Seguranca Publica: uma visao a partir do filme Tropa de Elite 2

Portal do Ministério Público - 22/12/2010

Segurança Pública: uma visão a partir do filme 'Tropa de Elite 2'

Visto por mais de 11,2 milhões de pessoas e superado recordes de bilheteria do cinema brasileiro, o filme Tropa de Elite 2 foi exibido para cerca de 200 pessoas ontem (20/12), no Cine Lumière Bougainville, em sessão promovida pelo Ministério Público, por meio da Escola Superior (ESMP), com o apoio da Universidade Federal de Goiás (UFG) e do jornal O Popular. Após a sessão, foi realizado um debate, sobre o tema do filme sob o enfoque do regime democrático de direito e do sistema político brasileiro.

A abertura do debate foi feita pela diretora da ESMP, Alice de Almeida Freire, que enfatizou ser esta a segunda vez que a instituição promove debate sobre o tema segurança pública, a partir da exibição do longa. O primeiro debate ocorreu em novembro de 2007, quando do lançamento do primeiro filme. “Hoje nosso maior objetivo é promover o diálogo cívico com a sociedade, voltado à conscientização na busca de segurança e equilíbrio social”, afirmou.

A exposição inicial ficou a cargo de um dos roteiristas dos filmes Tropa de Elite 1 e 2, Rodrigo Pimentel. Além de ter participado das etapas de produção dos filmes, ele é ex-capitão do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) e, atualmente, é consultor de segurança pública e comentarista social. Segundo ele, o filme não traz novidades sobre como é a realidade no Rio de Janeiro. “A arte da dramatização somente simplifica e coloca de forma didática cenas do cotidiano”, definiu.

Detalhando o processo de roteirização, ele apontou que várias notícias divulgadas de forma dispersa nos jornais foram usadas para compor a história do segundo filme. A formação de milícias, assunto abordado no filme, segundo o roteirista, é um fenômeno recente e que ganha cada vez mais espaço em cidades brasileiras, não sendo restrito à capital carioca. “A milícia está presente em 200 favelas do Rio de Janeiro e já aparece em outras cidades”, afirmou.

Debatedores
Coordenando a fala dos debatedores, o crítico cinematográfico e professor da UFG Lisandro Nogueira passou a palavra ao cientista político, assessor técnico do Senado e professor do Instituto Legislativo Brasileiro Antônio Flávio Testa. Na visão do cientista político, o surgimento das milícias está estritamente ligado à lógica econômica de enriquecimento e à conquista de cargos políticos. Sobre a ocupação das favelas pelas Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), ele levantou o questionamento sobre quanto tempo o Estado vai conseguir se manter nos locais ocupados. “Para uma solução definitiva, seria necessário um pacto federal, em que todos os Estados se comprometessem com a segurança pública de forma sistêmica”, defendeu.

A editora chefe do jornal O Popular, Cileide Alves, apresentou números da violência no Estado e em Goiânia. Pesquisa recente que comparou dados de 1997 e 2007, indicam que Goiás, houve um acréscimo de 105% do número de homicídios. Além disso, Goiânia registrou crescimento de 165% de morte de jovens, um aumento desproporcional ao crescimento da população. “Estamos vivenciando uma verdadeira guerra silenciosa, que está matando nossos jovens”, afirmou a jornalista.

O procurador de Justiça de Goiás Edison Miguel da Silva Jr. definiu a produção cinematográfica como uma perigosa simplificação da realidade. “Para mim, filme é diversão e lazer, analisá-lo de forma aprofundada é sempre um exercício complicado”, destacou. Para o procurador, os aspectos que envolvem o tráfico são muito complexas e ramificadas, devendo ser levado em consideração que o que alimenta a violência dessa atividade é a ilegalidade.

O deputado estadual Mauro Rubem, presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa, apontou a violência e a disseminação do tráfico como sendo um dos resultados da falta de investimento dos Estados e municípios. “O filme mostra muito bem que no Brasil é resolvido na bala o que não foi possível fazer por meio de políticas públicas”, afirmou.

Público especializado
Procuradores, promotores de Justiça, servidores do MP, além de advogados, alunos e interessados no debate lotaram a sessão especial do filme. Também participaram do evento integrantes do Grupo Nacional de Efetivação do Controle Externo da Atividade Policial, que é vinculado ao Conselho Nacional de Procuradores-Gerais do Ministério Público dos Estados e da União (CNPG). O grupo tem como coordenadora a diretora da ESMP, Alice de Almeida Freire. (Texto: Cristina Rosa - fotos: João Sérgio /Assessoria de Comunicação Social do MP-GO)