Ministro quer Enem na 1ª fase das federais
Ministro quer Enem na 1ª fase das federais (Diário da Manhã, 25/03/09)
Fernando Haddad faz proposta hoje a reitores. Vestibular ficaria unificado no País, com provas que exigem raciocínio
O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) pode ser utilizado como primeira fase dos vestibulares das universidades federais a partir de 2010, pelo menos é o que deseja o Ministério da Educação (MEC). Ministro da Educação, Fernando Haddad apresenta proposta hoje à Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), em Brasília. O objetivo é unificar processos seletivos de todo País em torno da avaliação, que privilegia a capacidade de raciocínio.
O ministro criticou, na terça-feira da semana passada (17), o modelo de vestibular em vigor, ao alegar que a prova “não estimula o aprendizado de maneira crítica”. Para a segunda etapa, Haddad sugere que o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) ajude nos trabalhos de elaboração das provas, compostas por conteúdos específicos. O Inep é vinculado ao MEC e promove estudos, pesquisas e avaliações sobre o sistema educacional brasileiro. A autarquia já realiza o Enem, o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade) e a Provinha Brasil.
Haddad argumenta que o modelo unificado de vestibular traria benefícios ao estudante, pois o candidato poderia concorrer a vagas em qualquer instituição federal de ensino superior do Brasil no mesmo processo seletivo. O estudante também poderia usufruir mais da expansão das federais, que oferecem 227 mil vagas de ingresso anualmente no País.
Autonomia
O Enem compõe o processo seletivo da Universidade Federal de Goiás (UFG) desde o último vestibular e a instituição considera a prova boa por cobrar conteúdos abrangentes. No entanto, o reitor Edward Madureira Brasil destaca que mudança drástica pode comprometer processo de transformação do modelo de avaliação que está em andamento. “A UFG tem ampliado quantidade de questões multidisciplinares no vestibular. A pontuação da primeira fase também pode ser composta em até 20% pela nota do Enem, caso beneficie o candidato”, diz.
O secretário Executivo da Andifes, Gustavo Balduíno, entende que o Enem pode ser utilizado como etapa para ingresso nas federais, desde que preserve segurança na elaboração e correção das provas, interação entre ensino médio e universidade, e valorize o mérito. “ É importante que as universidades não percam autonomia e possam aderir livremente à mudança”, completa.
Estudantes discutem tema nas escolas
A sugestão do ministro ainda não é uma proposta formal, mas já suscita discussão entre vestibulandos. Ontem, uma professora de Ana Elisa Deboni, 16, levantou a questão em sala de aula. A estudante entende que a proposta do ministro não faria muita diferença, porque a prova do Enem é encarada como vestibular pelos candidatos.
Frederico Andrade, 18, frequenta cursinho e pleiteia vaga no curso de Engenharia Elétrica. O estudante conta que debates sobre a possível mudança começaram no colégio onde estuda. Ele considera a prova do Enem menos decoreba, mas teme que realizar processo unificado tire a possibilidade de tentar aprovação em mais de uma instituição federal. “Se fizermos uma única prova, não poderemos prestar vestibulares distintos, em diferentes universidades”, diz.
Arthur Oliveira Matos, 17, é concorrente de Frederico pela vaga no curso de Engenharia Elétrica. O jovem se considera preparado para qualquer modelo de avaliação, mas prefere provas que cobram raciocínio e compreensão ampla das disciplinas. “Para tirar nota boa no Enem, temos que saber um pouco de cada matéria e conhecer a utilidade prática do que aprendemos. Este tipo de prova estimula o aluno.”
Universidade quer debate
A intenção de dar caráter nacional ao processo seletivo é vista com ressalvas pelo secretário executivo da Andifes, Gustavo Balduíno. Ele considera importante manter as universidades em diálogo constante com a região em que estão inseridas. “É interessante que o estudante tenha conhecimentos de literatura, cultura e desenvolvimento socioeconômico regional.”
O reitor da UFG lembra que os componentes regionais poderiam ser recuperados na segunda etapa dos processos seletivos, mas defende que o tema seja discutido à exaustão pela Andifes. “A proposta é polêmica no âmbito das universidades. As instituições não irão assimilar ao mesmo tempo e da mesma maneira a proposta”, diz Edward Madureira.
Entre perdas e ganhos que processos de mudança trazem, o presidente do Conselho Estadual de Educação, Marcos Elias Moreira, fica com a incorporação das provas adequadas à realidade do estudante que o Enem representa. “As instituições federais de ensino superior devem ser instrumento de construção do pensar nacional. Unificar provas consolida articulação entre ensino médio e superior”, diz. Elias defende o debate para antever problemas futuros e aperfeiçoar o acesso às universidades. A proposta será encaminhada pelo presidente da Andifes, reitor Amaro Lins (UFPE), a todas universidades federais para apreciação em conjunto.
Fonte: Alfredo Mergulhão