Baixo incentivo para jovens seguirem carreira
Jornal "O hoje" de 27/02/2011
Para a superintendente de programas educacionais especiais da Secretaria Estadual de Educação, Edvânia Rodrigues, faltam formas alternativas de capacitação constante dos profissionais, e a questão é nacional. “Existe a Plataforma Freire – ambiente virtual que possibilita a inscrição dos professores nos cursos do Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica –, que abre vagas em cursos nas universidades. Mas faltam inscrições para fechar turmas.”
As licenciaturas para capacitar os professores que estão em sala de aula existem tanto na forma presencial como também em cursos a distância. “A maioria dos 84% dos professores formados são frutos de esforço do governo, de programas e parcerias com as universidades, institutos federais”, explica a superintendente.
“Falta motivá-los a procurar a formação”, opina Edvânia sobre os profissionais que ainda não possuem formação adequada. Ela também acredita que a falta de professores para determinadas áreas do conhecimento é resultado do baixo incentivo para os jovens seguirem a profissão. “A figura do professor tem deixado de ter importância.”
Com 12 anos de sala de aula, o professor de biologia Osvaldo Rocha, de 32 anos, é formado, com licenciatura, e também possui pós-graduação. Ele faz parte dos 14,9 mil professores da rede estadual que possuem essa formação. “Eu acredito nessa profissão e procurei investir. Com a pós-graduação aumentou o meu salário e passei a dar menos aulas, o que possibilitou melhorá-las.”
LICENCIATURA
Coordenador dos cursos de licenciatura da Universidade Federal de Goiás (UFG), Francisco Luiz de Marchi alerta que diminuiu a procura por cursos de licenciatura – principalmente nas áreas de geografia, história, artes em geral e educação física – devido à desvalorização da carreira. Somente no último edital do Processo Seletivo 2011-1 para preenchimento de vagas disponíveis nos cursos de graduação da UFG, 903 eram de licenciatura.
“Os professores encontram múltiplos problemas, que têm acarretado uma carga desumana ao profissional, com um salário desumano e com um plano de carreira igual.” Para Francisco Luiz, isso gera um apagão, onde existe baixa procura e uma alta demanda por professores.
“O resultado do apagão são professores de matemática, geografia, que vão dar aula e precisam de carga horária e acabam assumindo outras disciplinas. Dá aula daquilo que não sabe por que tem de dobrar a carga para ganhar mais”, explica Luiz.
Além dos professores que não possuem formação superior, outro ponto que preocupa especialistas ouvidos pelo O HOJE é o caso de profissionais sem licenciatura nas salas de aula. “Odontólogo tem noções de biologia, mas não tem a didática. Tem de medir o conhecimento para que o aluno apreenda e saiba utilizar na vida”, diz o coordenador da UFG.
Para Luiz, fazer análise crítica, contextualizar, transmitir, ensinar e ressignificar o conhecimento é o papel do professor, e a licenciatura permite a realização desse trabalho. “Não é somente transmitir o conhecimento, para isso existe a TV, a internet e os outros meios de comunicação.”
Com duas graduações, uma em Pedagogia e outra em Matemática, especialização e pós-graduação, Celma Aparecida Marçal, de 55 anos, acredita que a diferença entre um profissional com licenciatura e outro sem é o preparo para o trabalho específico na sala de aula.
“A licenciatura te capacita. É essencial, tanto que o governo tem a preocupação com essa formação”, afirma a professora. No Colégio Estadual Santa Bernadete, onde Celma Marçal ministra aulas para a turma do 4º ano do ensino fundamental, todos os professores possuem licenciatura.