A escalada dos genéricos
A escalada dos genéricos
Um dos responsáveis pelo crescimento da indústria farmacêutica em Goiás, os genéricos ganham investimento maciço das grandes empresas
Se a indústria farmacêutica cresce exponencialmente em Goiás, a maior responsável por isso, sem dúvida, é a produção de medicamentos genéricos, regulamentada e fortalecida no Brasil em 1999, com a promulgação da Lei 9.787.
Prova disso é que, até esse ano, existiam apenas oito unidades no estado. A Lei estimulou investimentos em novas empresas, na expansão das existentes, e hoje são 32 indústrias em Goiânia, Anápolis, Aparecida de Goiânia e São Luís de Montes Belos.
Já são 337 princípios ativos registrados na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), totalizando mais de 15.400 apresentações e aproximadamente 100 classes terapêuticas, princípios que englobam as patologias que mais acometem a população brasileira e grande parte das doenças crônicas de maior prevalência.
É necessário entender que eles são cópias de medicamentos cujas patentes expiraram, mas têm rigoroso controle de qualidade e só são aprovados se passarem por testes de bioequivalência em seres humanos e equivalência farmacêutica.
Segundo pesquisa da Associação Brasileira de Defesa do Consumidor (PROTESTE), 83% da população acredita que esse tipo de medicamento é tão eficaz quanto os de referência. Mas na região Centro-Oeste apenas 5,2% das pessoas consomem este tipo de medicamento, enquanto o número é de 62% na região Sudeste do país.
Segundo o diretor de marketing da Teuto, Ítalo Melo, o baixo consumo em algumas regiões do Brasil se deve à falta de informação sobre o produto. “Um fator que contribui para a desinformação é que muitas vezes medicamentos genéricos são confundidos com medicamentos similares.
Os remédios similares são cópias do original, mas não têm provas laboratoriais e nem pesquisas que comprovem a bioequivalência e a biodisponibilidade para que o produto seja rotulado como genérico.”
A Lei 9.789/99 prevê a identificação das embalagens dos genéricos com uma faixa colorida com a letra “G” e o nome do princípio ativo em vez do nome da marca. A troca dos remédios de referência por genéricos pode ser receitada por médicos ou mesmo farmacêuticos, com total segurança para o consumidor.
Somas
Mesmo com consumo ainda baixo, esse mercado cresceu 32,5% no primeiro semestre de 2011, o que contabiliza 264 milhões de unidades contra 199,2 milhões nos seis primeiros meses de 2010.
As vendas deram um salto de 39,2%. São R$3,8 bilhões nos seis primeiros meses do ano contra R$2,7 em igual período do ano passado, de acordo com balanço da Associação Brasileira das Indústrias de Medicamentos Genéricos (PróGenéricos).
Só no mês de agosto, segundo Pesquisa Industrial Mensal de Produção, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o setor farmacêutico teve crescimento acumulado de 2,4%.
Graças a incentivos e fomentos, a história dos genéricos no Brasil está atrelada ao crescimento da indústria farmacêutica no Estado de Goiás. A primeira empresa a investir no setor por aqui foi a Teuto, em Anápolis.
A empresa tem o maior parque fabril farmacêutico da América Latina, de 105 mil metros quadrados de área construída e fica Distrito Industrial de Anápolis (Daia). De acordo com Melo, houve um crescimento de 25% ao ano, nos últimos 3 anos. “Nos últimos 6 meses, o crescimento foi de 41%, comparado ao mesmo período ano passado.”
“Somos a primeira indústria de medicamentos genéricos e Medicamentos Isentos de Prescrição (MIP) do Brasil, com ISO 9000. São mais de 400 apresentações, entre genéricos, que representam 50%, MIP, linha hospitalar, genéricos de marcas, fitoterápicos, suplementos alimentares e cosméticos”, completa.
