O futuro cada vez mais rápido

 

Gilberto G. Pereira


 

Jovens empresários podem perceber tendências mais rapidamente e não ter medo de investir nelas

Os jovens empreendedores de hoje sabem planejar melhor seus negócios do que seus pares do passado. Por isso mesmo estão mais ousados, e num átimo dão lances incríveis que alavancam uma empresa que nasceu do nada a patamares nunca antes imaginados. Exemplo disso são marcas como Youtube, Google e o recente Face Book, criadas por jovens de espinhas no rosto e uma playboy na mão.
Numa realidade um pouco menor do que as dos criadores de bilhões, em Goiás também há uma trupe que está dando seus primeiros passos em arrojados investimentos de massa cinzenta e tempo. É o caso dos sócios Rodson Júnior (26 anos) e Rubens Ribas (26), que há cinco anos criaram a Domon, empresa de automação residencial, e agora colhem os primeiros frutos.
Eles começaram a empresa com um capital de R$ 20 mil. A exemplo das irmãs Bretas (leia mais na página 3), tomaram dinheiro emprestado dos pais e entraram num negócio ainda na alvorada dos 20 anos apenas com a convicção juvenil de que aquilo daria certo. E deu. Mas houve momentos em que pensaram decretar falência e pedir asilo na casa dos velhos genitores.

Recursos
Antes de chegar a um faturamento anual de mais de R$ 1 milhão, a empresa dos dois dançou em pista escorregadia. Isso porque o setor que escolheram para atuar é tão seleto que em Goiás só estão eles, nadando de braçada no largo lado de oportunidades que vislumbraram na época de faculdade. Eles trabalham com engenharia robótica.
Domon, palavra grega que quer dizer ‘casa’, faz projetos de solução inteligente para residências, controlando vários sistemas articulados através de interfaces distribuídas pelo espaço físico da casa. “O controle pode ser feito por uma pequena plataforma [tablet] fixa ou móvel.”
São recursos de iluminação, som, vídeo, câmeras e de motores (para abrir persianas, portas e outros tipos de janelas), motor de piscina, ar condicionado, que podem ser manipulados a partir de um controle acionado no tablet. “Isso facilita a vida do usuário”, diz Júnior, que atendeu à Tribuna do Planalto no Show Room da loja, no Alpha Mall, pequena galeria de lojas ao lado do condomínio fechado de alto padrão Alphaville.
O sistema inteiro é conectado à internet e o usuário pode manusear todos os equipamentos instalados em sua casa de qualquer distância do planeta, desde que haja sinal para internet. Ele pode inclusive vigiar todas as dependências com a instalação de câmeras. O preço, no entanto, é para quem realmente pode, ou seja, as classes A e, no nível mais arriscado do despenhadeiro, B. O valor do serviço, segundo Júnior, varia de R$ 15 mil a R$ 300 mil.
Foi aí que morou o problema durante algum tempo. Jovens, com mil ideias na cabeça, pouco dinheiro para investimento e precisando de retorno rápido, os ousados empreendedores se viram diante da tempestade da crise internacional, entre 2008 e 2009, e passaram apertado. Uma crise é sempre combatida primeiramente com o corte de coisas consideradas supérfluas.

Aperto
Mesmo entre os ricos, uma casa inteligente é supérflua? Sim. Principalmente porque sua inteligência não ajuda a tirar ninguém da crise, pelo contrário, contribui para uma viagem mais rápida ao fundo do poço. Júnior, claro, não concorda com isso.
Segundo ele, a automação residencial oferece uma série de benefícios, como segurança, comodidade e até economia de energia, além do status. Seus clientes têm dinheiro para bancar projetos assim, mas em 2009, a procura recuou. “Sofremos com isso e chegamos realmente a pensar em parar com o negócio. Mas hoje está tudo bem”, avalia.
Ao todo, a Domon já desenvolveu mais de 30 projetos, muitos deles nos últimos 12 meses. A perspectiva cambiou de lado, e hoje os jovens empreendedores sabem que acertaram na escolha de mercado que fizeram. “Atuamos em Goiânia, e no dia 15 de fevereiro vamos inaugurar nossa primeira loja em Brasília”, comenta. Eles também querem conquistar o mercado de Palmas.

