Longe da entressafra, preço de leite sobe 25%
Longe da entressafra, preço de leite sobe 25% (Hoje Notícia, 04/06/09)
O que o consumidor já tem observado foi constatado por pesquisa: o litro de leite longa vida está mais caro. Segundo pesquisa da Associação das Donas de Casa de Goiás (ACD), o aumento médio é de 25%, em comparação ao valor do início de maio, quando o litro valia em média R$ 1,85. Hoje, está em torno de R$ 2,14, embora em algumas lojas é vendido por R$ 2,45.
A presidente da ACD, Maria das Graças, diz que não há justificativa para o aumento, pois o período de entressafra, quando cessam as chuvas, ainda não havia iniciado efetivamente no fim de maio. “Ainda temos o ponto crítico no final em agosto; se o leite está a R$ 2,45 agora, como estará no ponto máximo da entressafra?”, questiona. Ela também protesta ao lembrar que as donas de casa não vão pagar pela crise do leite, como sempre ocorre.
Desde segunda-feira, 1º de junho, Dia Internacional do Leite, a associação distribuiu cerca de 3 mil panfletos em forma de protesto, para mostrar à população a progressão do aumento e convidá-la a entrar na briga pela redução do preço. A entidade questiona quem estaria lucrando com a alta, pois, de acordo com a Gerência do Departamento de Estudos Econômicos da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg), o produtor recebe média de 66 centavos pelo litro vendido. As indústrias e os supermercados agregaram até R$ 1, 79 no valor.
A fim de obter essa resposta, Maria das Graças informa que se reuniria hoje com segmentos da cadeia produtiva na Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Goiás, às 9 horas. “Desde a semana passada, tínhamos solicitado essa reunião. As pessoas estão convidadas a participar”. Devem comparecer representantes dos produtores, indústrias, Universidade Federal de Goiás (UFG), Ministério e Secretaria de Agricultura, supermercados, Procon, Faeg e demais entidades.
Combate
O diretor-geral do Procon Municipal, Josué Gouveia, informa que não há registro de reclamação no órgão, referente ao aumento no preço do leite. “Estamos implantando agora uma área de cálculo. Se alguém reclamar, vamos atrás e buscaremos subsídios”, diz. Segundo ele, é natural que na entressafra o leite e alguns tipos de verdura diminuam a produção e, com isso, o preço aumenta.
A gerente de atendimento do Procon de Goiás, Sara Ximenes, também disse que não houve reclamação do consumidor no órgão. Mas explica que não há muito o que fazer, em virtude do princípio de livre concorrência. Maria das Graças concorda com o argumento, mas quando há abuso no preço, defende o combate por parte do poder público. Para ela, o Procon deve participar na negociação, para sensibilizar as partes. “O consumidor não pode ficar à vontade de todos. Se o Procon fala isso, a pessoa vai colocar o preço que quer”, reclama.
Caso não cheguem a um acordo na reunião, Maria das Graças alerta que farão um grito de convocação às donas de casa para boicotar a venda do produto na entressafra. Apesar da importância do leite, especialmente para crianças e idosos, Maria das Graças vai propor a diminuição da utilização do produto até meados de setembro, quando termina a entressafra.
PRODUTORES RECLAMAM DE PERDAS DE 30%
Enquanto o preço do leite subiu cerca de 25% para o consumidor final em maio, para o produtor rural, houve queda de cerca de 15% no valor de venda, comparado ao mesmo período de 2008. Mas as perdas chegam a 30% desde o ano passado, segundo o gerente do Departamento de Estudos Econômicos da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg), Edson Novaes. Ele explica que, quando o leite sai da safra para entressafra, tem queda natural de produção e gasto maior com pastagem e tratamento do gado. Revela, porém, que neste ano as perdas foram maiores, devido à queda para o produtor no valor de venda.
O gerente informa que em maio de 2008, o preço médio de venda para o produtor era de 78 centavos o litro. Em maio deste ano, estava em torno de 66 centavos. Mas a redução foi maior em janeiro, quando iniciou a recuperação do preço para o produtor. “Sabemos que esse aumento não fica com o produtor”, disse, referindo-se ao valor cobrado nos supermercados. Novaes diz ainda que custo para o produtor aumentou de 10% a 20%.
Para o gerente da Faeg, a queda de 30% no preço de venda para as indústrias desestimulou os produtores. Por isso, não prepararam bem para a entressafra deste ano. Segundo Novaes, isso teria contribuído para redução maior do produto nos supermercados em relação ao ano passado.
Em abril, houve queda na captação do leite de 4,32%. De março a abril deste ano a queda foi de 2,75% na capitação do leite. “Isso é natural, mas nesse ano foi maior, em função do desestímulo do produtor”, acredita.