A escalada química
A escalada química
Investimentos em incentivos para indústrias farmoquímicas põem Goiás no corredor dos grandes parques do setor, só perdendo para São Paulo
Goiás vem se tornando um gigante do setor farmoquímico, ganhando peso com a chegada anual de novas indústrias e a consolidação de grandes empreendimentos como a Teuto e a Neoquímica. Segundo o presidente do Sindicato das Indústrias Farmacêuticas do Estado de Goiás (Sindifargo), Marçal Henrique Soares, o estado já tem o segundo maior parque industrial do país, perdendo apenas para São Paulo.
Para se ter uma ideia da importância do setor no estado, a previsão é de que Goiás feche 2011 com a produção de 17 bilhões de comprimidos. “Fora todas as outras fórmulas farmacêuticas, como soro, cremes e pomadas, líquidos orais e líquidos injetáveis de pequeno volume, além de muitos outros produtos médico hospitalares”, diz Soares.
Pioneira da grande produção em solo goiano, a Teuto é uma das que ajudaram no desenvolvimento do setor. Foi criada em São Paulo, em 1947, mas, em 1986, um empresário de Goiás, Valterci de Melo, adquiriu o laboratório, trouxe-o para Anápolis e o transformou no maior parque fabril da América Latina (leia matéria na página 5).
Outro laboratório que se destaca, e que também tem sede em Anápolis, é a Neoquímica, que faz parte do complexo Hypermarcas. De acordo com diretor-financeiro de Relações com Investidores do grupo, Martim Marcos, 45% dos R$ 5 bilhões de faturamento anual da Hypermarcas vêm do segmento farmacêutico.
Essa consolidação é recente. Veio depois de todas as aquisições que foram realizadas nos últimos anos, com a abertura de capital. Marcos falou desses dados numa palestra de case de sucesso, em maio, em Goiânia. Segundo ele, 54% das ações da Hypermarcas estão nas mãos de investidores via Bovespa. “Hoje são negociados cerca de R$ 50 milhões a R$ 60 milhões diariamente na Bolsa”, diz.
Em alta
Atualmente, ninguém nega a importância e a força que a indústria farmacêutica tem no desenvolvimento econômico do estado. Nos últimos cinco anos, a média de crescimento anual da economia goiana chegou a 15%, tanto por meio das indústrias locais quanto pela entrada de novos investimentos e novas empresas.
Nos últimos dois anos, a produção se destacou, principalmente em função da queda de rendimento de outros estados. Mas, além disso, Goiás vem investindo bastante no setor industrial, e a indústria farmacêutica vem sabendo como tirar proveito dos incentivos.
Hoje em dia já existem 32 indústrias de medicamentos alopáticos, fitoterápicos e correlatos, assim como produtos médico hospitalares e duas em fase de instalação. Essas empresas estão principalmente em Anápolis, Aparecida de Goiânia, Goiânia e São Luís de Montes Belos e empregam 10.500 trabalhadores.
Em grande parte, esse crescimento vem dos incentivos fiscais do estado e a vantagem da posição geográfica, no centro do país, onde é possível escoar a produção uniformemente. Só em 2009, segundo dados da Secretaria de Estado de Gestão e Planejamento (Segplan), a produção de produtos farmoquímicos e farmacêuticos gerou receita de R$ 1.297.471 bilhão.
O setor sai ganhando, mas o estado também. Nona economia do Brasil, com um PIB (Produto Interno Bruto, 2008) oficial de R$ 75 bilhões, a meta é de superar os R$ 100 bilhões em 2012.
De acordo com o superintendente do Programa Fomentar/Produzir, Júlio Paschoal, o objetivo é fazer que o setor farmacêutico se torne a segunda maior indústria do Estado, atrás apenas do agronegócio. “Enquanto o agronegócio tem matéria-prima local, a indústria farmacêutica usa produtos que vêm de fora e local. Então não dá pra ultrapassar a grandiosidade do setor no nosso Estado.”
Incentivos
Para alavancar essa modalidade de negócios, o estado investe em incentivos para atrair as empresas de todas as partes do mundo. Desde grupos da Espanha, Índia, Estados Unidos, até gigantes nacionais são cativadas pelos programas Fomentar e Produzir do governo estadual.
Em 2001, foi criado o Instituto de Gestão Tecnológica Farmacêutica (IGTF), uma parceria entre a Secretaria de Ciência e Tecnologia (Sectec), as universidades Federal de Goiás (UFG) e Estadual de Goiás (UEG), centros de pesquisa, órgãos governamentais e não-governamentais e empresários.
O principal objetivo é promover a gestão de projetos de pesquisas, desenvolvimento e inovação tecnológica pelas empresas do Polo Farmacêutico do estado e tudo o que está relacionado, como a certificação de projetos.
