ENIO DEIXA PRESIDÊNCIA DA CELG
ENIO DEIXA PRESIDÊNCIA DA CELG (Hoje Notícia, 31/03/09)
O presidente da Celg, Enio Branco, pediu demissão do cargo ontem, ao governador Alcides Rodrigues, mas deve permanecer no cargo até a posse do novo gestor. Ontem, ele justificou seu pedido dizendo que cumpriu seu dever e que o novo momento da Celg precisa de um presidente com novo perfil.
A declaração foi dada durante reunião do Conselho de Administração da Companhia na tarde de ontem, que discutiu, além do novo cenário na presidência, medidas para livrar a estatal da dívida urgente de R$ 1,6 bilhão. O passivo é de R$ 5,7 bilhões, ou seja, incluindo dívidas não efetivas, como de ações judiciais que ainda não foram julgadas. O valor efetivo é de R$ 4,4 bilhões. O secretário estadual da Fazenda, Jorcelino Braga, também participou da reunião, mas saiu antes do término, sem dar entrevista.
Enio diz que tudo na vida tem um ciclo e que ele havia cumprido o seu. “Hoje (ontem) pela manhã, apresentei a minha carta de saída da empresa e vamos agora para outros desafios profissionais”, salienta (leia mais abaixo). A carta foi escrita na quarta-feira passada e apresentada ontem ao governador Alcides Rodrigues (PP) e ao presidente do Conselho de Administração, presidente regional do PP, Sérgio Caiado.
Enio lembrou que disse aos dois que deixa a Celg sem deixar Goiás. E diz que vai assumir outro desafio profissional – não revelou qual –, e deseja que o próximo presidente tenha o perfil correto para o momento, a fim de fazer com que os desafios da companhia sejam alcançados. “Eu me julgo com o dever cumprido, até porque chegamos a apresentar uma solução de equacionamento da dívida da empresa mediante a operação BNDES”, salienta.
Segundo o executivo, sua saída não tem ligação com a crise da empresa, mas seria uma oportunidade para que Alcides tenha a liberdade de procurar um presidente com o perfil capaz de atender os interesses do Estado e de transformar a recuperação da empresa em realidade em curto prazo. Enio Branco avalia que a dívida inicial poderia ser coberta com o ativo que a Celg tem perante o Estado.
De acordo com ele, a Celg possui passivo elevado, tanto quanto todas as 63 empresas do setor elétrico, que aumenta a cada ano e, agora, foi atingida pela crise financeira mundial desde o ano passado. “Isso contribuiu para que não conseguíssemos em curto prazo atingir os objetivos”, revela.
Financiamento
Sobre a tentativa de financiamento de R$ 1,2 bilhão com o BNDES, Enio diz que se reunirá amanhã com Jorcelino e Sérgio na Secretaria do Tesouro Nacional, para verificar o andamento do pleito, bem como o aumento da capacidade de endividamento do Estado. Ele aposta que Goiás atinja seu objetivo.
O presidente demissionário da Celg assegura que além do pleito de R$ 1,2 bilhão, existem outros R$ 150 milhões contabilizados e apropriados no Estado, o que aumentaria o valor para cerca de R$ 1,35 bilhão. O objetivo da reunião de ontem foi buscar alternativas para captação de recursos para complementar essa quantia, como medidas de enxugamento da empresa, entre elas a redução da estrutura administrativa, dos custos, e busca de novas receitas.
CARTA EXPLICA AS MOTIVAÇÕES
Em carta de renúncia, Enio Branco diz que recebeu “convite honroso” do governador Alcides Rodrigues, em maio de 2007, e que, no processo de desverticalização do setor elétrico brasileiro, foram criadas a Holding Goiaspar (atualmente Celgpar) e a terceira empresa vinculada, a CelgTelecom e Soluções. “Procurei comandar o Sistema Celg com responsabilidade, dedicação e comprometimento com os propósitos do governo de V. Exa., notadamente aqueles voltados à perseguição constante e inarredável do reequilíbrio econômico-financeiro da Celg Distribuição S/A, enfrentando problemas de gestão financeira há mais de duas décadas”, relata.
Enio destaca o esforço dele e de sua equipe para concretizar a operação com o BNDES (de R$ 1,2 bilhão), o apoio do governador e nega divergências com o secretário da Fazenda, Jorcelino Braga, de quem diz ter recebido apoio incondicional.
Assegura que buscou dotar as empresas de práticas de “governança corporativa”, e que recebeu adesão total dos colaboradores. “Avançamos sobre os problemas e, numa gestão participativa e comprometida com resultados, diminuímos custos”.
No balanço de 2007 (após oito meses de presidência), Enio informa que houve diminuição do prejuízo da Celg D em mais de R$ 90 milhões – de R$ 267 milhões para R$ 176 milhões, melhorando praticamente em todos os indicadores e aproximando mais da empresa de Referência da Aneel.
Mas sem poder aplicar os reajustes concedidos pelo órgão regulador, o ex-presidente diz que a Celg D deixou de arrecadar desde setembro de 2006 cerca de R$ 800 milhões, uma perda de receita de R$ 25 milhões ao mês. “Veja V. Exa. que, nesse período, a título de ICMS, deixou de ser recolhido ao Tesouro mais de R$ 200 milhões. Assim, senhor governador, cumprindo minha proposta de recuperação da empresa e entendendo que a operação com o BNDES deverá ainda cumprir etapas a serem alcançadas, vejo-me com a missão cumprida na etapa concernente às tratativas com o BNDES em todas suas instâncias.”
