Metade dos pacientes abandona tratamento

Metade dos pacientes abandona tratamento (Diário da Manhã, 27/05/09)

O glaucoma – doença incurável, irreversível e sem sintomas – é a segunda principal causa de cegueira no mundo. A Sociedade Brasileira de Oftalmologia (SOB) estima que um milhão e meio da população brasileira sofre do glaucoma, sendo que metade não sabe que é portador da doença. Oftalmologistas alertam que quando mais cedo se diagnosticar o problema da visão, mais fácil se torna o tratamento. No entanto, estes especialistas calculam que 50% abandonam o tratamento. “A falta de informação sobre o avanço da doença e o seu tratamento são as principais causas do abandono”, explica o oftalmologista Francisco Eduardo Lima.

Foi o caso do empresário e agricultor Honório de Souza Filho, 59. Há um ano e seis meses o glaucoma foi detectado, quando começou a utilizar colírios para estabilizar o problema. Honório conta que usou o medicamento, mas acabou parando. “O médico não me convenceu a continuar o tratamento, ele não disse que poderia perder a visão.” Segundo o empresário, o oftalmologista também não o avisou sobre a existência de cirurgia. Porém, em uma conversa informal, descobriu que a intervenção cirúrgica existia.

Com o passar dos dias, Honório teve a visão periférica comprometida e logo perdeu 95% da visão do olho esquerdo, momento em que procurou outro profissional. Há um mês ele operou o olho esquerdo e agora vai passar pela cirurgia no olho direito, o qual ainda resta 50% da visão. Na história de sua família, o pai e alguns tios tiveram a doença. “Estou abalado, achei que pudesse recuperar a visão, mas não dá. Todas as noites, o medo de ficar cego me atormenta”, confessa. Para Honório, falta esclarecimento sobre a doença. “As pessoas precisam saber que com o glaucoma, se a visão for perdida, não tem jeito de recuperá-la.”

Francisco Eduardo Lima, que é presidente da Sociedade Centro-Oeste de Oftalmologia (Soceo), destaca que estão dentro dos principais fatores de risco pessoas com histórico familiar de glaucoma, aumento da pressão intra-ocular, descendência da raça negra e portadores de miopia. Para ficar livre da doença, o oftalmologista, que também é professor da Universidade Federal de Goiás (UFG), orienta fazer consultas oftalmológicas uma vez por ano, principalmente, as pessoas com idade acima dos 40 anos.

“O glaucoma não tem causa específica, não tem sintomas aparentes. Os principais tipos de glaucoma são o congênito e o secundário”, frisa o professor da UFG. De acordo com Lima, no congênito a pessoa nasce com a doença. “Para cada dez mil crianças nascidas vivas, uma tem o glaucoma congênito. São nenéns que vêm ao mundo com olho grande, branco, chora bastante e não suporta ver luz”, explica. Já o secundário, conforme o presidente da Soceo, pode ocorrer após inflamações ou até mesmo lesões. “É importantíssimo alertar a população sobre o uso de colírios de corticóide. Jamais usem este medicamento sem prescrição médica, ele pode cegar”, alarma.

Qualquer pessoa, de qualquer idade e, mesmo, sem estar dentro dos fatores de risco pode ter glaucoma e não perceber, diz o médico. Lima ainda orienta sobre os optometristas (profissional não-médico especialista da visão), que representam um perigo para a saúde do olho, já que eles não têm base teórica e prática para avaliar as doenças relacionadas à visão. “No glaucoma o nervo do olho morre, o portador vai perdendo a visão periférica e fica só com a central. O trabalho do optometrista não chega até esta identificação e óculos receitados não resolvem o problema”, exemplifica.

Para tratar o glaucoma existem tratamentos com colírios, aplicações de laser e cirurgia. Questionado sobre a razão que leva 50% dos pacientes a abandonar o tratamento, o presidente do Soceo explica que a questão financeira tem peso grande, já que o colírio pode custar até 120 reais. “Outras pessoas deixam o tratamento em função dos efeitos colaterais como ardência, vermelhidão e dores nos olhos e ainda existem as que não têm informação sobre as consequências do glaucoma. Além daquelas que não percebem melhora no tratamento, ou acreditam que estão curadas”, finaliza.