Parte da história de Goiás na rede

Parte da história de Goiás na rede (Diário da Manhã, 07/03/09)

Resgatar a história de Goiás a partir da implantação de um banco de dados na internet e disponibilizar, de forma digitalizada, todo o acervo de áudio e vídeo do Museu da Imagem e Som (MIS). É com este objetivo que será lançado, no próximo dia 15, em caráter experimental, o novo site do MIS, unidade da Agência Goiana de Cultura Pedro Ludovico Teixeira (Agepel).

O projeto é patrocinado pela Petrobras, através da Lei Rouanet (Lei Federal de Incentivo à Cultura, nº 8.313/91), que investiu recursos para a recuperação e digitalização dos acervos fonográfico e videográfico do MIS. Os trabalhos começaram em agosto de 2008 e deverão ser concluídos ainda este ano. Ao todo, o projeto compreende quatro fases: digitalização, masterização, catalogação e implantação do banco de dados e do site.

A página virtual servirá como fonte de consultas para pesquisadores, estudantes e público em geral, com temas referentes à história socioeconômica e cultural de Goiás. O material foi doado pela Rádio e TV Brasil Central, emissoras ligadas à Agência Goiana de Comunicação (Agecom), e grande parte das aproximadamente mil fitas U-Matic, doadas ao MIS pela TBC, já foi digitalizada. As imagens de cada fita serão transportadas para dois DVD’s, dos quais, um será para consulta pública e outro servirá de reserva (back-up), e as matrizes, por sua vez, serão corretamente arquivadas.

Coordenado pela especialista em museologia e diretora de Patrimônio Histórico e Artístico da Agepel, Tânia Mendonça, o projeto de digitalização dos acervos do MIS/Agepel tem a consultoria da musicista Maria Augusta Calado e da jornalista Virgínia Daumas, respectivamente, nas áreas fonográfica e videográfica. Participam também do trabalho profissionais especializados em produção de vídeo e em pesquisa e catalogação de acervos, entre eles as jornalistas Lúcia Camiller e Rosângela Aguiar, os historiadores Weusder Monteiro, Guilherme Talarico e Keith Tito, e as técnicas em catalogação Lívia Chaud e Luciana Oliveira.

Completam a equipe a design Ana Bandeira, o Estúdio da Escola de Música da Universidade Federal de Goiás (UFG), a Ideia Produções e a Infocomp, que cuidam, respectivamente, do design gráfico, da digitalização dos acervos fonográfico e videográfico, da produção do banco de dados e da criação do site do museu.

Este é o segundo projeto da instituição histórica que conta com patrocínio da Petrobras, via Lei Rouanet. Entre 2005 e 2006, foram destinados recursos visando à higienização e compra de equipamentos para adequado armazenamento do acervo fonográfico da Rádio Brasil Central, doados ao museu. Ao todo, foram vistoriados mais de 40 mil discos em vinil (LPs).

Banco de dados
A partir do dia 15, serão divulgadas, no site, informações sobre a história da TV e Rádio Brasil Central (TBC/RBC), cujo acervo é bastante diversificado. Há, nos arquivos, desde depoimentos dos pioneiros das duas emissoras até reportagens, documentários e programas veiculados pela TBC nas décadas de 1970 e 1980. É importante destacar que parte do material foi danificada em decorrência de um incêndio ocorrido em 1994, e algumas fitas foram totalmente consumidas pelo fogo. Mas cerca de 98% das matrizes se encontram recuperadas.

Para a coordenadora Tânia Mendonça, a relevância do projeto consiste na oportunidade de se criar uma fonte importante de pesquisa no Estado, destinada a atender estudantes, pesquisadores, músicos, cineastas e público em geral, com eficiência e qualidade. “A digitalização dos acervos fonográfico e videográfico do MIS corresponde a um antigo anseio das classes artística e acadêmica de Goiás. Ao final do projeto, será possível ouvir discos e ver imagens que se pensavam perdidos para sempre”, pondera ela.

