UFG tem 1ª eleição com chapa única
UFG tem 1ª eleição com chapa única (Diário da Manhã, 22/06/09)
Alunos, professores e servidores vão às urnas na quarta-feira. Em entrevista ao DM, reitor Edward Madureira fala de desafios
Pela primeira vez, a Universidade Federal de Goiás (UFG) terá eleições com chapa única para o cargo de reitor. O processo de escolha para a cadeira mais cobiçada da instituição de ensino superior é realizado desde 1985. Ao longo de 24 anos, a disputa sempre foi acirrada, com debates e trabalho de campo. Alunos, professores e servidores técnicos administrativos vão às urnas no dia 24 de junho, quarta-feira. À frente da disputa por mais um mandato está o engenheiro agrônomo Edward Madureira Brasil, 46.
Compõe ainda a chapa o atual diretor da Faculdade Direito da UFG, advogado Eriberto Francisco Marin, 44. Os eleitos para o cargo de reitor e vice-reitor terão uma série de desafios no comando da UFG. Um deles é a possibilidade de substuição do vestibular pelo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Mais investimentos na infraestrutura física e de pessoal nos quadros da universidade, bem como a expansão do Hospital das Clínicas (HC), que faz parte da rede pública de saúde.
Em um processo sem oposição, representantes de movimentos estudantis e do corpo docente da UFG afirmam que esse tipo de disputa não é a ideal, mas cobram maior participação da comunidade universitária diante do caso nos próximos quatro anos. Em entrevista ao DM, o candidato à reitoria da UFG revela suas propostas e desafios nesta luta.
- Desafios
A UFG sempre será um local de desafios e conquistas. Existem vários desafios nas áreas de infraestrutrura, corpo docente, HC, vestibular, Enem. Enfim, uma série de etapas. Há uma significativa expansão da área física, com uma melhoria grande da infraestrutura. Uma boa parte desse muito está planejada, orçada e orçamentada também. Temos recursos para garantir uma parte disso, mas temos um passado de falta de investimentos que ainda precisa ser tratado de forma efetiva no sentido de recompor a infraestrutura, principalmente dos cursos mais antigos.
Também foi sinalizada uma solução por parte do presidente da República para um dos maiores problemas que existem na UFG, que é a questão do HC. Um hospital de referência e que sofre a falta de investimento e de contratação de pessoal.
- Infraestrutura
Está em curso o processo da recuperação. Quem anda pelo campus percebe que a infraestrutura está sendo recuperada. Precisamos, sim, de mais recursos. A UFG tem a credibilidade da sociedade como um todo, inclusive da classe política, que se sensibilizou e tem nos ajudado a solucionar muitos dos nossos problemas. Na infraestrutura do HC, estamos realizando um sonho de outras gestões. Está sendo construído o novo bloco, que é um prédio de 17 andares, que será o hospital mais moderno do Centro-Oeste. Isso graças ao apoio incondicional da bancada de deputados federais e senadores que têm destinado recursos de emendas ao orçamento da União para a execução dessa ordem.
- Servidores
A questão de pessoal técnico é um problema que persiste. Tem concurso, mas é para suprir uma quantidade muito pequena diante daquilo que a gente precisa, no caso do HC. Hoje, seria necessário para regularizar a situação do hospital, sem a construção do novo prédio, concurso para entre 600 e 700 profissionais, em todos os níveis.
- Verbas
Hoje, o HC recebe pelo SUS aproximadamente R$ 2,5 milhões por mês. Boa parte desses recursos está comprometida com o pagamento de pessoal, que deveria ser provido de outra forma. Existem no HC 600 alunos de Medicina, 300 de Odontotologia, 300 e tantos de Farmácia, quase 300 de Nutrição. Para manter a excelência de um hospital desse porte, a gente precisa de duas vezes o total desse valor mensalmente para avançar, por exemplo, na questão do transplante. Hoje, a gente não faz isso absolutamente por falta de pessoal.
- Docente
Acredito que essa é a questão mais bem equacionada hoje na UFG. O Programa de Apoio ao Plano de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni) permite que a gente faça concurso e contrate praticamente 500 novos docentes para a universidade. Tivemos uma conquista grande em 2007, que foi a criação do banco de professores equivalentes. Isso nos dá a prerrogativa de recomposição automática do quadro de docentes à medida em que as vagas surgem, ou seja, nas aposentadorias, nas demissões.
Ainda não temos o quadro de técnicos equivalentes. Mas tivemos uma reunião com o presidente da República no dia 28 e foi sinalizada essa possibilidade à Andifes (Associação Nacional de Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior).
