Como e porque foi deposto Mauro Borges
[UFG] Como e porque foi deposto Mauro Borges (XXXIII) - O governador e a subversão na UFG (DM Online, 07/01/11)
O relatório com o qual o general Riograndino Kruel produziu o que os inimigos políticos de Mauro Borges queriam para oferecer ao presidente da República (marechal Humberto de Alencar Castelo Branco) e ao Comando Revolucionário o pretexto de justificar a intervenção federal em Goiás é bisonhamente repetitivo. Reitera com frequência serem o Cerne (órgão a que pertenciam a Rádio Brasil Central e o Diário de Goiás), a Metago, seu escritório no Rio e sua subordinada Grafisa; a Universidade Federal de Goiás (UFG), que os militares golpistas procuram apresentar com “infestada de comunistas”; a União Estadual dos Estudantes (UNE) – por meio de ligações com o governo Mauro Borges; os responsáveis por atividades guerrilheiras em Dianópolis; os poloneses mencionados em alguns artigos desta série e outros elementos em relação aos quais nenhum fato concreto é referido, o que de resto se pode dizer quanto a todos que figuram no IPM, os instrumentos da “ação subversiva” do governo goiano, que a UDN goiana e a UDN nacional se empenham por derrubar (o golpe de 64 foi a oportunidade única de elevar a UDN ao poder, depois do fiasco que foi a ascensão de Jânio Quadros, que renunciou após sete meses de governo).
Sobre “subversão na Universidade Federal de Goiás, destaquemos esses tópicos do Riograndino:
“A situação do ensino estadual, em todos os seus ramos, era progressiva comunização, destacando-se a utilização intensiva do método de conscientização e alfabetização Paulo Freire. Na área federal, dentro do mesmo programa, constata-se a designação de comunistas notórios para a direção e corpo docente da Universidade Federal de Goiás. Equipes de professores comunistas dedicavam-se à realização de conferências em todo o interior do Estado. A fim de assegurar a mais íntima ligação entre a UFG e o governo do Estado, vários postos da administração eram preenchidos por elementos da mesma Universidade.” (Registre-se aqui que nenhum nome é mencionado por Riograndino e muito menos feita qualquer indicação para caracterizar ideologicamente as “equipes de professores. O general subestima a inteligência alheia ao se contentar com os adjetivos usados por ele próprio. Acontecia que não havia inteligência nenhuma a convencer, o que Riograndino dizia obviamente correspondia aos desígnios dos golpistas).
Continua o general: “A ação subversiva no Estado de Goiás estava montada sobre dois centros de irradiação ou foco de subversão: o governo do Estado e a Universidade Federal de Goiás. Havia entre eles uma íntima ligação, como comprova o fato do governo estadual trazer para a administração pública lideres estudantis mais expressivos, que se destacaram na sua ação subversiva e inteligência e a intervenção nos meios universitários, de líderes de esquerda, em defesa dos interesses políticos do governador Mauro Borges.
“A Universidade Federal de Goiás tomou para si a tarefa de formar os líderes revolucionários, através de um pequeno “ISEB” (Riograndino se refere ao Instituto de Estudos Brasileiros, federal, sediado no Rio de Janeiro), o Centro de Estudos Brasileiros, que doutrinava os jovens e os formava aptos à ação subversiva. (Esclarecimento do articulista: esse Centro era dirigido pelo professor Gilberto Mendonça Teles, que nunca foi intelectual de esquerda). Sentindo que a frequência ao Centro era pequena (10 a 15 alunos e circunscrita à Capital do Estado, foram organizados os chamados Cursos de Realidades Brasileiras, sob o patrocíncio do Departamento Cultural da UFG, que expedia os diplomas, e orientado por uma equipe de professores comunistas que adquiria experiência através de atuação pessoal no Centro de Estudos Brasileiros. O curso era constituído de um pequeno número de conferências, habilmente selecionadas e estava em condições de ser desencadeado, a pedido, em qualquer ponto do território goiano, sempre ministrado por comunistas notórios.
“Para caracterizar a posição ideológica do sr. Mauro Borges, seria necessário fazer um exame do quadro moral e subversivo do Estado de Goiás. A ação se desenvolvia, partindo de dois principais centros: o governo do Estado e a Universidade Federal. Havia entre ambos um estreito entrelaçamento. Em sua maioria, aqueles que se destacavam na ação subversiva na área da Universidade eram convidados a prestar sua colaboração ao governo do Estado e vice-versa.”
Vem em seguida a relação dos professores da UFG a serviço do governo Mauro Borges: padre Ruy Rodrigues da Silva, Eveline Paper Singer, Eleuse Soares Machado, Simon Kosobutsky, Rodolfo José da Costa e Silva, Paulo Emílio Fogaça Neto e João Cesar Pieroibom, este servindo à Civat. (Comissão Interestadual dos Vales Araguaia e Tocantins).
(Eurico Barbosa. Escritor, membro da AGL
e da Associação Nacional de Escritores, advogado, jornalista e escreve neste jornal às terças & sextas-feiras eurico_barbosa@hotmail.com)
Eurico Barbosa
Especial para Diário da Manhã