Cidade das oportunidades

Cidade das oportunidades


Goiânia é uma das cidades que mais se desenvolvem no país, apresentando uma série de oportunidades de emprego e de educação


Nesta segunda-feira, 24, Goiânia faz 78 anos. Já não é mais a criança inocente das primeiras décadas, quando era possível caminhar pela cidade despreocupadamente e quase todo mundo se conhecia. Hoje, a capital vive uma espécie de adolescência, entre o capricho de vislumbrar um futuro bom e o conflito diário do crescimento econômico e das necessidade de mais investimento em políticas públicas.
No entanto, vai-se o bucolismo e fica a força, a pujança de uma das capitais brasileiras que mais crescem e criam oportunidades de emprego, de estudo e de novas perspectivas. O quiproquó político, nesse boom de desenvolvimento pelo qual passa o estado inteiro e, principalmente sua capital, é a urgência que se tem de usar a riqueza da cidade para ganhar em mais igualdade social.
Com o agronegócio indo de vento em popa no estado, e vários setores da indústria, como a alimentícia e a farmoquímica, também crescendo, Goiânia se torna uma espécie de vitrine sócio-econômica. Segundo o economista Aurélio Troncoso, professor e pesquisador da Faculdade Alfa, a capital goiana é o grande polo para onde tudo se volta.
Troncoso afirma que as oportunidades vêm de muitos setores, mas principalmente da área de serviços. “Hoje, 60% do PIB [Produto Interno Bruto] estão concentrados nesse setor, que além de empregar muito, cada vez mais procura mão de obra qualificada. E quando não encontra o perfil que procura no mercado, qualifica o profissional”, diz.
Segundo o economista, que é coordenador do  Centro de Pes­quisas Mercadológicas da Fa­culdade Alves Faria (CEPEM-ALFA), o empresário goianiense está começando a criar a cultura de formar mão de obra qualificada. “Hoje em dia, há vários cursos de extensão oferecidos pelas universidades. Muitos contemplam a área de serviço.”
A Alfa é uma dessas instituições que focam o mercado. Mantém, inclusive, uma parceria com a Câmara de Dirigen­tes Lojistas de Goiânia (CDL), ministrando cursos de varejo, além de ter o Alfa Concursos, que especializa mão de obra, realizando cursos de extensão nas áreas Jurídica, Recursos Humanos, entre outras.
Mesmo para quem trabalha na zona rural, Goiânia é o celeiro mais próximo quando o assunto é reciclar os conhecimentos ou estudar mais. Segundo Troncoso, o estado está vivendo uma fase áurea, e a qualificação nunca foi tão exigida. “As oportunidades existem aos borbotões, na capital e no interior, mas é preciso que a pessoa se qualifica para ganhar a vaga”, diz.
Empregos
No caso dos trabalhadores do campo, até para a função de cortar cana a exigência é altíssima. Para colher tomate, tirar leite de vaca, tudo isso requer o domínio de tecnologias que a cada ano se sofistica mais um pouco. O corte de cana, por exemplo, será feito manualmente apenas até 2016.
Até lá, quem quiser continuar trabalhando no ramo terá de aprender informática e linguagens de computador, além de comandar máquinas supermodernas que vão cortar cana a partir de então. Em Goiânia, há cursos para todos essas especialidades do agronegócio,  um dos setores que mais arrecadam no estado.
O agronegócio, junto com a indústria e o setor de mineração são os grandes responsáveis pela oxigenação de Goiânia como cidade das oportunidades. Fazem au­mentar o volume de demanda no comércio, no serviço e até no lazer e no consumo de cultura.
De acordo com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), entre janeiro e setembro deste ano, foram registrados 100 mil empregos formais em Goiânia. Esse número pode ser maior, porque o Caged trabalha com um método diferente, contando as pessoas admitidas e subtraindo as demitidas, apresentando o saldo líquido dessa conta.
Mas, no mês, não conta o primeiro emprego nem a primeira contratação de uma em­presa que está abrindo s portas naquele momento. “Faz isso, em função do prazo de experiência, mas sabemos que a cidade está dinâmica na abertura de novas empresas”, diz Troncoso.
Essa fermentação no pulso da empregabilidade é reflexo direto no enriquecimento da cidade. Nos últimos dez anos, Goiânia deu um salto vertiginoso em seu PIB. Para se ter uma ideia, em 2003, a capital tinha um PIB de R$ 7,67 bilhões, número que dobrou até 2008, último dado estatístico apresentado pelo Instituto Brasi­leiro de Geografia e Estatística ( IBGE), chegando a  R$ 19,45 bilhões.
Tudo isso apresenta outro reflexo. As oportunidades deixam de existir só no campo do trabalho, especificamente, para abranger a educação também. A Universidade Federal de Goiás é uma das mais bem avaliadas no exame do Mini­stério da Educação. Seus cursos tradicionais tiram nota A, como Direito e Odontologia.
A Faculdade de Farmácia da UFG tem um dos laboratórios mais bem equipados do mundo para pesquisas na área de nanotecnologia. A Uni­versidade Católica, recentemente se tornou Pontifícia (2009) e também figura entre as grandes do país.
Políticas públicas
O problema mais grave, quando se olha e vê o desenvolvimento econômico da capital, é seu empacado quadro de investimentos em políticas públicas. A cidade tem graves problemas de desigualdade social, que cresce na mesma proporção dos prédios sofisticados em bairros nobres.
Segundo o coordenador do mestrado em Desenvolvi­mento e Planejamento Terri­torial da PUC-GO, Aristides Moysés, para ver que Goiânia é rica basta olhar a frota de veículos que a cidade possui e a qualidade de vida de algumas regiões. “Ao mesmo tempo, tem-se uma parcela da população que vive de forma muito diferente.”
O professor desenha o quadro de contrastes de forma bem simples. “Vindo de Anápolis para Goiânia, dá para visualizar as diferenças. Logo ali na famosa curva Alá Goiânia, de um lado, vemos o Vale dos Sonhos [pobre], e de outro, a Aldeia do Vale [condomínio fechado mega rico]. É o retrato típico da desigualdade”, diz.
Moysés lembra que o capitalismo funciona assim, pela lógica da exclusão. Quem tem de corrigir os rumos é a Estado [União, Unidade Federativa e Município]. Mas é aí que se instala o nó górdio. “Sempre que o Estado assume uma postura mais agressiva para erradicar a pobreza, entra em confronto com setores que vão ser penalizados por isso”, observa.
Enquanto não se resolve o problema da desigualdade social, a cidade continua crescendo e criando, paradoxalmente, oportunidades. É claro que muitos, por não terem acesso à educação de qualidade, nem aos serviços básicos da cidadania, acabam ficando de fora dessa avalanche.