Infartos têm queda de 2,8% ao ano
Infartos têm queda de 2,8% ao ano (Diário da Manhã, 06/04/09)
Redução é verificada no Centro-Oeste. Mesmo assim, doenças cardíacas são as que mais matam
A cada ano, o morador do Centro-Oeste brasileiro tem chance 2,8% menor de sofrer ataque cardíaco. A conclusão é de pesquisa da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), coordenada pela professora da Faculdade de Medicina de Petrópolis e doutora em Epidemiologia Cíntia Curioni.
O estudo, publicado na última edição da revista Panamericana de Salud Pública, mostra que os infartos reduziram de forma expressiva nas cinco regiões brasileiras, sobretudo no Sul e Sudeste (respectivamente, 3,2% e 4%).
Em 1980, o Centro-Oeste registrava 46,8 mortes a cada 100 mil habitantes. No ano de 2003, último relacionado pelos pesquisadores cariocas, o percentual era de 44,5 óbitos. A Região Norte, por exemplo, apresentava 47 mortes no ano inicial e 31,2 até a data final da pesquisa.
Para a coordenadora Cíntia Curioni, o estudo mostra que o Brasil avançou no combate à doença coronariana, mas há regiões que sofrem pela falta de diagnóstico e acesso à informação. “Percebemos que o tratamento ainda é deficitário em vários Estados e que os hábitos alimentares influem nos índices”, afirma.
Mesmo com a redução dos infartes nas cinco regiões geográficas, dados do Ministério da Saúde (MS) dizem que doenças do aparelho circulatório continuam como a maior causa de morte no País. Em Goiás, desde 2005, o infarto agudo é o que mais mata entre os sete grupos de doenças listados pelo MS.
Controle
Cirurgiões cardiovasculares e cardiologistas goianos são unânimes em afirmar que a disparidade entre as cinco regiões brasileiras se dá por ausência de diagnóstico e tratamento eficiente. Falta de contenção dos fatores de risco também é causa apontada pelos especialistas.
O cardiologista Anis Rassi Júnior afirma que a prevalência de doenças cardíacas nas regiões mais pobres do Brasil está relacionada ao estilo de vida. “Podemos atribuir ao diagnóstico ineficiente e ao acúmulo de fatores de risco, como o fumo e a má alimentação.”
O cirurgião cardiovascular Wilson Silveira diz que um dos fatores que justificam a predominância dos distúrbios do aparelho circulatório é o envelhecimento da população. O médico cita dados de 1982 para ilustrar o aumento do percentual. “Essas doenças são mais comuns em pessoas de idade avançada.”
TRANSIÇÃO
O próprio relatório da revista científica diz que a pesquisa da UERJ mostra que o Brasil sofre a chamada transição epidemiológica. O fenômeno acontece quando doenças crônicas degenerativas (como as cardíacas) convivem com óbitos relacionados a causas infecciosas, como a diarréia.
Professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Goiás (UFG), o cardiologista Paulo César Jardim enfatiza a necessidade de diagnóstico e prevenção aos males coronarianos. “Houve um retrocesso de forma geral, mas elas continuam como a maior causa de morte no Brasil. Isso não pode ser desconsiderado”, afirma o cardiologista.
Fotógrafo acredita que sobreviveu porque obteve atendimento médico
O fotógrafo Orlando Santa Cruz acredita que só sobreviveu ao infarto porque se encontrava em uma região brasileira com acesso a atendimento médico. “Me levaram para o hospital e vários medicamentos salvaram minha vida”, diz.
Orlando ministra hoje comprimidos para controlar a pressão arterial e regular o fluxo sanguíneo. “Se não houvesse diagnóstico e tratamento, não sei se estaria aqui agora”, afirma.
No momento do ataque, o fotógrafo sofreu dor aguda no ombro e peito. “Parece uma dor muscular, mas quando você vê, é um princípio de infarto. Ainda bem que fui ao médico naquele instante.”
MENOS MORTES
Em 23 anos, a redução de todas as regiões brasileiras representa 125,4 mil mortes a menos por ataques cardíacos. A evolução da taxa sobre todo o território nacional mostra que o índice saiu de 287,3 por 100 mil habitantes para 161,9. Os dados compreendem o período de 1980 e 2003.
Coordenadora da pesquisa, Cíntia Curioni afirma que a redução foi suficiente para apontar a melhoria do sistema hospitalar brasileiro. “Embora 3/4 das Unidades de Terapia Intensiva estejam no Sul e Sudeste, todas as regiões apresentaram decréscimo dos óbitos”, diz.