Goiânia beneficia crianças especiais
Goiânia beneficia crianças especiais
Ana Teodósia tem oito anos e nasceu com paralisia cerebral. Sua mãe, Maria Gisélia, sempre acompanha a filha aos hospitais para o tratamento. A gravidade da doença da criança e suas implicações fizeram com que a dona de casa priorizasse a saúde do corpo da filha, fragilizado pela falta de coordenação motora.
A atenção com os dentes de Ana Teodósio veio mais tarde. De acordo com Maria Gisélia, nem as clínicas odontológicas particulares ofereciam suporte para prestar atendimento adequado à sua filha. Ela reclama que os profissionais não estavam preparados para atender um paciente especial que, devido à paralisia, faz movimentos bruscos e involuntários.
Esta dificuldade, entretanto, está no passado. Nos últimos 38 meses, o setor de Saúde Bucal da Secretaria da Saúde de Goiânia (SB/SMS) implantou quatro Centros de Especialidades Odontológicas (CEOs), no qual os pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) são atendidos por especialistas em canal (endodontia), em cirurgia na gengiva (periodontia), em câncer bucal e em cirurgia intrabucal.
O diferencial dos CEOs está no fato de serem os únicos locais na rede pública de Goiânia a disponibilizar atendimento gratuito e especializado para os portadores de necessidades especiais (PNEs), sejam elas de locomoção, auditiva e mental.
Aliás, a diretora do Departamento de Saúde Bucal da SMS, Érika Soares Fernandes, 33 anos, faz questão de frisar que apenas os pacientes acamados, os que necessitam de centros cirúrgicos (anestesia geral) ou aqueles que apresentam mais de uma deficiência, após serem diagnosticados pelo CEO, são encaminhamento ao Hospital Geral de Goiânia (HGG).
Sensibilização
Os serviços, todavia, desenvolvidos pelo CEO ainda recebem desconfiança por grande parte dos cirurgiões-dentistas que atuam na Prefeitura de Goiânia. Para tanto, a Saúde Bucal realizou, ao longo do ano de 2010, ações de sensibilização da rede, para que os profissionais, lotados nos ambulatórios e centros de saúde convencionais, recebam os pacientes portadores de necessidades especiais. Seja ele cadeirante, usuário de drogas ou portador de transtornos mentais.
“Não podemos permitir que o especial seja rejeitado já na entrada do sistema”, adverte Erika Fernandes. Durante a anamnese (entrevista com uma série de perguntas sobre a vida do paciente e sobre os seus hábitos diários) e percebendo a impossibilidade de atendimento naquela unidade convencional, esses pacientes são encaminhados a um dos quatro Centro de Especialidade Odontológica (box abaixo).
No CEO, o paciente receberá atendimento personalizado. E se for o caso, será contido. Ou seja, um acolhimento que se tornaria dificultoso e até mesmo desastroso a um profissional que não é especializado na área.
Vale lembrar que todos os profissionais que estão atuando no CEO são discípulos da professora da Faculdade de Odontologia da UFG Cerise de Castro Campos. Doutorada em PNEs adultos e infanto-juvenil, ela é responsável pelo curso de extensão Gepeto, que é um projeto de ação social e prestação de serviços desenvolvido pela FO/UFG.
Protocolo
Mas quem são os especiais para a municipalidade? “Além dos que apresentam deficiência de locomoção, auditiva e mental, também, podem ser um hipertenso ou um diabético descompensados ou mesmo uma grávida com alterações sistêmicas”, identifica Érika Fernandes.
O CEO não é habilitado a fazer uso da anestesia geral. Tarefa pertinente apenas nos centros cirúrgicos do Hospital Geral de Goiânia (HGG), para os quais determinados pacientes são encaminhados. Nas unidades dos Centros Especializados são realizadas apenas sedações ambulatoriais. Para tanto, mantém-se uma parceria com o Núcleo de Sedação da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal (Neso/FO/UFG).
Mas não basta os pais chegarem com seus rebentos a um dos CEOs. O caso precisa ser encaminhado pelos centros de saúde e serem agendados junto ao serviço de assistência social. Aliás, ela é encarregada de conservar o vínculo entre paciente e serviço. A duração do tratamento depende de cada paciente e da demanda a ser tratada.