escolha, há os que optam só pela colação de grau e desembolsam média de R$ 800. E existem aqueles que querem tudo do bom e do melhor e chegam a pagar mais de R$ 5 mil com direito a todos os eventos. Esse foi o caso da formatura da turma de Nutrição, organizada pelo cerimonialista Ricardo Souza.

A aula da saudade rendeu dois dias em Pirenópolis, onde foi reservada uma pousada somente para esta finalidade. Segundo Ricardo, o culto ecumênico foi realizado em igreja confortável, com taxa até para uso do ar-condicionado. Já a colação de grau seguiu um pouco o lado “show”, mas respeitando o ato acadêmico. O baile de gala foi fantástico, na opinião do cerimonialista. “O investimento foi perfeito”, frisa. Banda de ótima qualidade, buffet, fotos memoráveis, filmagem DVD, espumantes e uísque. Tudo para a satisfação das formandas e dos familiares, com investimento de R$ 5.500 por aluna.

Imaginação
Ricardo explica que todo organizador de eventos de bom senso deve respeitar o padrão de evento que o cliente pode e quer fazer. “Toda imaginação é desperdiçada quando o cliente não pode executá-la. A arte está na simplicidade, com requinte e bom gosto”, diz. O cerimonialista conta que uma turma de Gestão de Recursos Humanos, com 22 formandos inicialmente, chegou a refazer projeto sete vezes para baixar os custos dos eventos.

Ao assinar os contratos individuais e assumir o ônus da formatura, somente oito formandos decidiram levar o sonho adiante. Com um detalhe: o mesmo orçamento que serviria aos 22 alunos inicialmente previstos. Ninguém quis compensar os valores ausentes. A turma reduziu as atividades e os padrões iniciais pagando R$ 6.520 pela formatura total, R$ 815 para cada formando.

O cerimonialista diz que não há crise no setor de formaturas, pois é um sonho alcançado por poucos no Brasil. Cerca de 6% da população brasileira consegue tamanha façanha. Na proximidade dos festejos, diz, há procura por aqueles que estavam fora do projeto. O baile de gala é que exclui maior parte dos formandos, pois o aluno assume compromisso dele e de seus convidados.

Em relação ao perfil dos formandos goianos, Ricardo conta que no projeto inicial eles exigem tudo. Nas alterações ao longo do tempo, excluem atividades para o valor caber no bolso. Segundo ele, geralmente, os melhores padrões de formatura estão nas turmas de Medicina, Direito, Engenharia, Nutrição, Biomedicina, Medicina Veterinária, Jornalismo e Odontologia.

A empresa de Ricardo, como a maioria em Goiânia, oferece planos aos formandos. Entre eles estão o plano básico (culto + colação), plano bronze (aula da saudade + culto + colação), plano prata (culto + colação + baile) e plano ouro (os quatro eventos). Em formatura, o número de participantes nos eventos é inversamente proporcional ao valor do investimento. “Se tivermos poucos formandos no culto, este terá um custo fixo elevadíssimo, tornando-o caro e inacessível”, exemplifica.

Diferencial
Cerimonialista Wasti Grasseschi diz que o diferencial das formaturas está na escolha dos eventos e no orçamento proposto pela turma. Segundo ela, hoje, com os novos cursos oferecidos pelas instituições de ensino, as formaturas deixam de se tornar tradicionais – como é o caso de Direito e Medicina – e se tornam diferenciadas para algo mais informal, como Gastronomia e Design de Moda.

Para garantir que o preço seja acessível, aconselha que a turma comece a juntar o dinheiro desde o primeiro ano de curso. Para Wasti, o perfil do formando é o item mais difícil para detectar. Ela diz que é cada vez mais raro encontrar uma turma homogênea no que diz respeito à condição financeira e social. “Às vezes são tão diferentes que desistem das festividades e cada aluno faz a sua”, frisa.



Comissão deve buscar referências de empresas

No momento da escolha do organizador, é essencial que a comissão de formatura pesquise sobre a empresa a ser contratada. Diretora-executiva do Centro de Convenções de Goiânia, Sandra Mendez explica que normalmente as comissões são formadas por jovens de, em média, 20 a 25 anos, que às vezes se deixam levar pelo preço mais baixo. E que no final sai caro. “Uma empresa oficializada possui custo”, lembra.

Para fugir de “calotes”, Sandra diz que o primeiro passo é solicitar portfólio e referências de pessoas que já utilizaram os serviços da empresa a ser contratada. Na hora de assinar os contratos, a diretora sugere que os alunos solicitem um especialista no assunto para analisar as cláusulas. Outra dica é que os próprios formandos administrem o dinheiro arrecadado pela turma.

Para aliviar o bolso dos formandos, a UFG criou um espaço para realizar a colação de grau, que já está em funcionamento desde janeiro e oferece som, iluminação, estacionamento e segurança próprios. Os formandos pagam até R$ 100 como valor simbólico para colar grau no local.

A turma da formanda em Engenharia Elétrica da UFG Lívia de Oliveira Ribeiro, 24, chegou a economizar cerca de R$ 1 mil por aluno com a utilização do espaço. Segundo ela, somente 40 alunos iriam participar dos eventos. Com a economia, toda a turma resolveu participar. Mesmo com a economia, a formatura, com direito a aula da saudade, culto, colação e baile, saiu por R$ 2.700 para cada um.