Ao final da carta, datada de 25 de março, Enio Branco pede a compreensão do governador e agradece “pela confiança e apoio irrestrito nessa desafiadora missão, e solicito a liberação das honrosas Presidências da Holding Celgpar e de suas subsidiárias integrais, Celg D, Celg G&T e CelgTelecom e Soluções”. (Venceslau Pimentel)
SAÍDA COMEÇOU A SER COGITADA HÁ 2 SEMANAS
A saída de Enio Branco da presidência da Celg começou a ser cogitada dia 18 de março, quando ele participou, com o governador Alcides Rodrigues, de solenidade no Palácio das Esmeraldas, com prefeitos de municípios do Entorno do Distrito Federal. Indagado pelo HOJE se permaneceria na Celg, limitou-se a comentar que qualquer decisão caberia ao governador. Também evitou falar sobre a negociação com o BNDES.
Ainda na solenidade no Palácio, Alcides Rodrigues disse ao HOJE desconhecer especulações sobre o afastamento de Enio. Frisou que ele vinha fazendo “grande trabalho à frente da empresa”. No aniversário de Inhumas, dia 19, o governador reafirmou que não haveria mudanças na Celg, e que o presidente ficaria o quanto quisesse. No dia seguinte, estava confirmada a participação de Enio na inauguração da unidade de atendimento da Celg em Campos Belos, mas ele não compareceu. De acordo com a assessoria de imprensa da Celg, ele mandou representante, alegando compromisso de agenda. (V.P.)
ALCIDES DEVE ANUNCIAR NOVO PRESIDENTE HOJE
O governador Alcides Rodrigues disse ontem, logo após receber a carta com o pedido de demissão do presidente da Celg, Enio Branco, que entendia as razões pessoais do auxiliar. E adiantou estar com o nome do substituto praticamente definido, mas só deverá anunciá-lo nos próximos dias. Dependendo da evolução das articulações, o anúncio pode ser feito ainda hoje, em visita a Rio Verde.
Vários nomes foram cogitados para o cargo, entre eles, o professor de Direito Constitucional da UFG Joveni Cândido; o deputado Carlos Silva (PP); o procurador-geral do Estado, Norival Santomé, e o ex-presidente da Aganp no governo de Marconi Perillo, Jeovalter Correia. Falava-se também no nome de um ex-assessor do atual presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Entretanto, não há nada de oficial.
Alcides esteve em Brasília, com os colegas Blairo Maggi (MT), André Puccinelli (MS) e José Roberto Arruda (DF). Eles se reuniram na residência oficial do governador do DF, para discutir o Fórum de Governadores do Centro-Oeste. O encontro foi aberto pelo ministro de Assuntos Estratégicos, Mangabeira Unger, e abordou temas como a importância econômica do Centro-Oeste no desenvolvimento brasileiro, e a necessidade de articulação para a criação de uma política para a região.
Os governadores ainda debateram e propuseram ao governo federal medidas de combate à crise, entre elas o aumento do volume de recursos do FCO; maior urgência na instalação da Sudeco, que inclui também a criação do Fundo de Desenvolvimento do Centro-Oeste, o Banco de Desenvolvimento do Centro-Oeste; alocação de recursos do governo federal para capitalizar as agências de fomento regional e bancos de microcrédito e a implantação de Zonas de Processamento de Exportação no Centro-Oeste.
Também pediram a intensificação do ritmo de obras do PAC, principalmente rodovias federais e usinas hidrelétricas; ampliação dos recursos para projetos de irrigação; renegociação das dívidas dos Estados; criação de programa especial do FCO e BNDES para apoio ao setor sucroalcooleiro e usinas de biodiesel e ainda o aumento, pela Petrobras, do porcentual obrigatório, de 3% para 4%, do uso do biodiesel no óleo diesel ainda este ano. (Divino Olávio com redação)
GASTOS VÃO SER REDUZIDOS
Em reunião na tarde de ontem, o Conselho de Administração da Celg definiu novas medidas para auxiliar na recuperação da estatal, entre elas, o corte de despesas, cargos e funcionários. O presidente do conselho, Sérgio Caiado (PP), disse que propostas serão aprimoradas nas futuras reuniões, mas adianta que vai rever contratos, especialmente no tocante às terceirizações de serviços. “Vamos buscar todas as formas de enxugar e aprimorar a máquina da Celg”, salienta.
De acordo com Sérgio, medidas como o corte de cargos já foram aprovadas pelo conselho, mas ainda não há números, que devem ser definidos em acordo com as entidades responsáveis pelos interesses dos funcionários e sindicatos. Segundo Sérgio Caiado, algumas medidas já estão sendo colocadas em prática, como o alongamento de dívidas bancárias. “A questão de funcionário é a menor, atingindo quase 7% das medidas; outros 90% são com revisão de contratos e alongamento de dívidas”, declara.
Para o pepista, o momento não é de caça às bruxas, e sim de recuperar a empresa, que é altamente viável, “tanto é que existem outras empresas que se interessam em adquirir ações da Celg, mas cabe a nós valorizar o que é nosso”. O que está em foco, segundo ele, é a autorização da Secretaria do Tesouro Nacional para o Estado contrair mais R$ 1,2 bilhão de empréstimo a juro baixo e em longo prazo. (Charles Daniel)