A maior culpada não é a chuva

A falta de manutenção ao longo dos anos é a maior responsável pela situação de calamidade das rodovias goianas, agravada severamente neste período de chuva. A avaliação é de especialistas ouvidos pelo POPULAR, que apontam também erros de projetos na execução das pistas. A Agência Goiana de Tranportes e Obras Públicas (Agetop) estima que a recuperação total das rodovias estaduais custaria cerca de R$ 1 bilhão.
Sem os cuidados estruturais periódicos, os problemas ficam mais evidentes na temporada de chuvas, como os ocorridos nos últimos dias em vários trechos. O investimento em preservação da malha viária no ano passado foi de R$ 78 milhões, valor correspondente a 43% do necessário. Em média, as vias pavimentadas devem ser submetidas a processo de manutenção depois de cinco anos que foram concluídas, o que historicamente deixou de ser feito.
Construído para durar entre 10 e 15 anos, o asfalto é a camada superficial do pavimento, que oxida e apresenta trincados com o passar do tempo. Geralmente, as fissuras começam a aparecer após o quinto ano de uso da rodovia, momento em que o serviço de preservação das vias deve agir. O problema é que a manutenção é apenas corretiva, e não preventiva. Foi o que aconteceu com 76% das rodovias goianas, que possuem mais de 16 anos.
Pesquisadora em Geotecnia da Universidade Federal de Goiás (UFG), a professora Lilian Rezende explica que sem o recapeamento das rodovias no prazo adequado, os trincados e buracos favorecem a infiltração de água. A consequência é o comprometimento da base estrutural da obra (veja quadro), já afetada pela variação de temperatura, que provoca rachaduras. "As chuvas têm influência nas rodovias, mas a situação se agrava quando as águas penetram no pavimento", disse.
No Estado existem 13,8 mil quilômetros de rodovias asfaltadas, sendo que 10,5 mil quilômetros são estaduais. De acordo um engenheiro da Agetop, que preferiu não ser identificado, Goiás tem quantidade de asfalto maior que sua capacidade de manutenção, pois o investimento é alto. Custa entre R$ 70 mil e R$ 100 mil por quilômetro. "O Estado não tem arrecadação para isso. Para piorar, os governos preferem asfaltar novas estradas do que dar tratamento adequado às já existentes, porque rende dividendos políticos", afirmou.
Terceirização
O engenheiro argumentou que uma medida importante para preservar as rodovias foi a terceirização da manutenção. "Melhorou a prestação de serviço, mas essa forma de gerir não combina com falta de pagamento", revelou. Na quarta-feira o presidente da Agetop se reuniu com donos de empreiteiras que prestam serviço ao governo. A principal reclamação das empresas foi de inadimplência.

A falta de cuidados e de política eficiente na preservação resultou em rodovias que precisam de intervenções que vão além do simples recapeamento. A situação atual exige restauração das estruturas, que estão comprometidas. Segundo o engenheiro, a saída é usar a camada de asfalto existente como base para construção de uma nova rodovia. Para cada quilômetro restaurado, o investimento é de R$ 1 milhão. A Agetop prepara um diagnóstico completo sobre as rodovias para ser apresentado dentro de dez dias. O documento deverá conter a situação atualizada de cada via. A partir do estudo, serão criadas estratégias de recuperação.
A idade é mais um elemento que dificulta a recuperação das rodovias estaduais, uma vez que os cálculos das obras são definidos a partir da expectativa de demanda. Com o desenvolvimento econômico, rodovias que foram projetadas para determinado tráfego ficaram obsoletas devido à utilização por caminhões que transportam cargas pesadas.
A GO-174, por exemplo, foi construída há 28 anos para ligar Rio Verde ao antigo distrito de Montividiu, hoje município emancipado. Na época, não dava para prever o tráfego atual. "Seria rasgar dinheiro investir mais do que foi feito para fazer essa rodovia, pois não tinha fluxo pesado", analisa o engenheiro.