Polêmica divide opinião de especialistas (Diário da Manhã, 09/03/09)

Polêmica divide opinião de especialistas (Diário da Manhã, 09/03/09)

A professora Maria do Rosário Cassimiro, ex-reitora da Universidade Federal de Goiás (UFG) e conselheira do Conselho Estadual de Educação, diz que o sistema de ciclos reflete o fracasso na aprendizagem dos alunos goianienses. Ela afirma que é necessário excluir o ciclo. “Temos que voltar ao sistema de séries ou criar algo novo. A promoção automática não prepara o estudante para a vida, que é o principal, e muito menos para a universidade.”

Maria do Rosário diz que os alunos chegam à 9ª série sem os conhecimentos mínimos exigidos. “Nossa esperança é a escola de tempo integral. Mas ela só será efetiva se investir seriamente no ensino de Matemática, Português, Geografia e Ciências. São essas disciplinas que preparam o estudante, que lhe abrem os caminhos para se localizar no mundo e adquirir novos conhecimentos.”

A ex-reitora da UFG diz que, quantitativamente, a escola brasileira teve avanços inquestionáveis, mas é uma das piores do mundo em aproveitamento. “A causa é má formação dos professores. O milagre da boa ou má escola se dá dentro da sala de aula. É melhor não ensinar nada do que ensinar errado.”

A conselheira do Conselho Estadual de Educação Marlene de Oliveira Lobo Faleiro, ex-diretora da Faculdade de Educação da UFG, diz que é errado atribuir fraco desempenho escolar aos ciclos. “Temos alunos do sistema de ciclos que vão muito bem quando passam a frequentar escolas que adotam as séries. Não é só a metodologia que faz a escola ser boa ou ruim.”

Para Marlene Lobo, o que vai desatar o nó da educação brasileira é a qualificação do professor e adequação física das escolas. “Tínhamos professores em cidades do Nordeste que recebiam R$ 80 por mês. Avançamos, mas a educação de qualidade ainda é um grande desafio.”

O presidente do Conselho Estadual de Educação, Marcos Elias Moreira, diz que a escola brasileira ainda não aprendeu a ensinar todos. “Até os anos 1960, a sociedade agrária podia conviver com até 80% da população no analfabetismo. A escola era considerada muito boa, porque era seletiva. Tinha um defeito gravíssimo: quem não aprendia era eliminado. Hoje todos estão na escola. O desafio é como ensinar e aprender nessa escola inclusiva. Não é adoção ou não do sistema de ciclo que responde essa questão.”

Raquel Teixeira, ex-secretária de Educação de Goiás, diz que a questão dos ciclos é muito complexa, e o sistema tem defensores e críticos. Ela identifica um problema sério na implantação dos ciclos no Brasil. “Foi criado sem a preparação necessária, principalmente do professor. Confundiram-se os ciclos com aprovação automática.”

Para Raquel Teixeira, os ciclos deveriam evitar repetência continuada, mas tiveram um efeito ainda pior. “É profundamente injusto promover a criança que ainda não adquiriu os conhecimentos. Quando fui secretária, não permiti a adoção dos ciclos, porque o Estado ainda não estava preparado. A função da escola é ensinar o aluno. A missão é da escola, da família e de toda a sociedade. Atribuir meu desempenho só aos ciclos é simplista. A boa escola é resultado de uma soma de valores.”

A secretária de Educação de Goiás, Milca Severino, ex-reitora da Universidade Federal de Goiás, diz que seriação ou ciclo não determina a qualidade da aprendizagem. “O importante é o adequado preparo dos professores. Em um modelo ou outro, é possível transmitir os conteúdos dos parâmetros curriculares estabelecidos por lei.”

Milca considera um equívoco atribuir fracasso ou sucesso a ciclos ou séries. “Nos dois primeiros anos, a criança tem que ser alfabetizada. Por que chega ao nono ano sem aprender? Porque houve descaso da família e da escola. A preocupação da Secretaria de Educação e a minha, como educadora, é com a habilidade dos professores e com o aprendizado do estudante. Toda criança é capaz de aprender.”