Solução
A ousadia dos dois teve um preço, segundo Júnior. Para ele, a pressão foi grande e amadureceu praticamente à força. “Com a idade que eu tinha na época (22 anos), se fosse hoje pensaria em primeiro ir para uma empresa trabalhar como empregado” pondera o forte empresário. “Poderia ter alcançado isso sem passar pelo que passei.”
Júnior passou pelo quê? Pelas intempéries da vida, pela pressão de cumprir com seus compromissos de homem de negócios, de ter de desenvolver as soluções prometidas no prazo certo. Mas ele não veio do nada. Estudou engenharia elétrica na Universidade Federal de Goiás e fez pós-graduação em automação e controle, em São Paulo.
Seu sócio, Ribas, também estudou engenharia na UFG e faz uma pós-graduação em gestão empresarial. Os dois também passaram pela Empresa Júnior da UFG, que estava no começo de suas atividades e não ajudou em muita coisa, segundo ele. Também passaram pela Inove, do atual Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás (IFG).
O baixo aproveitamento dessas escolas para o seu caso específico, segundo Júnior, se deve ao fato de elas terem um modelo de gestão tradicional, enquanto eles trabalham com um formato que acaba de chegar ao Brasil, e principalmente em Goiás. “Eles trabalham com serviço e produto. Nós trabalhamos com solução. Esse foi o problema”, avalia.
Agora, para o futuro, o que eles esperam é expandir. E já estão fazendo isso, porque, se há uma coisa que esses jovens empreendedores sabem é que o futuro chega cada vez mais rápido.

Eles se articulam mais e melhor
Não se sabe se foram ajudados pelo famoso slogan de uma badalada rede de televisão, “o futuro já começou”, mas para os jovens empresários é a primeira coisa que aprendem. De acordo com o presidente eleito da Confederação Nacional dos Jovens Empresários (Conaje), Marduk Duarte (33 anos), o que chama a atenção nos empreendimentos tocados pela juventude, além da ousadia, capacidade de planejar riscos, é sua disposição ao associativismo.
“Isso é muito importante para fortalecer a classe”, diz Duarte, que é sócio-fundador da Mata Florestal, empresa que trabalha com eucalipto tratado para madeiras, e é um dos diretores da companhia do pai. “A união do empreendedor jovem é um dos aspectos que a gente entende como importante”, pondera.
A julgar pela criação das diversas faces dos movimentos associativistas entre os jovens empresários no Brasil, essa união é recente e poderá render bons frutos. A Conaje, por exemplo, tem 12 anos de existência e conta com 34 mil associados em 24 Estados da Federação e em Brasília. Só não está presente no Acre e no Amapá.
Santa Catarina é o Estado mais representativo, e uma grande inspiração para os líderes de Goiás. Lá existem 53 Associações de Jovens Empresários (AJEs), muitas delas há mais de dez anos na ativa. Segundo Duarte, que é formado em direito, com MBA (Master of Business Administration) em direito empresarial, a importância do associativismo é a capacidade de articulação.
A Conaje, diz ele, trabalha a questão da educação empreendedora, além da capacitação, do relacionamento e da representatividade. A confederação atua na educação empreendedora, passando pela questão de pesquisa e inovação e chegando à questão política. “Temos o núcleo de atuação política. Estaremos no Congresso Nacional, cobrando, apresentando projetos de lei, brigando, questionando”, diz.

Sucessão
Em Goiás, o foco da entidade classista regional é ampliar para o interior. Duarte era presidente da AJE, cargo que repassa para o presidente eleito Rafael Lousa (32). Segundo Lousa, hoje o jovem consegue pensar uma empresa melhor, fazer um bom planejamento, porque também tem muito mais acesso á informação.
Segundo ele, o Brasil atual dá mais oportunidades. “Mas há também os estereótipos. Há casos relâmpagos de ascensão, e você cria uma esperança muito grande em cima disso”, diz ele, se lembrando justamente de Mark Zuckerberg o mais recente nerd norte-americano bilionário, criador do Face Book.
Recentemente a ferramenta de Zuckerberg amealhou um investimento de mais de U$ 500 milhões, o que elevou o valor da empresa para U$ 50 bilhões (mais valorizada do que gigantes da comunicação como a Time Warner e o Yahoo). Zuckerberg foi capa da prestigiada revista Time como “Personalidade do Ano”, além de ter sido retratado no cinema pelo filme Redes Sociais. E ele só tem 26 anos.
Na opinião de Lousa, casos como esse servem de espora para o empreendedorismo. Mas são acontecimentos que não giram na órbita da normalidade. O comum mesmo é o trabalho diuturno e o planejamento meta por meta. Lousa vai tomar posse de seu cargo de presidente da AJE no dia 21 de fevereiro, no Centro Cultural Oscar Niemeyer, com a presença do governador Marconi Perillo.

Associação
Formado em sociologia pela Universidade Federal de Goiás e em direito pela Universidade Paulista (Unip), Lousa assume seu primeiro cargo executivo de uma entidade classista. Desde a faculdade atua como empresário no ramo de equipamentos em segurança do trabalho, e recentemente montou a Valor Assessoria, empresa de consultoria financeira e jurídica.
A AJE tem hoje 2.400 associados, que recebem serviços gratuitamente da entidade. Segundo Lousa, a associação trabalha em cima de três pilares: Representatividade, Capacitação e Relacionamento. Para cada um desses pilares, há uma atividade regular, como o Café Político, em que um político convidado faz uma conferência aberta ao público num local organizado pela AJE.
Os interessados em conhecer o trabalho da entidade podem acessar o site www.ajegoias.com.br. O cadastro é gratuito, sem taxa de inscrição ou de manutenção.