Câncer mais do que dobra em 6 anos
Flávia Moreno
Levantamento feito pelo o coordenador do Programa de Mastologia da Universidade Federal de Goiás (UFG), Ruffo de Freitas, entre 2003 e 2008, mostrou que os casos de câncer de mama mais do que dobraram na capital, e em todas as faixas etárias. Ele analisou dados do Registro de Câncer de Base Populacional de Goiânia.
Nas mulheres mais jovens, entre 20 a 29 anos, o crescimento no período de seis anos foi de 134%; entre 30 e 39, 104%; entre 40 e 49, 127%; entre 50 e 59 anos, e 277%. O pesquisador divulgou também o crescimento da taxa anual: de 20 a 49 anos, 4,8%; de 50 e 59 anos, 6,3%; de 60 e 69 anos, 5,8%.
Os dados refletem, segundo o coordenador, a realidade não apenas de Goiânia, mas também dos demais grandes centros urbanos brasileiros. O Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp), por exemplo, levantou o perfil das mulheres que passaram pelo hospital para tratamento de câncer de mama e verificou que entre as 2.573 pacientes atendidas em três anos, 15% têm menos de 45 anos.
Nas pesquisas, observa-se que o aumento tem ocorrido em todas as faixas etárias, e para Ruffo, este crescimento é consequência do estilo de vida atual. “Nas mulheres mais jovens, hábitos alimentares, ingestão de bebida alcoólica, consumo de cigarro, aumento de peso e sedentarismo podem estimular a doença precocemente. Já nas mulheres que estão na menopausa, além dos mesmos fatores que interferem na saúde das jovens, reposição hormonal e melhoria da saúde pública, que propiciou a realização de mais mamografias, elevando assim o número de diagnósticos.”
A empresária Valéria Passos, 43 anos, descobriu que estava com câncer de mama por meio do auto exame. Em janeiro de 2009 ela fez exames para verificar se havia ou não o problema, mas não deu nada. Porém, em outubro refez os exames que novamente deram negativo. “Não acreditei no laudo e procurei um especialista, que através de autopsia detectou realmente o câncer.”
Quinze dias após o diagnóstico, Valéria retirou um quadrante da mama e até então já fez 30 sessões de radioterapia e está na décima de quimioterapia. “Tenho 95% de chance de cura e já me sinto curada. Hoje penso mais em mim e não tenho pressa de ser feliz, na minha vida não teve revolta. Estou melhor”, revela ela, que sempre teve hábitos saudáveis como praticar atividades físicas, não ingerir bebida alcoólica e fumar. “Acredito que o meu caso tenha sido genético, pois tenho pessoas na família que já tiveram câncer de mama.”
Para a empresária, a prevenção e as campanhas de conscientização são essenciais para diminuir os casos desse tipo de câncer. “Tem que prevenir, e as campanhas são muito importantes, pois tem pessoas totalmente leigas.” Ela relata que escutou de uma senhora de 65 anos que não fazia o autoexame porque não era casada, sendo assim não era necessário.
Sabendo da importância do diagnóstico precoce, ela alerta as jovens. “Tenho uma amiga que fiz nas sessões de quimio que descobriu que estava com câncer com 25 anos, ou seja, não são mais só as mulheres com mais de 40 anos que têm a doença. Por isso é importante ficar atento.”
PREVENÇÃO
Segundo o oncologista do Setor de Ginecologia e Mama do Hospital Araújo Jorge, Rubens José, “há 20 anos as mulheres menstruavam mais cedo, se casavam logo e tinha filhos. Agora, elas passaram a tomar contraceptivos para tem filhos após os 30, reduziram a amamentação e fazem reposição hormonal, o que contribui para o aparecimento do câncer”. Além disso, ele também destaca que a entrada no mercado de trabalho deixou a mulher mais predisposta a sofrer de estresse e depressão fator que contribuiu para a diminuição da imunidade e favorece o câncer.
Sem ter como mudar a realidade dos dias atuais, em que o relógio corre contra o tempo, o mais adequado para prevenir o câncer de mama, de acordo com o oncologista, é praticar atividade física diariamente, controlar o peso e manter hábitos saudáveis.
Para as mulheres que estão chegando à menopausa ou que já estão neste estágio, o coordenador do Programa de Mastologia da UFG alerta que “a reposição hormonal deve ser acompanhada por um profissional e ser feita pelo menor período possível, evitando uma exposição muito prolongada ao hormônio feminino”.