O desenvolvimento da indústria farmacêutica em Goiás é um projeto antigo, e até o estado já investiu numa produção de economia mista.
Goiás é dono do Laboratório Farmacêutico do Estado de Goiás, ou simplesmente Iquego. Criado em 1962, pelo Governo Mauro Borges, com a Lei 4.207, só começou a operar dois anos depois, em janeiro de 1964.
A principal finalidade do Iquego era comercializar medicamentos abaixo do preço, mas com qualidade. Seu atual presidente é Olier Alves Vieira. A Tribuna o procurou várias vezes, mas não obteve resposta, para falar sobre a razão de o Iquego não crescer como as do setor privado, dentro de um cenário tão positivo para a indústria farmacêutica.
Empecilhos
De acordo com Marçal Henrique Soares, do Sindifargo, o Iquego não cresce por questões administrativas. “Acredito que ele deveria ter se concentrado em uma ou no máximo duas especialidades farmacêuticas e adotado uma estratégia de vender também em outros setores da economia que não somente os contratos com o Ministério da Saúde.”
Segundo Soares, outra questão fundamental da Indústria farmacêutica é que a mesma precisa de continuidade de produção devido aos altos custos fixos e custos de manutenção dos sistemas de ar e de água, que não podem ser desligados independentemente do volume da produção.
“Pelo faturamento anual da Iquego, versus suas complexas instalações, deduzimos que eles não têm uma produção contínua. Como comercializam sem lucro, suas receitas não pagam os custos fixos e nem os operacionais. A solução é ter capital de giro suficiente para operar a estrutura de forma contínua, ter mercado para os produtos e uma gestão voltada para eficiência e competitividade”, diz Soares.
No dia 2 de setembro deste ano, foi assinado um acordo de cooperação com a Cruz Vermelha Brasileira – organização humanitária internacional, sem fins lucrativos - para a gestão da Iquego. Serão investidos R$ 22 milhões e outros R$ 50 milhões em médio prazo, de acordo com a demanda da estatal.
A conquista da liderança
O laboratório Halex Istar é um dos mais importantes do país na produção de soro fisiológico. Por um bom tempo, a empresa dominou o mercado. Caiu de produção, mas agora está de volta, para retomar o posto de maior produtor de soluções parentais do Brasil.
Recentemente, o Halex Istar inaugurou uma nova unidade de fabricação de soro, com um investimento no valor de R$ 60 milhões. São R$ 40 milhões vindos do Fundo Constitucional do Centro-Oeste (FCO) e R$ 20 milhões de recursos próprios.
De acordo com o diretor-executivo da empresa, Zanone Alves de Carvalho Júnior, essa nova unidade aumentará em 6 milhões de unidades a produção mensal. “Nossa produção será completamente segura, totalmente sem contato das mãos dos funcionários, já que as novas máquinas fazem todo o trabalho.”
Além de fabricar o soro, as máquinas rotulam, envasam e fecham em um único processo. “Assim, seremos a maior empresa produtora de soluções parentais de grande volume do país”, conclui Carvalho Júnior.
Fusão
Primeira indústria de soluções parentais de grande volume em Goiás, o Halex Istar é uma fusão de duas empresas bem sucedias no segmento. Em 1959, foi fundada a indústria Química Istar. Já em 1967, foi fundada a Indústria Química Halex, com a produção de soluções parenterais também de pequeno volume.
Devido às semelhanças e interesses comuns, as empresas se fundiram em 1970, passando a se chamar Laboratório Halex Istar. Depois dessa fase, a empresa construiu a atual sede, às margens da BR-153, na saída de Goiânia para Anápolis e investiu na modernização da produção e tecnologias aplicadas.
Como recompensa pelas constantes inovações e investimentos em qualidade, em 2000, a empresa recebeu o certificado ISO 9001. Em 2009, a empresa recebeu o ISO 9001: 2008 e a Certificação da ISO 14001:2004. Fato que a coloca como primeira indústria farmacêutica de Goiás a ter o Sistema de Gestão Ambiental (SGA) – estrutura organizacional que permite a empresa avaliar e controlar os impactos ambientais de suas atividades.
A Halex Istar emprega hoje cerca de mil funcionários diretos e usa basicamente sal e água para a produção de soro, tendo como prioridade a melhoria na tecnologia das embalagens do produto.
Em 2003, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) determinou que os fabricantes de soro teriam cinco anos para a troca do sistema aberto para migrar ao sistema fechado. E atualmente a empresa é a única do mercado brasileiro a produzir a Blowpack – bolsa de polietileno para envase de soluções parenterais.
Antes disso, o carro-chefe era feito de PVC, a Istarbag, mas o mercado começou a apresentar restrições ao produto.