No final de 2010, a Teuto teve 40% das ações compradas pela Pfizer, que, segundo a Revista Exame, é a maior empresa do setor farmacêutico no mundo. Fato que contribuiu para o incremento da produção. A equipe do Teuto já distribui, até o momento, 15 medicamentos Pfizer, entre eles Ponstan (ácido mefenâmico), Mansil (oxamniquina) e a estrela Viagra (sildenafila).
Vitamina V
Com apresentação de um diamante na cor azul niágara, o viagra (citrato de sildenafila), usado contra disfunção erétil no homem, é pioneiro no tratamento desse mal e mudou a forma de encarar a sexualidade.
Inicialmente foi avaliado para o uso contra hipertensão (pressão alta) e angina (tipo de doença cardiovascular), mas logo foi observada a eficácia na indução de ereções penianas. A partir daí, a Pfizer decidiu comercializar o medicamento para esse fim.
A patente aconteceu em 1996 e foi aprovada pela Food and Drug Administration (FDA), nos Estados Unidos, em 1998. No ano seguinte, começou a ser comercializada e se tornou grande sucesso de vendas, excedendo, em dois anos, US$ 1 bilhão.
Embora haja obrigação de apresentação médica para a compra, é possível adquirir pela internet ou outros meios facilmente, sem a necessidade da mesma, o que traz um risco imenso para o usuário. De acordo com dados da IMS Health, só em 2009, foram comercializados 7 milhões de comprimidos.
No Brasil, a patente do medicamento expirou em 2010. Como medida para competir no mercado, a partir de junho último, a Pfizer diminuiu o valor do medicamento em 50% e ficou mais barato que a versão genérica. O valor agora custa, em média, R$ 15.
A produção total do setor, em Goiás, é de 166,12 milhões de unidades (caixas e vidros) de medicamentos similares e genéricos. Entre as cinco maiores indústrias farmacêuticas do país, duas são goianas: Neo Química (Hypermarcas) – terceira maior no ramo e nona em faturamento - e Teuto – quarto laboratório na produção e venda de genérico.
O caminho da roça do desenvolvimento
Existem em Goiás 22 faculdades de Farmácia em funcionamento, incluindo as instituições Estadual e Federal. Entre elas também podem ser citados os cursos da UNIP, em Goiânia, e UniEvangélica, em Anápolis. A informação é do presidente do Sindicato das Indústrias Farmacêuticas do Estado de Goiás (Sindifargo), Marçal Henrique Soares.
É importante ressaltar que, diferente de Engenharia e Física, o curso de Farmácia tem baixa taxa de evasão. De acordo com a diretora do curso de Farmácia na UFG, Eula Maria de Melo Barcelos, há uma taxa média de apenas 2% de alunos que desistem da faculdade.
Já o índice de empregabilidade é muito bom. “Os alunos ou terminam o curso já empregados ou demoram de seis meses a um ano para serem plenamente inseridos no mercado de trabalho”, conta Eula.
Para continuidade de qualificação, a universidade oferece cursos de pós-graduação, mestrado e doutorado em diversas relacionadas à farmácia, inclusive nanotecnologia. Apesar da grande quantidade de empresas, o número de vagas de estágio não é tão grandioso assim.
O consultor de estágio do Instituto Euvaldo Lodi (IEL), Alexsandre Borges, conta que a média é de apenas de seis a dez vagas mensais, anunciadas no site da empresa. As exigências para filtrar os candidatos são poucas. “Os empregadores pedem, no mínimo, a partir da metade do curso, 4° ou 5° período, e que o estudante cumpra 30 horas semanais”, acrescenta Alexsandre.
O futuro profissional farmacêutico tem possibilidades de atuar em mais de 70 áreas estabelecidas pelo Conselho Federal de Farmácia. Entre elas, é possível destacar drogarias, farmácias de manipulação, farmácias homeopáticas, farmácias hospitalares, indústria farmacêutica, vigilância sanitária estadual e federal, biotecnologia e cosmetologia, absorvendo grande parte dos profissionais colocados no mercado.