O projeto de digitalização dos acervos do MIS inclui, além da disponibilização do material no banco de dados e no site, a publicação de dois catálogos com entrevistas dos pioneiros da Rádio e TV Brasil Central. Os depoimentos já começaram a ser gravados, e em breve estarão acessíveis para consulta pública, bem como as sinopses de todo o material da TV Brasil Central, isto é, a identificação de entrevistados, assunto, locutores, repórteres e cinegrafistas que trabalharam no arquivo disponibilizado.

Atualmente, o material passa pelo processo de digitalização e, até o momento, já foram entrevistados os jornalistas Luís Carlos Bordoni, Luís de Carvalho, Júlio Kanedma e Jerônimo Rodrigues, além da radialista e primeira atriz de novela de rádio em Goiás, Norma Baiocchi.

Além destes, também serão ouvidos repórteres, editores, apresentadores, locutores, cinegrafistas, cenógrafos e radialistas, além de governadores que tiveram participação ativa na implantação do sistema TBC e RBC. A lista inclui, ainda, Cleuza Jacques (atriz de radionovela e atualmente locutora da RBC), Celso Marmo (primeiro técnico da TBC), Jurandir Santos (pioneiro dos programas de esporte), Sérgio Antônio (primeiro editor de VT) e Vonivar Campos (repórter).

Fatos históricos
Em meio às cerca de mil fitas vistoriadas pelo projeto, que totalizam aproximadamente 600 horas de projeção, há reportagens sobre o acidente radioativo com o césio 137, ocorrido em setembro de 1987, em Goiânia. Sobre a tragédia, há entrevistas com o então governador de Goiás, Henrique Santillo, bem como imagens do local do acidente, declarações de especialistas sobre o assunto e imagens das vítimas sendo transportadas para o Rio de Janeiro.

O arquivo da TBC também inclui depoimentos raros do fundador de Goiânia, Pedro Ludovico Teixeira, e do primeiro prefeito de Goiânia, Venerando de Freitas, além de entrevistas com importantes personalidades políticas – como os candidatos à Presidência da República em 1989, Fernando Collor, e Luiz Inácio Lula da Silva –, reportagens sobre a posse do presidente José Sarney após a morte de Tancredo Neves e a visita do senador Teotônio Vilela à Capital durante a abertura política. Há, inclusive, imagens e declarações sobre as manifestações das “Diretas Já” em Goiânia e São Paulo, em 1984, com a presença de diversas autoridades políticas e intelectuais da época.

Em termos de curiosidades, o arquivo conta com tapes das visitas do médium Chico Xavier à Colônia Santa Marta; uma reportagem sobre a navegabilidade do Rio Paranaíba, quando se iniciava a discussão sobre hidrovias; imagens aéreas dos primeiros 100 km da Ferrovia Norte-Sul, no trecho entre os municípios maranhenses de Imperatriz e Açailândia, em 1989; matéria sobre a criação, em 1986, do Procon Estadual em Goiás, pelo então governador Onofre Quinan, assim como a criação do Grupo de Defesa do Consumidor e da Delegacia de Defesa do Consumidor; entrevista com o teatrólogo e cineasta João Bênnio e declarações da poeta Cora Coralina, durante o lançamento do livro Poemas do Beco, e de quando recebeu homenagens e prêmios por sua obra.

Como o acervo da Rádio e TV Brasil Central nunca havia sido satisfatoriamente catalogado e analisado, surpresas têm surgido a todo momento. Trata-se de um trabalho inédito, cujos frutos, segundo Tânia Mendonça, ainda estão por vir.

“Creio que o trabalho de pesquisa sobre a história política e cultural de Goiás começa, de fato, agora. Somente a partir do momento em que todo o acervo fonográfico e videográfico do MIS estiver devidamente catalogado e disponibilizado será possível perceber sua real importância para a memória e identidade do povo goiano”, conclui a coordenadora.