Engraxate que virou desembargador

Engraxate que virou desembargador (Diário da Manhã, 08/03/09)

A história de vida do novo desembargador do Tribunal de Justiça, Geraldo Gonçalves da Costa, é daquelas que nos inspiram a acreditar na tese agostiniana da predestinação ou, na pior das hipóteses, a esticar a própria jornada de trabalho para encurtar o caminho que leva ao sucesso profissional. Tal qual o torneiro mecânico que chegou à presidência da República ou, guardadas as devidas proporções, o engraxate que imitava Sidney Magal décadas antes de se tornar deputado e líder do governo na Assembleia Legislativa de Goiás.
Geraldo é advogado há 34 anos, professor de Direito Processual Civil da Universidade Federal de Goiás (UFG) e professor aposentado da Universidade Católica (UCG). Foi conselheiro da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) por 10 anos, juiz do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) e procurador-geral do Estado no segundo mandato de Iris Rezende (PMDB) no governo do Estado.
Mas seja feita justiça: custou tempo e esforço ao novo desembargador para levantar a carreira que construiu nos últimos 34 anos. Geraldo, aos 12, capinava roça e engraxava sapatos quando trocou Piracanjuba por Goiânia. Instalou-se em Campinas. Para desespero do presidente do TJ, o vilanovense Paulo Teles, desde cedo, aprendeu a amar o Atlético Clube Goianiense. Sofreu como poucos com o rebaixamento do Dragão à divisão de acesso do Campeonato Goiano, há quatro anos. “Graças a Deus, passou”, diz, com certo tom de alívio.
Leitores daquela época vão se lembrar da Farmácia São Bento. Foi lá que Geraldo conseguiu o primeiro emprego, como vendedor, aos 13 anos. Atrás do balcão da farmácia, ele ficou por oito anos, até que foi aprovado em um concurso para servidor do Tribunal de Justiça, em 1967. Foi então que conviveu com homens responsáveis pela sólida formação jurídica que adquiriu. Alheio ao risco de ser injusto ao cometer um lapso de memória, cita Romeu Pires de Campos Barros, Clenon de Barros Loyola e Marcelo da Costa, todos juristas. Em 1976, pediu exoneração para advogar. “Desde então, alimento o sonho de voltar à Casa onde comecei”, diz.
A posse de Geraldo, que encerra este ciclo em sua vida, não tem data para acontecer. Ela inaugura um novo ciclo, e é inquestionável que o novo desembargador leva para os tribunais e para as matérias que for julgar experiência de vida que ele considera tão importante quanto o conhecimento dos códigos jurídicos. “Não podemos analisar os fatos de forma fria, com o único amparo da lei. Defendo que para que alguém conquiste a condição de desembargador ou juiz deve ser capaz de aliar experiência de vida e visão humanística ao tecnicismo. O juiz tem que saber humanizar a aplicação da lei.”