A tecnologia é o principal insumo

 

Estado de Goiás se mostra favorável ao avanço tecnológico e governos e empresas investem cada vez mais

Fernando Leite/Jornal Opção

 

Luciano Lacerda, diretor-executivo da empresa Totvs:
“Goiás não tem um polo tecnológico formalizado”

Luana Borges

 

No debate político eleitoral de 2010, alguns dos temas recorrentes foram a inclusão digital e o aumento, por meio do uso de tecnologias, da competitividade de empresas goianas e da agilidade e transparência dos órgãos públicos. Conforme a cartilha de governo do tucano Marconi Perillo, que acaba de tomar posse e iniciar um mandato no qual o discurso da pujança da modernidade reverbera, o setor de Tecnologia de Informação (TI) aparece como “premissa estratégica”. Entre suas propostas, está a implantação do Eixo de Desenvolvimento Tecnológico Goiânia-Anápolis, que prevê a criação de um polo de informática que atraia indústrias de softwares e empresas de TI para a região. Outra promessa, em muito priorizada por Marconi durante o pleito, é a de utilizar a tecnologia da informação para promover a eficácia da gestão estadual, desburocratizando e reduzindo os custos da máquina a partir do gerenciamento eletrônico dos documentos.

 

Contudo, a despeito da moda em se falar de TI (em voga entre políticos, empresários e qualquer pessoa que se pretenda moderna) ou para além dos projetos de um governo que por ora se inicia, é válido ressaltar que o setor já vem sendo um dos mais significativos em Goiás, com um volume de investimentos crescente. A avaliação é de empresários, professores da área, técnicos do governo e profissionais ligados a instituições de ciência e tecnologia. Para se ter uma ideia da expressividade da TI — ramo que desenvolve programas e infraestrutura tecnológica — basta dizer que, somente na seara governamental, os investimentos para a aquisição de softwares saltaram de R$ 5,3 milhões, em 2006, para R$ 19,86 milhões em 2009. 

 

Já os gastos com a internet —que também incluem telefonia — saltaram de R$ 16,54 em 2006 para R$ 45,7 milhões em 2009. “A internet corresponde a quase 30% desses custos, os outros 70% dizem respeito à telefonia. Mas agora vamos investir, por meio de um convênio com o governo federal, na utilização de uma rede de fibra óptica de alta velocidade, já instalada aqui pelo governo federal”, explica o gerente de Tecnologia de Informação da Secretaria de Ciência e Tecnologia do Estado (Sectec), Plínio Pierry Borges Mota. De acordo com ele, a proposta é de que 66 km de fibras interliguem todos os órgãos públicos de Goiânia, em um primeiro momento. Já a próxima etapa pretende expandir os serviços às entidades governamentais de outras 13 cidades, em um total de 614 km de fibras. “A projeção é de que, até 2012, a transmissão de dados públicos seja feita dessa maneira. A economia que teremos paga, em dois anos, o investimentos feitos em Goiás. Contudo, a rede do interior depende muito do apoio da Celg”, ressalta.

 

O gerente de TI da Sectec garante também que Goiás investiu na área recursos na ordem de R$ 27 milhões, só em 2010 (até o mês de novembro). “A verba vem do tesouro estadual e de parcerias com o governo federal, dentro do Programa Nacional de Modernização dos Órgãos Públicos a partir do uso de TI. Entretanto, de 2006 a 2008, esses programas eram restritos à Secretaria da Fazenda e à antiga Aganp. Em 2009, houve a expansão para todos os órgãos estaduais”, explica. O salto de investimentos é evidente. Conforme Plínio Mota, R$ 5,1 milhões e R$ 15,8 milhões foram aplicados dentro dos programas de modernização tecnológica das instituições estaduais, respectivamente, em 2008 e 2009.

 

E a expectativa é de que a efervescência do setor continue, em 2011, no mesmo patamar. Para tanto, duas conquistas do ano passado foram essenciais. No âmbito municipal, a Prefeitura de Goiânia acatou as propostas do segmento de TI relativas à Lei da Estação Digital. Já no que envolve a aliança entre instituições de pesquisa, governos e iniciativa privada, a implantação de um Parque Tecnológico na Universidade Federal de Goiás (UFG) começou a ganhar forma.

