O papel do Estado no desenvolvimento industrial

O papel do Estado no desenvolvimento industrial (Diário da Manhã, 04/05/09)

O final da década de 1970 e 1980 é lembrado pela crise mundial do capitalismo. No plano econômico, grandes estruturas industriais instaladas nos países europeus para produzir insumos como aço e petróleo e seus derivados e de siderúrgia e automobilística nos EUA entravam em decadência. A crise da economia revelava-se também como crise das economias regionais. Neste período, surgem os novos espaços industriais, não como fruto exclusivo de processos espontâneos segundo a lógica de mercado, e, sim, devido à contribuição do Estado, que foi fundamental para definir os pólos de desenvolvimento.

 A Califórnia transforma-se no Estado mais industrializado dos EUA, com um contingente de dois milhões de pessoas representando mão-de-obra qualificada e predominância de empresas de pequeno e médio portes, voltadas para as novas tecnologias. É nesse meio que grande parte das inovações surgiu – o que para muitos configuravam, na época, como a terceira revolução industrial. Um dos padrões típicos dos novos espaços industriais é, sem dúvida, Silicon Valley, que passou a ser modelo para vários países.

 Entre alguns fatores, o principal foi a necessidade de uso do conhecimento científico e tecnológico, na geração de novos produtos e um novo modelo econômico baseado no conhecimento. Áreas de produção com base neste modelo são o locus privilegiado onde se gera a tecnologia avançada, como resultado de intenso processo de inovação graças à conjugação da pesquisa universitária com as empresas, o capital financeiro e os incentivos públicos.

De forma mais ampla, os incentivos públicos tornam-se uma  estratégia de desenvolvimento regional e local, uma vez que a transferência de tecnologia das universidades e centros de pesquisa para as empresas geram valor agregado à produção, posicionando as empresas num patamar de competitividade mais elevado. Em resumo, os resultados gerados nas pesquisas aplicadas em outras áreas da economia, como farmácos e no agronegócio, sem dúvida, impulsiona a economia local.

 O Estado de Goiás possui hoje uma das economias mais promissoras, como alguns especialistas mencionam, o novo “celeiro” do desenvolvimento do País. Nesta recente discussão em relação aos recursos do Estado que serão aplicados em pesquisa e desenvolvimento tecnológico, cabe a reflexão sobre o verdadeiro papel do Estado face ao desenvolvimento responsável.

 Ao contrário de discutirmos o aumento da aplicação dos recursos em educação, ciência e tecnologia, estamos falando em garantir a não diminuição da aplicação dos recursos destinados a Fapeg – Fundação de Apoio à Pesquisa de Goiás, de, hoje, 0,5% da arrecadação para 0,1%. Além de ser um retrocesso, aumentaremos a distância dos grandes centros industriais. Medidas de contenção de gastos públicos sempre são bem-vindas, mas não em áreas estratégicas como estas citadas. Precisamos buscar alternativas, como a que foi sugerida pelo reitor da Universidade Federal de Goiás (UFG), Edward Madureira, que propõe “escalonar a aplicação do recurso com o aumento anual”.

 Sempre foi grande a diferença entre os países desenvolvidos e os demais no que diz respeito ao desenvolvimento científico e tecnológico. Esse tende a aumentar se levarmos em conta o caráter estratégico e a enorme ênfase que estes países passaram a atribuir, em suas políticas de desenvolvimento, aos gastos com educação, ciência e tecnologia.

 Precisamos abrir um debate mais amplo, envolvendo todos os atores: instituições de ensino e pesquisa, governo, empresas e indivíduos, que compõem o quadro da pesquisa e da inovação, para colocar Goiás no “radar” do desenvolvimento. Cabe ao Estado o papel do incentivo público para desenvolver os novos pólos industriais.