- Enem
A UFG estuda essa possibilidade do Enem substituir o critério de seleção, mas com cautela. Temos aí 150 mil pessoas envolvidas; 30 mil candidatos com suas famílias, 150 mil pessoas de olho em qualquer mudança. Por melhor que seja a ideia de um processo unificado, ele deve ser perseguido de forma gradativa. Tenho um pouco de cautela com esse novo Enem, principalmente em um aspecto: o ensino superior público brasileiro passou por um processo forte de interiorização, quer dizer, hoje temos 55 universidades, quase todas têm mais de um campi no interior. Em Goiás, temos Catalão, Jataí e Goiás. Um vestibular único, em que o estudante se candidata a todas as universidades ao mesmo tempo, e como a gente tem um ensino médio desequilibrado no País, o que isso pode levar? A uma concentração de pessoas de uma determinada região, ocupando vagas por todo o Brasil. O que não é de todo ruim. Mas precisamos ter alguma salva-guarda para que as pessoas de um determinado local não se vejam frustradas definitivamente de ter acesso a uma universidade.
- Vagas
Nesse momento, estamos em processo de aumento no número de vagas em cursos de graduação. Na época da universidade entrar no projeto Reuni, tínhamos 15 mil estudantes. Chegaremos no final do processo Reuni com 25 mil alunos, ou seja, uma expansão de mais de 60%, quase 70% em vagas na graduação. A expansão está garantida, inclusive com cursos noturnos.
u Vestibular
O que se tem com relação ao ingresso na UFG são muitos mitos. Talvez nos cursos de alta demanda, realmente seja difícil entrar. São cursos que têm uma relação candidato/vaga muito elevada. Temos uns 10 a 12 cursos com a relação candidato/vaga alta. Mas temos opções de cursos da UFG com a relação candidato/vaga bem mais favorável ao ingresso. Há opções de cursos noturnos no interior, como Catalão, Jataí, Goiás. Está havendo uma ampliação significativa da oferta de vagas na UFG.
- Eleições
Participei de um processo há quatro anos e encaro da mesma forma que o processo anterior. Tirei férias oficiais da reitoria; o professor Bendito está no exercício. Dedico-me nesses 40 dias que antecedem a eleição, exclusivamente à campanha, visitas em salas de aulas, reuniões com professores, técnico-administrativos e estudantes. Queremos elaborar uma carta programa que reflita os anseios da comunidade como um todo.
- Chapa única
Muitos candidatos que poderiam concorrer. Há centenas de professores, pessoas habilitadas a exercer o cargo de reitor. Acredito que há uma avaliação da comunidade. Estamos no primeiro ano do Reuni, que ampliou 30 novos cursos, mais 25 novas turmas nos cursos já existentes, quase todos em horário noturno. O ano que vem é um ano de eleição presidencial. Poderíamos ter um novo reitor que encontraria uma situação de implantação dos novos cursos e, ao mesmo tempo, ele estaria tomando pé da engrenagem da universidade. Isso poderia trazer um momento de dificuldade na implementação da expansão. Acredito que há esse entendimento da necessidade de se continuar um trabalho que foi começado há quatro anos. Os quase mil professores que iremos contratar nesse período trarão um impacto grande, por exemplo, na pós-graduação e nascem propostas de novos mestrados e doutorados.
Chapa única é prejuízo
Candidatura única para reitor enfraquece o debate necessário na construção de um projeto de universidade. Esse é o entendimento do coordenador do DCE da UFG, Paulo Winícius Teixeira de Paula. Ele reconhece o avanço da atual reitoria, com sua posição aberta e apoio às ações do movimento estudantil organizado, além das iniciativas de criação dos cursos de Pedagogia da Terra e de Direito para beneficiários da reforma agrária na cidade de Goiás.
Porém discorda da atual reitoria, que não se posiciona quanto à presença da iniciativa privada dentro da UFG, como ocorre com os serviços de vigilância, transporte e de alimentação, que estão nas mãos de empresas privadas. “O DCE-UFG entende que é um prejuízo para a comunidade universitária chapa única.”
Negativo
“Não acho que seja positivo para a universidade disputa com chapa única”, afirma o primeiro-tesoureiro da Sindicato Regional do Planalto da Associação Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (SRP-Andes-SN), Wilson Mozena Leandro. Ele lembra que o mesmo processo ocorreu na eleição da Andes-SN, na eleição da Associação dos Docentes da Universidade Federal de Goiás (ADUFG) e, agora, na Reitoria. “Considero que uma eleição com mais de um candidato, em qualquer esfera da universidade, possibilita debate sobre temas importantes para a comunidade universitária e a sociedade.”
O professor universitário defende que um processo democrático existiu. Não houve conchavos e nem repressão a um possível movimento de oposição. Houve inclusive articulações para lançar uma oposição, porém não avançaram. Ele afirma que a imagem da atual gestão é muito positiva. “O atual reitor é trabalhador e comprometido com a universidade. Esperamos que, por outro lado, esse proceso desperte na comunidade universitária a necessidade de maior participação nas estâncias deliberativas da UFG.”