 

Quanto à lei, os empresários que lidam com a produção de softwares e hardwares pretendem ampliá-la. A legislação, aprovada em 2006 no governo de Iris Rezende, prevê incentivos fiscais relativos ao Imposto Sobre Serviços (ISS) de até 60%, além de reduções, de até 90%, concernentes ao Imposto Sobre Transmissão Intervivos (ISTI) e ao Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU). Contudo, os estímulos são voltados a empresas de TI instaladas no Entorno da cidade e na região da Estação Digital (área que compreende o centro de Goiânia). Conforme o segmento, a discrepância da tributação do ISS é alta, sendo que no entorno e no Centro as alíquotas chegam a 2% e, no restante do território, a 5%. E, justamente por isso, o setor reivindicou a mesma porcentagem de ISS para todas as áreas. Em tempos de pujança e crescimento da TI, a exigência foi acatada pela prefeitura. 

 

Outra reivindicação, também acatada, diz respeito ao fim da cumulatividade do ISS. O intuito é de que não haja bitributação naquelas operações em que as empresas de tecnologia terceirizem serviços. A medida, de acordo com o setor, seria primordial para o fortalecimento da cadeia produtiva.

 

Parque Tecnológico

 

A despeito de muitos dizerem da existência de polos tecnológicos, as terras goianas ainda não apresentam uma área onde exista completa convergência infraestrutural para o desenvolvimento de TI. De acordo com empresários do ramo, a estruturação de um polo vai além de um conglomerado de empresas em um só lugar, como ocorre na Cidade Empresarial, em Aparecida de Goiânia. “Goiás não tem um polo tecnológico formalizado, vez que, para isso, é necessária uma infraestrutura especial: um polo tem de estar ligado a uma instituição de ensino e tem de fornecer estrutura física e apoio logístico a empresas incubadoras que tanto motivam novas ideias e grandes negócios”, comenta o diretor-executivo da empresa Totvs, Luciano Lacerda. A corporação é a nona maior do mundo na área de desenvolvimento e comercialização de software de gestão empresarial, a primeira entre os países emergentes e tem uma de suas filiais mais atuantes em Aparecida. 

 

Segundo o diretor, salas de reuniões, salas de treinamentos e laboratórios para os recém-formados são primordiais. “Além dessa estruturação que preza instituições de ensino e incubadoras, é necessário ainda atrair firmas de níveis mundiais, para que elas venham e demandem, cada vez mais, mão de obra”, diz.

 

E para atender a essas exigências, a UFG iniciará, neste ano, a instalação de um parque tecnológico. O intuito é o de aliar, em processo de mútua colaboração, produção de conhecimento científico, incubadoras de empresas e empreendimentos já consagrados no mercado. Por meio de emenda parlamentar, R$ 4 milhões já foram liberados para implantar o primeiro projeto, uma obra que abrigará o Centro Regional de Tecnologia de Materiais para a Indústria. “Devemos iniciar essa edificação no início deste ano. Na sequência, temos a possibilidade de mais recursos, mais emendas, para que continuemos a construção do parque tecnológico”, pontua o reitor da UFG, Edward Madureira Brasil. Segundo ele, pelo perfil do Estado e pela competência instalada na UFG, a área terá vocação para atrair empresas do ramo de TI, de alimentação e de fármacos, além da indústria mineral e automobilística. “As instalações preveem espaços para conferências e galpões para empresas e serviços. Os projetos estão todos os prontos. Mas é importante considerar que o parque vai além da indústria de TI e abrange o desenvolvimento da cadeia produtiva como um todo, vez que propicia a relação entre empresa e universidade”, esclarece Edward.

 

São empresas como a Totvs, que cada vez mais necessitam (em decorrência do desenvolvimento acentuado do setor de TI) de mão de obra qualificada e de desenvolvimento científico. Justamente por isso, elas fazem exigências em prol de parques estruturados. Para se ter uma ideia do tamanho da demanda e do interesse em cooptar recém-formados, basta analisar a Totvs no mercado. A empresa fechou dezembro com a maior rentabilidade entre as companhias listadas na bolsa de valores. Segundo levantamento da agência Economática, os papéis da Totvs valorizaram-se 219% acima do Ibovespa até o dia 23 de dezembro de 2010.

 

Luciano Lacerda aponta também que, em níveis regionais, o crescimento da Totvs na área de TI foi maior em Goiás do que em Estados como Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro. “A empresa faturou, em 2009, R$ 1,08 bilhão. Em Goiás, as taxas de crescimento ficaram em torno de 35% ao ano”, pondera Lacerda. De acordo com ele, a unidade está em processo de expansão para cidades como Anápolis e Rio Verde.

 

Outra que apresenta bons resultados no Estado é a goiana Multidata Informática. Em terras tupiniquins, a empresa é a segunda no segmento de gestão corporativa e de resultados. Em seus 21 anos de atuação, angariou clientes de peso, como a mineradora Anglo American, o Senado Federal e o Tribunal de Justiça de Goiás. “Hoje nós temos 100 funcionários. Nossa matriz é em Aparecida de Goiânia. Mas temos filiais em Brasília e em São Paulo. Em 2010, a empresa cresceu 30%. Temos mantido essa taxa há cinco anos. Em 2011, o patamar será o mesmo”, comemora o diretor comercial, Diorgil Silva Júnior. A Multidata, assim como a Totvs, estuda expansões. Diorgil explica que possíveis representações serão abertas no Rio de Janeiro e em Recife.

 

A TI está em todos os setores”

 

Ao empresário, quando o assunto é incremento de competitividade e melhoria dos lucros, não há economia de esforços.  E, para aqueles que vendem tecnologia da informação, nenhum setor da economia parece prescindir da TI. Ora, em todas as searas, são bem-vindos softwares capazes de indicar os níveis de produtividade, ou capazes de programar a data de uma plantação (para o agronegócio), ou ainda adequados para apurar os custos, verificar os níveis de risco dos investimentos ou promover a automação fiscal. “A TI virou área do conhecimento e o seu desenvolvimento é inerente à sociedade moderna e ao futuro das formas de se fazer negócio e viver em sociedade. Em Goiás, vivemos um desenvolvimento transversal dos setores. Aqui há destaques, no uso de TI, para a indústria farmoquímica, o agronegócio, o segmento têxtil e outros”, pondera o vice-presidente da Comunidade Tecnológica de Goiás (Comtec), Carlos Antônio Barbosa.

 

Segundo Barbosa, o avanço da computação traz, para além da eficiência nos processos produtivos, segurança nos resultados e menor produção de resíduos, fazendo com que a atividade (seja industrial, agropecuária ou ligada ao varejo) se torne mais limpa. A professora Alessandra Garcia, coordenadora do curso de Gestão de Tecnologia de Informação da Faculdade Cambury, também endossa a abrangência do setor. “A TI está em todos os setores. Quem a valoriza sai na frente”.

 

Mais uma gigante 

 

Alessandra alerta também para a possibilidade de vinda da fábrica da IBM para Goiás.  Segundo ela, a Cambury fechou uma parceria, com perspectivas de se iniciar já neste ano, com a empresa no sentido de promover a qualificação dos profissionais do ramo. “A IBM é a maior produtora de hardwares e softwares no Brasil e vai proporcionar cursos de capacitação aos nossos professores. Os grandes centros tecnológicos estão migrando para Goiânia em decorrência de nossa mão de obra mais barata”, pondera a professora.  

 

A Capital está entre as 20 cidades escolhidas pela empresa de softwares, que identificou aqui — e em cidades como Vitória, Belém, Cuiabá e Caxias do Sul — um potencial de ampliação de mercado que seria de 54% nos próximos anos. No cerrado, a IBM teria mapeado demandas específicas, em especial aquelas referentes ao setor de logística para a indústria farmacêutica e à seara de rastreamento de animais.